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Ano em revista

2020 memórias de um ano para esquecer

2020, um ano ímpar

O ano de que nos despedimos iniciou-se tão auspicioso como qualquer outro até ao momento em que, como no enredo de uma má novela, se emaranhou em torno de um único núcleo, pouco se distinguindo entre si cada um dos episódios seguintes. Mesmo assim a sua história, como um todo, dificilmente se poderia ter alterado tanto pelo caminho. Confuso? Foi 2020: o ano que terminou em Março e se arrastou até 31 de Dezembro.

Nove longos e penosos meses que nos fizeram conviver com uma face nunca antes encarada da globalização. Dir-se-ia que o mundo “fora de portas” não diferia muito do mundo no nosso país: confinado, receoso e a aprender a lidar com uma nova ameaça.

Pelas televisões iam passando os especialistas da epidemia e mais tarde , quando estes já não conseguiam trazer novidade, veio a epidemia de especialistas. Juntamente com alguns jornalistas , sobretudo televisivos, subitamente moralistas e paternais estes gurus insuflaram um conceito de “novo normal” a que nos teríamos de adaptar. Nada se demonstrou mais contraproducente: não há nenhuma “nova normalidade” num evento que queremos erradicar. Provavelmente, de forma apressada e ligeira, confundiu-se o que é vulgar ou corrente com o que é normal. Não é normal os avós não abraçarem os netos.

Não é normal o Papa assinalar a Páscoa sozinho na Praça de S.Pedro. Não é normal contar quantos são os que podem ir a um funeral. Não é normal a selecção nacional jogar em casa e um golo não ser festejado nas bancadas. Não é normal referenciar no tempo passado aquele em que “éramos felizes e não sabíamos” até porque se não o sabíamos não éramos verdadeiramente felizes.

Não há um “novo normal”: há sim o momento que todos desejamos em que vamos voltar de novo ao normal. Seja esse tempo qual for, ele será seguramente diferente do passado como seria mesmo se esta pandemia não tivesse vindo para encerrar, de vez, o século XX.

Se 2020 foi um ano ímpar, que 2021 seja um ano sem par!

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  • A liga portuguesa de futebol regressaou com jogos à porta fechada, após quase três meses de paragem devido à pandemia.
  • Milhares de pessoas marcaram presença em manifestações anti racistas em Lisboa e no Porto, no dia 6 de junho, na sequência do assassinato de George Floyd nos Estados Unidos da América.
  • O ministro das Finanças, Mário Centeno, apresentou a sua demissão do Governo com efeitos a partir de 15 de junho, sendo substituído no cargo pelo até então secretário de Estado do Orçamento, João Leão.
  • Os golfinhos voltaram a aparecer no rio Tejo, ao que tudo indica, devido à menor perturbação das águas e poluição provocadas pelas embarcações.
  • ator Pedro Lima morreu no dia 20 de junho numa enseada entre a fortaleza e a praia do Abano, no Guincho, por suicídio.
  • A Assembleia da República aprovou por unanimidade o projeto de resolução da deputada não inscrita, Joacine Katar Moreira, para homenagear simbolicamente Aristides de Sousa Mendes no Panteão Nacional, através de um túmulo sem corpo.

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2020: o ano em que o desporto parou e voltou mais pobre

Que 2020 termine rápido! É este o desejo de todos, numa altura em que já se começou a vacinação em massa contra a COVID-19 no Reino Unido e há esperanças de o mesmo arrancar no resto da Europa ainda em 2020.
2020: o ano em que o desporto parou e voltou mais pobre
AFP or licensors

2020 é para esquecer a todos os níveis. Foi o ano que nos deu uma nova perspetiva do mundo e da vida. Um ano que nos obrigou a mudar as nossas rotinas e hábitos, que nos trouxe novas experiências. Um ano que testou nossa paciência e capacidade enquanto seres humanos.

No desporto não foi diferente. 2020 foi o ano das competições sem adeptos, do treino em casa, da anulação de várias provas. Foi o ano da ansiedade, do medo, de um normal diferente. Também foi o ano da tristeza, das lágrimas, da dor, da perda de génios no desporto. Foi Maradona, foi Kobe Bryant, foi Paulo Gonçalves. Resta-nos as lembranças, as imagens da genialidade. E a saudade.

paulo gonçalves

O ano começou de forma trágica e assim acabou. Com mortes. A 12 de janeiro, o motard português Gonçalves acelerou numa reta na sétima de 12 etapas da 42.ª edição do Rali Dakar, que se realizou na Arábia Saudita, e perdeu a vida. Aos 40 anos, 'Speedy Gonçalves não aguentou as muitas "lesões graves na cabeça, pescoço e coluna" e passou a ser mais uma vítima do mítico rali, nesta que era a sua 13.ª participação.

