
Que importância clínica tem, afinal, um "episódio esofágico"? Mais do que pode parecer, conta ao SAPO Eurico de Almeida. O médico especialista de Otorrinolaringologia e Cirurgia da Cabeça e Pescoço, fundador da Clínica ORL, e que cumpriu o internato em Medicina Geral e ano de residência em Anatomia Patológica, bem como a residência de otorrinolaringologia no Hospital da Universidade da Pensilvânia e no Hospital Henry Ford, nos EUA, explica mesmo que, pela dor e sensação que provoca, o episódio clínico é comum e frequentemente confundido com enfarte. Mas pior mesmo é quando se atribui a dor a um problema menor quando de facto é o coração que está a falhar; e isso é passível de acontecer, dada a semelhança de sintomas — razão pela qual diagnosticar esta condição é tão importante.
O que é um espasmo esofágico?
O nosso tubo digestivo começa na boca estendendo-se para trás, para a faringe, a que se segue o esófago até ao estômago. Entre a faringe e o esófago existe um esfíncter (faringo-esofágico) e, na outra extremidade, existe um segundo esfíncter chamado gastro-esofágico. Estes esfíncteres são muito importantes, mas na situação de espasmo esofágico não assumem papel de relevo, a não ser esporadicamente. Quando não estamos a comer, habitualmente, a atividade motora do esófago é pouco expressiva. No entanto, por razões inexplicáveis, há doentes em que essa atividade é intensa, podendo provocar imensa dor na região cardíaca e na garganta.
Pode confundir-se com um enfarte?
Estas duas últimas áreas, coração e garganta, são as áreas de queixa de doentes com angina de peito ou enfarte do miocárdio. Esta é mais uma razão pela qual o espasmo esofágico assume importância clínica. O trânsito esofágico implica que os alimentos, passada a faringe, encontrem o esfíncter esofágico superior aberto e depois, com contrações musculares suaves, o bolo alimentar é enviado para o estômago após vencer a resistência do segundo esfíncter gastro-esofágico. Os alimentos caem no estômago, não só pelos movimentos musculares peristálticos, mas também pelo seu peso.
Um espasmo esofágico é grave ou doloroso?
O espasmo do esófago é uma situação que não é grave, mas que provoca extremo incómodo durante a crise espasmódica. Ele relaciona-se frequentemente com períodos de grande stress emocional ou físico. O mesmo se passa no enfarte do miocárdio ou angina. Por esta razão é muito importante fazer a distinção entre espasmo esofágico e problema cardíaco. Quem sofre um ou mais episódios destes tem necessariamente de verificar se o problema não é cardíaco, de forma a ter certeza de que o problema reside no esófago e não no coração.
O que causa um espasmo esofágico?
Não existe uma causa bem identificada para o espasmo esofágico, mas ele verifica-se mais em pessoas que bebem água muito fria, muito quente ou com água com gás. Refluxo gástrico tem também sido associado ao espasmo esofágico sem forte evidência científica. Perturbações do stress emocional ou físico são muto importantes na génese do espasmo esofágico.
Como é feito o diagnóstico?
Na maior parte das vezes, o diagnóstico assenta na observação clínica, sendo a componente principal a sua separação de possível doença cardíaca. A gestualidade no sofrimento é muito semelhante no doente com este problema esofágico e o que tem problema cardíaco. É mais fácil fazer o estudo cardiológico que o esofágico, nomeadamente quando este envolve estudos manométricos que não são muito fáceis de fazer.
E como se trata?
O tratamento médico do espasmo do esófago é simples podendo os sintomas ser aliviados por analgésicos potentes, nitroglicerina ou bloqueador de canais de cálcio. Há outras variedades de tratamento como por exemplo o uso de sondas dilatadoras de aço ou mercúrio. Existe por fim, um tratamento cirúrgico que consiste na secção da camada muscular do esófago raramente utilizado.