O início do mês de julho até pode ter dececionado quem esperava por dias escaldantes de praia e calor, mas a ocorrência de dias mais chuvosos e nublados numa boa parte do país não deve causar motivos de preocupação e não são totalmente atípicos.

Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), “não há verões iguais”, e o facto de termos “verões em que temos um mês de julho com temperaturas mais elevadas e outros com temperaturas mais baixas, uns com mais vento, outros com menos vento”, não são sinais diretos de verão anormal. “Anormal seria, por exemplo, se ocorresse neve”, apontou Patrícia Gomes, meteorologista do IPMA.

A especialista explicou ao Expresso que, na semana passada, “tivemos uns dias quentes com influência de um anticiclone, que transportava uma massa de ar quente e seco”. “Entretanto, a atmosfera alterou-se e estamos sob influência ainda de uma massa de ar quente, mas com algum teor de humidade, ou seja, uma massa de ar que tem origem marítima, por assim dizer. Esta massa de ar quente está associada a uma depressão e, portanto, acaba por dar alguma precipitação, alguma nebulosidade, e este conjunto de fatores faz com que as temperaturas não subam tanto quanto é esperado”, esclareceu a meteorologista.

Patrícia Gomes referiu, ainda, que com a ocorrência de mais nebulosidade, “a radiação não aquece tanto a superfície da Terra, e acaba por ser normal que os valores de temperatura não subam tanto como as pessoas gostariam”.

Dias inconstantes devem-se a “atmosfera dinâmica”

Curiosamente, as previsões do IPMA para os próximos dias apontam tanto para valores de temperatura máxima “abaixo do que é normal para a época do ano”, ao mesmo tempo que se prevêem “valores da temperatura mínima acima do que é normal”. Para Patrícia Gomes, esta variabilidade nas últimas semanas é que tem levado a uma perceção de um verão mais frio.

“Temos três, quatro dias muito quentes e depois baixa a temperatura. Há uns dias com precipitação e, às vezes, não ocorre precipitação em todos os locais, mas há alguma precipitação. Isto não significa que seja uma coisa anormal. Significa que a atmosfera não é uma coisa estática, é dinâmica e está sempre a alterar-se”, vincou a meteorologista.

Tomando como exemplo a cidade do Porto, segundo a previsão no site do IPMA, espera-se que os próximos dias estejam marcados por “céu geralmente muito nublado” e “períodos de chuva, mais prováveis até ao meio da tarde”. Na sexta-feira e no sábado, não são esperados dias de grande precipitação, que podem regressar no domingo e na segunda-feira.

Quanto às expectativas a longo prazo para o verão, a previsão sazonal do IPMA de julho a setembro aponta para uma “anomalia positiva” na precipitação média mensal do ar e “na precipitação total mensal não existe sinal significativo”. Ou seja, os dias de chuva não devem ser frequentes e, por outro lado, a temperatura média pode ter uma anomalia, ou uma pequena variação, de entre 0,5ºC a 1,5ºC a mais do que o normal nesses meses. Patrícia Gomes alertou que prever o tempo para além dos próximos 10 dias é sempre arriscado, dada a imprevisibilidade própria da meteorologia, mas anota que “tudo indica que haverá uma anomalia positiva para a temperatura, tanto para julho, como para agosto, como para setembro”.

Turismo deve passar pelos pingos da chuva

Um setor que até podia estar a assistir às temperaturas mais baixas com alguma apreensão é o setor do turismo, mas o número de reservas já feitas acabam por ser uma rede de segurança que oferece descanso aos empresários e trabalhadores.

Hélder Martins, presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), acautelou que a região sul do país tem escapado aos dias cinzentos de chuva e “não é expressivo o impacto que” um suposto ‘atraso’ no verão possa ter.

“Se estiver no Alentejo, ou mesmo em Lisboa, decide vir passar um fim de semana ou um fim de semana prolongado ao Algarve, e ainda não reservou, é lógico que, se as condições climatéricas não estiverem boas, pensa duas vezes e se calhar adia para a semana seguinte. Mas o grosso do cliente que vem ao Algarve é um cliente que já reservou há alguns meses, e a partida não vai estar a procurar se o tempo está bom ou se não. Pode é apanhar uma desilusão”, disse o empresário.

Sobre o ritmo atual da atividade turística no sul do país, que vive essencialmente do turismo de praia, Hélder Martins adiantou que “a ocupação do mês de Junho foi muito semelhante à do ano passado”, pelo que não estão previstas muitas desistências por via da chuva. “O Algarve está com uma boa ocupação, a praia está cheia. Tem dias, de facto, onde está melhor, tem dias onde está pior, mas eu não sinto que teve um impacto aí muito grande em termos da ocupação e do negócio”, adiantou.

O ramo que pode, na sua opinião, sofrer mais um pouco com um tempo mais ameno ou até chuvoso, é a restauração. O presidente da AHETA sublinhou que os hotéis estão a verificar “um aumento de clientes com reservas em meia-pensão”, que tomam o pequeno-almoço e uma das principais refeições no mesmo estabelecimento. “Eu creio que a restauração poderá estar a sofrer um pouco, fruto desta alteração que se tem vindo a verificar. E também, se pensarmos, estamos a viver das esplanadas, e é lógico que se estiver vento e frio, aí também poderá ter algum impacto”, especula ainda o dirigente.