No mesmo mês, partiu Kobe Bryant, a lenda do basquetebol mundial. 'Black Mamba' levava Gianna, a filha 13 anos para mais um treino, mas nenhum deles chegou ao destino. O helicóptero onde seguiam perdeu-se num intenso nevoeiro na manhã de 26 de janeiro, em Calabasas, Califórnia. Além de Kobe e da sua filha, mais sete pessoas morreram na sequência da queda do aparelho.

Kobe e Paulo Gonçalves partiram no início do ano, Maradona foi no final. Após ser operado a hematoma subdural, e pouco tempo depois de completar 60 anos, 'El Pibe' deixou de fazer parte do mundo dos vivos no dia 25 de novembro. O coração do mais lendário de todos os futebolistas argentinos (e talvez do mundo) parou e, com ele, o mundo do futebol. Viveu intensamente, sempre no limite: se nos relvados espalhou classe e toda a sua genialidade, fora deles a sua vida ficou marcada por polémicas e pelo vício das drogas. "Errei e paguei, mas o que fiz em campo não se apagou", disse, numa despedida memorável em 2001, dentro do estádio La Bombonera lotado.

Imagens do funeral de Diego Armando Maradona
Adeptos rivais do Boca Juniors e River Plate unidos no adeus a Maradona @Lara SARTOR / TELAM / AFP créditos: AFP or licensors

Um dia depois de Maradona, 2020 levou-nos também o 'elevador' do futebol nacional, o 'Rei das Subidas'. Vítor Oliveira, um dos treinadores mais amados do futebol português sentiu-se mal durante uma caminhada e morreu. Em mais de 30 anos como treinador, Vítor Oliveira ganhou fama ao conseguir 11 promoções em 18 presenças na II Liga.

Outros grandes nomes do desporto perderam a vida em 2020 como Paolo Rossi, herói da vitória italiana no Mundial de 1982 ou Reinaldo Teles, o 'chefinho', eterno dirigente do FC Porto. Jack Charlton, irmão mais novo de Bobby Charlton e campeão do mundo por Inglaterra em 1966, partiu aos 85 anos. Vassili Kulkov, ex-jogador do Benfica e FC Porto, e Mauricio Hanuch, antigo jogador do Sporting, também nos deixaram, tal como Dito, antigo internacional português de FC Porto e Benfica. Teresa Machado, melhor lançadora portuguesa de todos os tempos e recordista portuguesa no lançamento do peso, Stirling Moss, vice-campeão mundial da Fórmula 1 e Nicha Cabral, primeiro piloto português a participar numa corrida de Fórmula 1, estão entre as muitas personalidades ligadas ao desporto que perderam a vida em 2020.

Da morte das estrelas a um novo normal

Março trouxe-nos o isolamento, a quarentena e o mundo em suspensão. Enquanto as enfermarias dos hospitais do Mundo delineavam planos para tratar o número crescente de doentes com COVID-19, o mundo do desporto traçava cenários de um possível regresso, no meio de muitas incertezas.

O desporto no geral e o futebol em particular tinha parado, algo que não se via desde a Segunda Guerra Mundial.Numa altura em que a COVID-19 se alastrava a toda a velocidade em Itália e Espanha e as ligas internas já jogavam sem público nas bancadas, a UEFA ainda autorizou dois encontros com estádios cheios na Liga dos Campeões. Duas 'bombas biológicas' como lhes chamaram os especialistas.

Pouco tempo depois, parava tudo. Portugal deu por terminada a Segunda Liga e, com um rigoroso plano sanitário delineado junto da Direção-geral da Saúde, pode regressar e terminar a Primeira Liga. As competições das modalidades ditas amadoras foram canceladas. O futebol juvenil parado. Milhares de crianças e jovens com a vida em suspenso.

limpeza bolas estádio

Sem jogos, sem público, sem atividade, muitos clubes entraram em lay-off e em crise financeira. Bélgica, França e Países Baixos deram por terminados os seus campeonatos de futebol. Os mesmos seriam retomados nas outras ligas, em junho.  Assim, o Europeu de Futebol foi adiado para o ano seguinte, tal como os Jogos Olímpicos.

