Vamos jogar aos Países Baixos, vamos homenagear Max Verstappen, mostrando o quão importante a aderência ao piso pode ser. Parece um bom plano, certo?
Talvez tenha sido esta a linha de raciocínio a presidir à preparação que o Sporting fez para jogar contra o PSV. Numa noite de escorregadelas e tropeções, em que estar de pé já era uma vitória para os futebolistas leoninos, num encontro em que se viu Gyökeres mais vezes a tentar tocar na bola estando no chão do que em pé, numa partida que foi má publicidade para as chuteiras usados pelos campeões nacionais, o empate (1-1) foi um mal menor para os lisboetas.
O Sporting escorregou do princípio ao fim do desafio. Escorregou nas pernas de Geny Catamo, peixe fora de água na esquerda do ataque, e nas de Eduardo Quaresma, que desperdiçou uma soberana oportunidade para o 1-1, resvalando quando só tinha o guarda-redes pela frente.
Rúben Amorim pedira uma equipa de nível superior e, francamente, não a teve. Nenhum remate à baliza nos primeiros 80 minutos, dificuldades na ligação. Ah, e escorregadelas, caso ainda não tenham sido mencionados.
Contra o Philips Sport Vereniging (PSV), clube fundado em 1913 para que os trabalhadores da Phillips pudessem praticar atividade física, os suplentes melhoraram a exibição leonina. Acima de todos ergueu-se Daniel Bragança, a luz entre a escuridão do Sporting. Depois de contribuir para dar alguma fluidez à posse de bola, o canhoto foi à área empatar aos 84'.
Honra seja feita ao Sporting, o plano de homenagear Verstappen foi claro desde o começo. Escorregadela e escorregadela, dificuldades em ligar jogo. O PSV pressionava, tapando o corredor central, e os verde e brancos não conseguiam sair. A instabilidade dos centrais na circulação era o produto desses problemas na construção.
Um mau passe de Inácio deu a Til a oportunidade de fazer o primeiro remate à baliza do encontro, isto enquanto Debast parecia apostado em realizar uma espécie de teste: ver quantas vezes era preciso passar para Catamo, estando o moçambicano pressionado e de costas no meio-campo do Sporting, até chegar à conclusão de que essa não era uma boa opção.
A experiência levou ao 1-0, quando o belga, com tempo para tomar outra decisão, fez um passe para a zona central, onde Jerdy Schouten se antecipou a Geny e fez um belo remate cruzado, batendo Israel. Fim à série de seis encontros seguidos sem sofrer golos para a equipa de Rúben Amorim, ainda que o uruguaio tenha voltado a demonstrar segurança.
Aos 25’, os números comprovam o desconforto dos campeões portugueses contra os vencedores da Eredivisie. O PSV rematara três vezes, face a zero do Sporting — que só remataria à baliza pela primeira vez aos 82’, já com Harder em campo —, sendo que os neerlandeses também incomodavam a circulação leonina fazendo muitas faltas. Só nesses 25’ iniciais, o PSV cometeu 12 infrações, para três dos lisboetas.
Para piorar o panorama, após novo mau passe de Debast, que se mantinha mergulhado a experimentar quantas vezes se podia passar para Catamo e perder a bola, Diomande interceptou um remate do adversário, fez uma entorse e teve de sair lesionado. Quaresma entrou para o lugar do costa-marfinense, levando Debast para a esquerda da defesa e Inácio, autor de um cabeceamento que foi o único esboço de relativo perigo dos visitantes até ao descanso, para o centro do setor recuado.
O recomeço não mudou muito o cenário. Na verdade, nos minutos iniciais do segundo tempo, o PSV foi perdoando a hipótese de dobrar a vantagem, sobretudo num lance em que Luuk de Jong recordou, na mesma ação, espécies diametralmente opostas de pontas-de-lanças dos Países Baixos: foi Bergkamp, virando-se com classe brutal, e Castaignos, finalizando sem direção. Além dessa claríssima ocasião, os locais também poderiam ter marcado em remates de Saibari ou Til.
No entanto, a primeira substituição ajudou a melhorar o Sporting. Daniel Bragança entrou para a meia-direita do ataque e facilitou a ligação de jogo, sendo um pouco Pote, conectando as ações com mais sentido. O jogo dos visitantes passou a ter intervalos de conexão entre cada escorregadela de Gyökeres.
Ainda que o Sporting tenha melhorado, a equipa portuguesa tem de agradecer à neerlandesa a pouca eficácia na finalização. Lang, em remate de cabeça para defesa de Israel, e, sobretudo, Bakayoko, não aproveitando uma oferta de Quaresma, que o isolou, não selaram o triunfo local.
Quando os leões já tinham mais sentido ofensivo, quando Bragança já ligava o jogo e Quenda, um adolescente a brilhar entre os grandes, entusiasmava pela direita, deu-se o lance que pareceria estar destinado a ficar como a imagem da noite do Sporting. Quaresma, sempre fortíssimo nos duelos e a partir para a frente, desarmou Lang, combinou com Morita, isolou-se. O defesa com alma audaz preparou-se para marcar, ia marcar…
… E escorregou, claro. Há algo quase cómico, de comédia sem sentido, em ver futebolistas de elite tropeçarem como meros mortais, mas aqui estava o Sporting, caindo, incapaz de lidar com a gravidade, a relva, a inadaptação das chuteiras, o que fosse.
Até que o suplente que iluminou o jogo do Sporting, que deu luz na terra da Phillips, foi à área resgatar um ponto. Aos 84', Maxi Araujo cruzou e Dani elevou-se e, de pé direito, empatou. Prudente, Bragança fez questão de marcar estando no ar, afastando-se da relva e dos riscos de escorregadelas.
No último suspiro da partida, Harder ainda rematou para defesa apertada de Walter Benítez. Num jogo em que somente manter o equilíbrio foi um desafio difícil de superar para o Sporting, sair da casa do PSV com um ponto foi como tropeçar e, em vez de ficar fora de combate no chão, ter alguma capacidade para prosseguir a caminhada.