No espaço de dois dias, o Mundo rendeu-se ao futebol português. Em Munique, os quatro mosqueteiros lusos do Paris-Saint Germain arrebataram a Liga dos Campeões e 24 horas depois, em Tirana, a seleção de Sub-17 ganhou o Campeonato da Europa.

Como que se tratou de uma dupla prenda de França a Portugal. A primeira, oferecida com todo o gosto e a melhor das boas vontades, para desfeita do Inter de Milão, enquanto a segunda... foi mais uma conquista do que propriamente um presente com direito a perfumes e macarons.

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Nuno Mendes, João Neves, Vitinha e Gonçalo Ramos, sem esquecer o contributo fundamental de Luís Campos, autêntica eminência parda do Parque dos Príncipes, anteciparam o festival que o onze orientado por Bino Maçães proporcionou na capital da Albânia, acabando o capitão Rafael Quintas por merecer a distinção de MVP do torneio.

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Pedro Proença fez questão e teve o privilégio de assistir às proezas alcançadas pelos consagrados e pelos que buscam o estrelato. Sábado à noite, no mesmo palco onde amanhã Roberto Martínez discute a passagem à final da Liga das Nações, o presidente da Federação “dividiu” a bancada com Frederico Varandas, Rui Costa, André Villas-Boas e António Salvador, o que quer dizer que os principais clubes do nosso País estiveram representados ao mais alto nível, contrastando com a falta dele quando marcam a agenda em casa.

A semana que se seguiu ao fecho oficial da temporada foi elucidativa da distância que continua a existir entre o talento que cresce e se renova constantemente à flor da relva e a insensatez denunciada por aqueles que deveriam ter a responsabilidade de olhar para lá dos troféus individuais.

Ainda as equipas estavam a fazer as malas nos balneários do Jamor após a disputa da Taça de Portugal e já Rui Costa cedia à oposição interna e mostrava um grau máximo de intolerância aos erros de arbitragem, despertando uma reação deselegante de Varandas, que por sua vez fez Villas-Boas acrescentar outro capítulo negro a uma obra pincelada com vários ajustes de contas.

O histórico entre os presidentes de Sporting e FC Porto conduziu a uma espécie de ponto sem retorno que está longe de ser um exclusivo destes dois emblemas. Aliás, nem é preciso sair da esfera de uma única instituição para se perceber isso, bastando recuperar a maneira como o Benfica foi desleixado e permitiu que a relação de Di María com a estrutura e a liderança técnica de Bruno Lage resvalasse para o inimaginável.

CONTAS DE OUTRO ROSÁRIO

Sem capacidade para controlar os ímpetos comunicacionais do argentino, a própria Direção dos encarnados viu fugir-lhe o tapete no que diz respeito ao tempo de anúncio do fim de ciclo do campeão mundial, deixando em simultâneo o treinador sem margem de manobra para gerir a despedida do mágico da camisola 11.

Lage não entendeu o quadro que estava ali e esse foi o grande erro que acabou por cometer, acreditando que podia brincar com o estatuto de Di María numa partida decisiva e perdendo a soberana oportunidade de vincar a autoridade inerente ao cargo.

O técnico que não teve coragem para pura e simplesmente excluir Angelito do último dérbi, preferindo o jogo perigoso da humilhação que tão caro lhe saiu, prepara-se, ao que parece, para acolher Di María na comitiva benfiquista que está quase a entrar em ação no Mundial de clubes. O inconcebível acontece.

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Se nenhuma (in)oportuna lesão retirar o anunciado reforço do Rosário Central do Mundial dos Estados Unidos, a paz podre com Lage falseará as últimas fotos de águia ao peito, fazendo lembrar os dias terríveis da única época cumprida no Manchester United, em claro contraste com as sete longas temporadas vividas em Paris e que assinalam o recorde de permanência na Europa.

Há 10 anos, “Fideo” chegava à capital francesa para ficar até 2022, ano em que atingiu o cume da carreira. Ao serviço do PSG nunca teve a “sorte” de Nuno Mendes, João Neves, Vitinha ou Gonçalo Ramos, ou seja, nunca chegou a ser campeão da Europa, feito que só alcançou vestido de branco.

Dir-se-ia premonitoriamente, face ao sucedido no Catar, com a camisola 22 do Real Madrid, Angel Di María ganhou a Liga dos Campeões... ici, na sua casa lisboeta, levando a melhor sobre o arquirrival Atlético Madrid no duelo de 2014.

Oui, foi a tal final no Estádio da Luz que ficou para a história graças ao golo milagroso de Sérgio Ramos aos 90+3 que levou o confronto para prolongamento. Ramos marcou com a testa, num golpe famoso e que criou um mito. Aqui, os presidentes dos grandes gostam de usar a cabeça para continuar a pisar o futebol português.