Com o número de infetados diários a cair, assim como o número de mortos, vários países começaram a delinear planos para o regresso dos seus principais campeonatos. A Alemanha foi o primeiro a regressar, seguido de Portugal. Espanha, Inglaterra e Itália foram atrás.

No novo normal o futebol fechou as portas aos adeptos e deixou apenas 22 homens a correr atrás de uma bola. De casa, no conforto do sofá, dá para ouvir tudo: as instruções dos treinadores, os gritos dos jogadores, as conversas. É como se estivéssemos em campo.

No entanto, impedidos de dar sequência ao ritual de dezenas de anos, os adeptos viram-se forçados a apoiar de forma virtual os seus ídolos. Levantaram-se murais nos estádios, colocaram-se ecrãs gigantes onde os jogadores iam matando as saudades dos adeptos: eles em casa a aplaudir, os outros em campo a marcar golos. Faltava algo. Todos o sentiram. Faltavam os gritos, os abraços, os cânticos, as bancadas a tremer. O ritual dos comes e bebes, antes e depois dos jogos. Faltava vida ao futebol.

A festa do FC Porto campeão 2019/2020
A festa dos jogadores do FC Porto. (Photo by MIGUEL RIOPA / AFP) créditos: AFP or licensors

No regresso possível, o FC Porto recuperou sete pontos ao Benfica, sagrou-se campeão nacional e venceu a Taça. O Real Madrid, com muita polémica à mistura, partiu para uma série de vitórias seguidas e venceu La Liga Espanhola. A Juventus fez o inevitável que era vencer a Séria A italiana. O Liverpool aproveitou a boa 'almofada' de pontos conseguidos antes da pandemia para sagrar-se campeão inglês, pondo fim a uma seca de 30 anos sem vencer o campeonato inglês.

A UEFA confiou o que restava da Liga dos Campeões a Lisboa e fez bem.  A 'final a oito', sem público, realizou-se entre os estádios da Luz e Alvalade e foi um sucesso. Ganhou o Bayern Munique frente ao PSG, já depois de ter atropelado o Barcelona com um impensável 8-2 nos quartos de final. Os bávaros já tinham levantado o 'caneco' na Bundesliga.  No futebol feminino foi o Lyon a vencer a Liga dos Campeões.

bayern munique

O que restava da Liga Europa foi jogada na Alemanha, nas mesmas condições da Champions e todos sabem que Liga Europa significa Sevilha. Se os andaluzes estão lá, são eles os vencedores. Primeiro grande título na carreira de Julen Lopetegui. Sexta final, sexta vitória para o Sevilha.

Com pouco descanso, os jogadores voltaram rápido para uma nova época. O mercado de transferências foi agitado, mas sem grandes mexidas. Bruno Fernandes, que já tinha partido em janeiro de 2020, tornou-se 'rei' no Manchester United, onde soma golos e assistências para todos os gostos. No mercado de verão partiram Alex Telles e Danilo no FC Porto, Rúben Dias no Benfica. A Primeira Liga ganhou Felipe Anderson, Otamendi, Verthongen, Everton, Darwin Nuñes, Waldschmidt, viu regressar Quaresma e muitos outros jovens promissores.

O Benfica, em crise, despediu Bruno Lage e foi buscar Jesus, o Salvador. A SAD fez um avultado investimento no plantel para poder entrar na Liga dos Campeões e sagrar-se campeão nacional.Já com Jesus no comando, o clube foi a votos nas eleições mais renhidas dos últimos anos. Luís Filipe Vieira foi reeleito, mas sentiu na pele o descontentamento dos adeptos. No rival FC Porto, Pinto da Costa também teve forte oposição, mas acabou por também ser reeleito para mais um mandato.

Jesus chegou e prometeu colocar a equipa a jogar o triplo, mas, até agora, nada. Os adeptos 'encarnados' já se contentavam com o dobro. A equipa foi afastada nas pré-eliminatórias da Liga dos Campeões pelo vice-campeão grego, perdeu pontos na I Liga e tem o Sporting à sua frente.

Este também foi o ano do fim de um dos mais mediáticos processos ligados ao futebol. O caso da invasão a Academia do Sporting terminou com nove condenações a prisão efetiva, 28 a pena suspensa, quatro multas e três absolvições, entre as quais a de Bruno de Carvalho, antigo presidente leonino.

