
A cooperação do Irão com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) sobre o seu programa nuclear mantém-se "uma obrigação", sublinhou hoje o diretor-geral desta agência da ONU, após o parlamento iraniano votar a suspensão dos contactos.
"A cooperação do Irão connosco não é um favor, é uma obrigação legal, desde que o Irão continue a ser signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP)", disse Rafael Grossi à France 2.
Continua por determinar a localização ou possível destruição, na sequência dos ataques norte-americanos e israelitas a instalações nucleares iranianas na última semana, de cerca de 400 kg de urânio altamente enriquecido.
"A agência, a AIEA, perdeu a visibilidade deste material desde o início das hostilidades", admitiu Grossi.
"Não gostaria de dar a impressão de que está perdido ou escondido", acrescentou Grossi, reiterando interesse em retomar as atividades no Irão "o mais rapidamente possível".
Questionado sobre as declarações de Donald Trump de que o programa nuclear iraniano tinha sido atrasado várias "décadas" pelos ataques norte-americanos, Grossi disse não ter "muita fé nesta abordagem cronológica das armas de destruição maciça". "Imagino que seja uma avaliação política", sublinhou.
Grossi reuniu-se na quarta-feira com o Presidente francês, Emmanuel Macron, no Palácio do Eliseu, enquanto o parlamento iraniano votava a suspensão da cooperação com a AIEA, após 12 dias de guerra marcados por ataques a instalações nucleares iranianas.
Para entrar em vigor, a decisão necessita ainda da aprovação do Conselho de Curadores, um órgão da República Islâmica com poderes para rever a legislação.
A AIEA adotou uma resolução no início de junho condenando a falta de cooperação de Teerão com a agência em relação às suas atividades nucleares. Alegando o risco de Teerão desenvolver armas nucleares, Israel lançou em meados de junho bombardeamentos contra território iraniano.
O conflito assumiu uma nova dimensão com os bombardeamentos pelos Estados Unidos de várias instalações nucleares iranianas, incluindo o complexo de Fordow. Fordow, que tem com capacidade de enriquecimento de urânio a 60%, segundo os especialistas, fica localizado a cerca 100 quilómetros a sul de Teerão.
O Irão retaliou o ataque norte-americano atacando a base de Al-Udeid, no Qatar, uma das principais instalações militares norte-americanas no Médio Oriente.
O diretor-geral da AIEA disse no domingo no Conselho de Segurança da ONU que "ninguém, nem mesmo a AIEA, está em condições de confirmar os danos subterrâneos" na central de Fordow.
Esta reunião foi convocada, a pedido do Irão, horas depois de o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter confirmado que bombardeiros norte-americanos tinham atacado com bombas anti-bunker as principais centrais nucleares do Irão, incluindo as instalações subterrâneas de Fordow.
Grossi disse que são agora visíveis "fissuras" na central de Fordow, confirmando a utilização das bombas anti-bunker pelos Estados Unidos, mas insistiu que é impossível avaliar os danos na central.
O diretor-geral da AIEA confirmou igualmente que, na central de Isfahan, "parece que o acesso aos túneis utilizados para o armazenamento de material enriquecido" e alguns edifícios relacionados foram atingidos e que a central de enriquecimento de combustível em Natanz também foi atingida, mas não deu mais pormenores.
Israel reconheceu hoje que "ainda é muito cedo" para avaliar os danos nas instalações nucleares iranianas, após a divulgação de um documento confidencial que lançou dúvidas sobre a eficácia dos ataques norte-americanos no passado fim de semana a três instalações nucleares do Irão.
Donald Trump, por sua vez, insistiu na destruição "total" dos locais e afirmou que o programa iraniano tinha sido atrasado várias "décadas" pelos ataques norte-americanos.