O novo Papa foi recuperar o nome de Leão, que tinha sido usado pela última vez por Leão XIII, pontífice mais conhecido como o autor da encíclica social Rerum Novarum.

Leão XIII, Vincenzo Gioacchino Pecci, nasceu em Carpineto (Itália) em 1810 e morreu em Roma em 1903, tendo sido eleito Papa em 1878.

Foi considerado um pontífice "das encíclicas", pois publicou dezenas delas, embora a Rerum Novarum, de 1891, se destaque como a primeira grande encíclica social, que analisava a situação das classes trabalhadoras.

Se, como é habitual dizer-se, o nome de um Papa encerra todo um programa, o nome de Leão XIV assumido pelo Papa hoje eleito, pode indicar que as questões sociais, nomeadamente as que respeitam ao mundo do trabalho, estarão entre as preocupações do seu pontificado.

Na introdução da Rerum Novarum, Leão XIII lembrava que, "a sede de inovações, que há muito tempo se apoderou das sociedades e as tem numa agitação febril, devia, tarde ou cedo, passar das regiões da política para a esfera vizinha da economia social".

"Efetivamente, os progressos incessantes da indústria, os novos caminhos em que entraram as artes, a alteração das relações entre os operários e os patrões, a influência da riqueza nas mãos de um pequeno número ao lado da indigência da multidão, a opinião enfim mais avantajada que os operários formam de si mesmos e a sua união mais compacta, tudo isto, sem falar da corrupção dos costumes, deu em resultado final um temível conflito", escrevia o Papa Vincenzo Pecci naquela encíclica datada de 15 de maio de 1891.

Em pleno período pós-Revolução Industrial, Leão XIII assegurava ter-lhe parecido oportuno falar da "Condição dos Operários", a fim de "pôr em evidência os princípios de uma solução, conforme à justiça e à equidade".

"O problema nem é fácil de resolver, nem isento de perigos. E difícil, efetivamente, precisar com exatidão os direitos e os deveres que devem ao mesmo tempo reger a riqueza e o proletariado, o capital e o trabalho. Por outro lado, o problema não é sem perigos, porque não poucas vezes homens turbulentos e astuciosos procuram desvirtuar-lhe o sentido e aproveitam-no para excitar as multidões e fomentar desordens", escrevia o Papa da transição do século XIX para o século XX.

Muitos consideram que esta encíclica, já com 134 anos, continua atual.

Aquando dos 130 anos, Manuel Pinto, no jornal 7Margens, recordava que "do ponto de vista dos problemas e preocupações enunciados pelo Papa", alguns temas continuam a ter pertinência.

E como exemplos, apontava "a gravidade de descurar as condições dignas do trabalho operário", a "importância de se instituir algum tipo de proteção social", "a preocupação de que no valor do salário se tenha em conta também a família e a sua subsistência" ou "uma atenção especial às condições e exigências particulares do trabalho de crianças e das mulheres, considerando em especial, neste caso, o papel da maternidade".

O cardeal Robert Francis Prevost, de 69 anos, foi hoje eleito Papa pelo colégio cardinalício, ao segundo dia do conclave que se seguiu à morte do Papa Francisco, ocorrida no dia 21 de abril.

O novo Papa, assumiu o nome de Leão XIV, e era até agora Prefeito do Dicastério para os Bispos, desde 12 de abril de 2023.

Considerado um progressista ou reformista, foi criado cardeal pelo Papa Francisco no Consistório de 30 de setembro de 2023.

É o primeiro Papa americano da história da Igreja Católica.