Em 2020 o tema racismo ganhou novos contornos no futebol. Moussa Marega foi o primeiro a 'dar uma pedrada no charco' ao abandonar um jogo depois de ter sido alvo de insultos racistas por parte de alguns adeptos do Vitória Sport Clube, em fevereiro.  Um caso que fez correr muita tinta e colocou o futebol português nas bocas do mundo, pelos piores motivos.

O tema voltou à baila em dezembro, na Liga dos Campeões, no jogo entre o PSG-Istambul Basaksehir, onde o quarto árbitro terá proferido insultos racistas contra um técnico dos turcos. As duas equipas abandonaram o terreno de jogo e o encontro só seria concluído no dia seguinte, já com outra equipa de arbitragem.

Mas nem só de COVID-19 se viveu este 2020

Foi o ano do regresso da Fórmula 1 e do MotoGP ao nosso país e de forma histórica e estrondosa. Portimão testemunhou o voo do Falcão Miguel Oliveira, dono e senhor da pista do Autódromo Internacional do Algarve. Num fim de semana memorável, o piloto de Almada tornou-se no primeiro português a conseguir uma ‘pole position’ de uma prova de MotoGP. Miguel Oliveira alcançou a vitória numa prova dominada do primeiro ao último metro, com um domínio absolutamente avassalador em pista para ser o primeiro português a vencer uma corrida de MotoGP em solo nacional, a sua segunda em MotoGP.

As imagens da vitória de Miguel Oliveira no GP de Portugal
Miguel Oliveira exibe o troféu de vencedor do GP de Portugal @Patrícia de Melo Moreira/AFP créditos: AFP

Pouco tempo antes, na mesma pista, Lewis Hamilton tinha escrito mais uma página na história da Fórmula 1 ao vencer o Grande Prémio de Portugal e passar a ser o piloto com mais triunfos na história da modalidade, deixando para trás o recorde de 91 triunfos de Michael Schumacher.

Em 2020 os portugueses redescobriram a paixão pelo ciclismo, graças a um miúdo de 22 anos. João Almeida fez-nos ficar colados aos ecrãs dos televisores durante vários dias, no Giro de Itália. Durante 15 dias, o jovem da Deceuninck-Quick-Step foi dono e senhor da Volta a Itália em bicicleta, carregando a camisola rosa da prova por mais de duas semanas. Viria a ser derrubado pelo Stelvio, na duríssima 18.ª etapa.  Terminaria o Giro em quarto lugar, a melhor classificação de sempre de um português na prova e deixaria os portugueses cheios de orgulho. Com ele também brilhou Ruben Guerreiro, o 'comboio' de Pegões, vencedor da classificação da montanha, ele que se tornou no primeiro português a vencer uma das quatro classificações principais de uma grande Volta.

joão almeida

No ténis, Rafael Nadal cimentou a sua liderança em terra batida ao vencer Novak Djokovic e conquistar o 13.º título de Roland Garros, igualando assim o recorde de 20 triunfos do suíço Roger Federer no 'Grand Slam'.

2020 terminou a coroar Robert Lewandowski como Melhor Jogador de 2020, num ano em que o polaco do Bayern Munique venceu a Liga dos Campeões (foi melhor marcador da prova), a Bundesliga entre outros títulos. Cristiano Ronaldo foi o segundo mais votado para Melhor do Mundo nos prémios 'The Best' da FIFA, à frente de Lionel Messi, e voltou a entrar no Onze Ideal do Ano do organismo.

Caro leitor, este foi o SAPO 24 que fizemos consigo em 2020

O maior desafio de fazer um resumo do ano de 2020 num site de informação é conseguir falar de mais alguma coisa que não COVID-19. O vírus invadiu o mundo e invadiu as notícias e, para nós como para os leitores, a necessidade de informar foi mais importante que nunca - mas conviveu paredes meias com a exaustão de um tema que não saiu por um único dia das nossas vidas. O que não significa que o ano se resuma a COVID-19 e entre outras notícias que preferíamos não dar, e que estão espelhadas nas que foram mais lidas, também há outras, as boas, as divertidas e aquelas que fomos à procura para ajudar a atravessar este ano difícil.
Caro leitor, este foi o SAPO 24 que fizemos consigo em 2020

É esse o resumo que aqui preparamos e que resulta de uma análise não apenas ao que diariamente levamos até si, caro leitor, mas na forma como nos leu. Essa é a trave mestra do jornalismo de hoje e de sempre, uma porta aberta ao diálogo, uma conversa, um espaço que construímos em conjunto. É isso que vai encontrar neste resumo.

