
A ministra da Saúde disse hoje que vai continuar no cargo, avançando que "não houve" relação entre a morte de um homem e a greve do INEM, após a inspeção ter concluído que o óbito poderia ser evitado.
"Uma coisa é certa, nunca fugirei às minhas responsabilidades de natureza política, mas o que hoje aqui está em causa, através de um relatório que é o espaço certo para se fazer esta avaliação, é que não houve, repito, não houve nenhuma relação entre a infeliz ocorrência e a greve do INEM [Instituto Nacional de Emergência Médica]", disse aos jornalistas Ana Paula Martins.
A governante falava à margem da tomada de posse do bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, em Lisboa.
Sobre os pedidos de esclarecimentos de vários partidos, como PS, Chega, PCP e IL, Ana Paula Martins disse estar "sempre disponível" para responder àquilo que a Assembleia da República lhe quiser perguntar.
"Eu estou sempre disponível para responder a todas as questões que me sejam postas em qualquer circunstância e continuarei a trabalhar sob a liderança do meu primeiro-ministro", garantiu.
Hoje, o Chega e o PS pediram consequências políticas sobre a conclusão do relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), e a IL adiantou que vai propor a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito à gestão do INEM, um dia depois de ter sido noticiado que a morte de um homem em novembro de 2024, durante uma greve do instituto, poderia ter sido evitada.
Ao final do dia, os socialistas avançaram que vão pedir a audição urgente da ministra da Saúde, considerando que é tempo de Ana Paula Martins "assumir as suas responsabilidades".
Também o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, considerou ser necessário "apurar os factos todos e as responsabilidades", sendo que a "responsabilidade política" não pode ser posta de lado.
Hoje, à margem da reunião do Conselho Europeu, em Bruxelas, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, disse que haverá oportunidade para o escrutínio político, na Assembleia da República, com a presença do Governo, sobre o relatório ao caso da morte de um homem durante uma greve do INEM.
Na quarta-feira, a IGAS divulgou um comunicado em que confirmou que morte de um homem de 53, em novembro de 2024 em Pombal, quando decorreu uma greve no INEM , poderia ter sido evitada se tivesse sido socorrido num tempo mínimo e razoável.
Este é um dos casos que a IGAS decidiu investigar para apurar eventuais atrasos no atendimento do CODU a 12 utentes que morreram em 04 de novembro, dia em decorreu, em simultâneo, duas greves - uma dos técnicos de emergência pré-hospitalar às horas extraordinárias e outra da administração pública.
"Concluiu-se que a morte do utente poderia ter sido evitada caso tivesse havido um socorro, num tempo mínimo e razoável, que tornasse possível a evacuação da vítima através de uma via verde coronária para um dos hospitais mais próximos, onde poderia ser submetido a angioplastia coronária numa das respetivas unidades hemodinâmicas", adiantou a inspeção-geral.
Na noite de quarta-feira, o Ministério da Saúde já tinha esclarecido que a demora no socorro que levou à morte de um utente em Pombal está relacionada com alegada falta de zelo de dois profissionais que intervieram no processo, e não com a greve no INEM.
Segundo a versão do relatório conhecida - diz o Ministério da Saúde - "a eventual demora na chegada do socorro do INEM, e ao contrário do que foi aventado por alguns, não é atribuída à existência de greve no INEM, nem sequer a uma demora no atendimento da chamada pelo CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes]".