Loures, Lisboa, 26 set (Lusa) - Presente na literatura de Shakespeare e de Eça de Queirós, a história do vinho de Bucelas, no concelho de Loures, ganhou há dois anos um espaço num museu, que preserva hoje as memórias e tradições vitivinícolas da região.

Situado num casarão do século XIX, onde viveu João Camilo Alves, o primeiro a produzir e a comercializar vinho de forma organizada, o Museu do Vinho e da Vinha de Bucelas recebeu cerca de seis mil visitantes, desde a sua inauguração, em 2013.

Uma loja e sala de prova de vinhos, um espaço dedicado a uma exposição permanente, um centro de documentação e um centro de interpretação das Linhas de Torres, são algumas das atrações.

Nas paredes, os visitantes deparam-se com referências de alguns escritores ilustres ao vinho de Bucelas, como William Shakeaspeare, Charles Dickens, Lord Byron e Eça de Queirós, enquanto na sala principal podem ser apreciados objetos de lavoura e vindima, tudo acompanhado por textos explicativos.

O museu evoca ainda profissões como as de ferreiro, cesteiro e tanoeiro.

"Este museu era um sonho antigo da comunidade local. Um espaço onde estão depositadas partes das memórias e tradições vitivinícolas de Bucelas", contou à agência Lusa o vice presidente da Câmara de Loures, Paulo Piteira (CDU).

O autarca explicou que foi o Festival da Vinha e do Vinho, que se realiza anualmente em Bucelas, há três décadas, sempre em outubro, que esteve na origem da criação do museu.

A edição deste ano do Festival da Vinha e do Vinho vai decorrer de 9 a 11 de outubro, sendo a entrada no museu gratuita nesses dias.

"Desde a primeira hora que a comunidade nos fazia sentir que era necessário celebrar o trabalho associado à vinha e ao vinho, que é uma das marcas distintivas de Bucelas", sublinhou.

Paulo Piteira fez um balanço positivo da adesão ao museu, sublinhando que a autarquia "tem feito um esforço" para articular os diferentes atrativos da freguesia na promoção turística que faz.

"A estratégia de divulgação tem-se vindo a construir em estreita articulação com os agentes locais. Temos procurado sensibilizar os profissionais da restauração porque há um património gastronómico muito importante que procuramos potenciar", apontou.

O vinho de Bucelas tem direito a denominação de origem controlada, sendo o arinto e a esgana-cão as castas utilizadas na sua produção.

Ladeada por vales e encostas, marcadas pelo cultivo da vindima, a freguesia de Bucelas, localizada a cerca de 30 quilómetros de Lisboa, alberga algumas das mais importantes quintas de produção de vinho, como a da Murta e a da Romeira.

Reza a história que a fama do vinho de Bucelas é bastante antiga, remontando ao tempo dos romanos, que terão sido os responsáveis pela introdução da cultura da vinha na região.

A história revela ainda que o Marquês de Pombal se interessou muito pelo vinho de Bucelas e que, para valorizar ainda mais a cultura vitícola, importou algumas castas do Reno, na Alemanha.

É, no entanto, no momento das Invasões Francesas que o vinho de Bucelas começa a ter renome internacional, quando é oferecido por Wellington ao Rei Jorge III, então Príncipe regente, tornando-se depois da Guerra Peninsular o seu consumo um hábito da Coroa de Inglaterra.

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