Comecemos então pelo princípio, que na verdade, aconteceu no fim de 2019.

Há precisamente um ano estávamos longe de imaginar o que 2020 nos traria. Sabíamos dos rumores de uma doença altamente contagiosa na China, mas só a 31 de dezembro Pequim viria a reportar oficialmente vários casos relacionados com uma pneumonia viral na cidade da província de Hubei. Era longe, estava longe, mas a velocidade do contágio em Itália rapidamente nos obrigou a confrontar o custo imediato de uma pandemia que nos fechou em casa e com isso custou e custará negócios e empregos.

Wuhan. A cidade chinesa onde começou a pandemia da COVID-19 tenta regressar à normalidade
Mercado noturno de Whuan. Hector RETAMAL / AFP créditos: AFP

Não tínhamos (e não temos) todas as respostas, mas nem por isso cessámos o relato, não o podíamos fazer numa altura em que a procura de informação fazia disparar a audiência da maior parte dos jornais e televisões em Portugal. Como tantas outras, também a redação do SAPO 24 foi para casa — para várias casas e foi a partir delas que se reinventou para dar resposta às novas e urgentes necessidades dos nossos leitores.

Procurámos, em primeiro lugar, fazer um retrato da pandemia, não apenas dando sentido aos números que durante meses subiram vertiginosamente em Portugal e no Mundo, mas também através do testemunho de quem estava no terreno, em OvarVila RealFelgueiras, no Corvo, na Madeira ou em Paços de Ferreira.

A par, ajudámos quem nos lê a navegar num país em Estado de Emergência, com novas regras, limitações e um sem número de recomendações que se atropelaram, dia após dias, naquilo que mais tarde viemos a batizar de “o novo normal”. Foram vários os guias práticos publicados — dos quais se destaca aquele em que ensaiávamos a normalidade possível. O objetivo? Explicar sem inundar, ser útil sem assoberbar.

Cabeleireiros, cinemas, ginásios, hotéis, restaurantes, faculdades, creches. Assim se desenha o regresso a uma vida mais
créditos: JOSE COELHO/LUSA

Foi com especial atenção — com uma área dedicada, uma newsletter diária e algumas conversas — que demos conta de todas as opções políticas e, sobretudo, dos apoios destinados às empresas e ao emprego. Porque quem não morre da doença continua a padecer da cura. E, pelo caminho, desmistificamos alguns dos mitos que iam ganhando raízes nas redes sociais.

Grande Confinamento, como ficará para História, afastou-nos não apenas das lojas e restaurantes, mas dos teatros, salas de concerto e estádios de futebol. Durante meses o pequeno ecrã substituiu vários palcos e por isso mesmo procurámos deixar sugestões para ver e ouvir e, claro, ler.

Mas se não há 2020 sem COVID-19, também é verdade que 2020 não se esgota no vírus.

Enquanto sonhávamos com a vacina e lutávamos pelo aplanar da curva, despedimo-nos de grandes nomes — Pedro LimaDiego MaradonaSean ConneryEduardo LourençoJoaquim Pina MouraFernanda LapaTozé MartinhoLuís SepulvedaKobe BryantCruzeiro Seixas, apenas para referir alguns.

Por cá, e apesar da pandemia, não deixámos de olhar para o global — do vergonhoso homicídio de Ihor, ao racismo que colheu a vida de Bruno Candé, à TAP, cuja “doença” antecede o vírus que obrigou a aterrar aviões — e para o local — mergulhámos no Porto do passado para entender o do presente, viajámos para um Minho de olhos postos no futuro, entrámos em campo para contar o sonho do Canelas e fomos a Fátima ver o professar da fé em pandemia.

Fátima: Peregrinação Internacional Aniversária de Maio
créditos: PAULO NOVAIS/LUSA

E continuámos, como não podia deixar de ser, a olhar para o mundo que se desenha à nossa frente: Da América de George Floyd, de Trump, Biden e Kamala Harris; à Europa no limbo do Brexit, sem esquecer a massacrada Beirute.

Apesar das imposições do presente (e urgente), procurámos olhar em frente e pensar o futuro de todos nós. Na rubrica "Regresso a um mundo novo" trouxemos para a linha da frente jovens até aos 30 anos, das mais diversas áreas de conhecimento, para refletir connosco; com os convidados do projeto 20/30 conversámos sobre os desafios da década.

Aliás, conversámos com várias pessoas este ano. Sobre quem somos - “fomos habituados a obedecer de mais” ou “Portugal mudou muito, os portugueses não mudaram nada"—, sobre saúde mental, sobre como lidar com as nossas crianças num tempo tão desafiante, sobre um bom vinho e até sobre como nos mantermo-nos em forma apesar do confinamento.

Exercício físico em casa? Luís Bickman diz-nos (e mostra-nos) como
créditos: 24

Demos voz aos músicos que fazem do acorde um esforço de resistência, de Mariza, a Samuel Úria (protagonista das nossas descomplexadas Conversas de Roupão) , passando por Pedro Abrunhosa ou Filipe Sambado. E, claro, tirámos tempo para recordar Amália no centenário do seu nascimento e para ir à ópera e ao teatro.

Com a ajuda dos nossos cronistas, olhámos para o mundo com humor, procurámos na provocação um motivo para  pensardemos espaço ao contexto que justifica a história, lançámo-nos na análise para lá da notícia e com ela veio a reflexão sobre o nosso lugar no mundo.

Como se faz um site de informação em pandemia? Com a consciência de que nunca foi tão importante o valor da informação e de que o jornalismo de qualidade (como o Homem) não é uma ilha. É suportado por bons leitores, leitores exigentes, que querem ser parte ativa na sociedade em que se inserem, e que por isso exigem e participam no jornalismo como um processo de permanente diálogo e escrutínio que é.

Nunca fomos tão lidos como agora. Agradecemos o voto de confiança e assumimos o peso da responsabilidade, e por isso mesmo trabalhamos todos os dias para estar à altura.

2020: o ano em que reinventámos o mundo e a forma como vivemos

No ano que está a terminar o mundo viu-se confrontado com algo inédito: uma pandemia que obrigou a grande readaptação nos estilos de vida. Moda, Saúde, Fama, Gastronomia e Lazer foram áreas que souberam contornar a COVID-19. Se por um lado perdemos com o contacto direto, ficámos a ganhar na relação que estabelecemos com o digital.
2020: o ano em que reinventámos o mundo e a forma como vivemos
O chef, Ljubomir Stanisic, participa na manifestação de trabalhadores da área da restauração, arte e cultura onde apresentam várias reivindicações de apoio aos diversos setores. © 2020 RODRIGO ANTUNES/LUSA

Com a chegada do coronavírus a Portugal no dia 2 de março e a falta de coordenação internacional na luta contra a pandemia, foram inevitáveis os seus efeitos a nível mundial, afetando todas a áreas e setores praticamente sem exceção. Mas, num ano em que a pandemia provocada pela COVID-19 dominou a agenda mediática, que outros acontecimentos positivos e negativos marcaram e se destacaram em 2020 na área de Lifestyle?

Num ano em que mais de 75% dos dias foram de pandemia e restrições, nem tudo foi mau. A aprovação da despenalização da morte medicamente assistida, na generalidade no Parlamento em fevereiro, abriu caminho para uma maior humanização em situações de fim de vida. A decisão de promulgar a lei está nas mãos do chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, que ainda terá de se pronunciar sobre o projeto que está a ser redigido na especialidade pelo grupo de trabalho criado para o efeito.

Já no último trimestre do ano, a maioria dos partidos uniu-se na luta de uma mulher que pretendia engravidar do marido falecido. Assim, a 23 de outubro, foi aprovado em sede parlamentar a procriação medicamente assistida ‘post mortem’, iniciativa contestada pelo PSD para quem “as crianças têm direito a ter um pai”. A discussão no parlamento partiu de uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos (ILC), que reuniu mais de 20 mil assinaturas, para consagrar a inseminação ‘post mortem’ na lei da Procriação Medicamente Assistida (PMA), dinamizada em fevereiro por  , que vai assim conseguir engravidar de Hugo, o seu marido que faleceu e sonhava ser pai.

COVID-19: Anéis devem ser retirados antes de lavar as mãos e a lixívia deve ser diluída em água fria, recomenda DGS
créditos: Saúde

Mas de facto a pandemia foi o que nos marcou a todos em 2020. Implicou mudanças na vida de milhares de milhões de seres humanos. Finalmente aprendemos a lavar corretamente as mãos ou a respeitar a distância mínima de segurança entre os demais seres humanos. E ainda fez com que muitas pessoas adotassem (ou não perdessem) rotinas saudáveis de treino, com diversos profissionais a disponibilizarem treinos diários online e gratuitos durante este período.

Apesar de Portugal ter conseguido achatar a primeira curva epidémica em março e abril, a segunda vaga chegou em outubro com uma explosão de casos de infeção pelo vírus SARS-CoV-2. Mas novembro trouxe uma boa notícia: finalmente a vacina. Não uma, mas várias.

Na área da moda, os primeiros casos de coronavírus em Portugal obrigaram a reajustes na realização do Portugal Fashion que, em 25 anos de história, se viu forçado pela primeira vez a realizar desfiles à porta fechada e, consequentemente, a cancelar os restantes dias do certame. Isto fez com que se repensassem as futuras edições da Moda Lisboa e Portugal Fashion, que acabaram por se realizar numa lógica adaptada à realidade COVID-19.

O mesmo se passou com as Semanas da Moda internacionais - Londres, Nova Iorque, Milão, Paris e Alta Costura – que, quase sem exceções, apostaram em formatos 100% digitais, sem público, celebridades e o habitual street style. Vídeos, galerias virtuais e imagens em três dimensões forma alternativas encontradas por grandes designers e marcas de luxo para apresentarem as suas propostas.

Devido à escassez de produtos, várias casas de luxo decidiram unir esforços na luta contra o coronavírus através da produção de batas hospitalares e distribuição de gel desinfetante. Também foram muitas as marcas que tiveram de se reinventar e adaptar face à pandemia, apostando na produção de máscaras de proteção individual e na produção de coleções confortáveis e loungewear.

Roupas confortáveis são o novo must have das fashionistas
créditos: Lifestyle

O ano de 2020 também ficou marcado por grandes mudanças na indústria da moda: Jean Paul Gaultier despediu-se das passerelles com desfile em Paris, Clare Waight Keller abandonou a liderança artística da Givenchy, a Gucci anunciou que ia deixar de desfilar em Milão e passar a lançar apenas duas coleções anuais em vez das tradicionais oito e o cantor Harry Styles fez história ao ser o primeiro homem a protagonizar a capa da Vogue. É de salientar a perda de dois grandes nomes do mundo da moda este ano: os estilistas Kansai Yamamoto e Zenko Takada.

Na área de fama, os duques de Sussex chocaram o mundo ao anunciarem o seu afastamento da família real em janeiro. Recorde-se que a pressão e críticas dos média fizeram com que Harry e Meghan renunciassem ao seu papel real para assumir a sua independência financeira gerando uma crise real, apelidada pela imprensa de Megxit. A apresentadora Cristina Ferreira foi outros dos temas mais falados do ano ao anunciar o seu regresso à TVI enquanto diretora de entretenimento e ficção e acionista da Media Capital.

 Kim Kardashian comunica fim de 'Keeping Up With The Kardashians'

Em setembro Kim Kardashian anunciou o fim do seu reality-show ‘Keeping Up with The Kardashians’ cuja última temporada irá para o ar em 2021. O programa, que esteve no ar durante 14 anos, foi responsável por catapultar a carreira de Kim Kardashian (e da restante família), dona de um império avaliado em cerca de 640 milhões de euros.

O mundo do espetáculo nacional ficou em choque com a morte do ator Pedro Lima, que faleceu em junho, aos 49 anos, e da cantora Sara Carreira, que perdeu a vida aos 21 anos num acidente de viação em dezembro.

Já a modelo Chrissy Teigen e a ex-atriz Meghan Markle comoveram o mundo ao publicarem relatos tocantes na primeira pessoa sobre a dor que experienciaram ao perderem um filho. O tema, ainda visto como tabu em pleno século XXI, gerou uma onda de solidariedade com muitas personalidades a partilharem as suas histórias nas redes sociais.

Em tempos de confinamento há quem tenha aproveitado este contexto particularmente difícil para explorar as suas paixões e registar fotograficamente este período, lançar campanhas e iniciativas solidárias e dar largas à imaginação, seja para passar o tempo, ver aqueles que mais ama e até incentivar a reflexão de questões sociais importantes.

Satellite View of the Americas on Earth Day
créditos: Lusa

Devido ao confinamento verificou-se uma descida na poluição atmosférica em diversas cidades europeias e uma redução significativa da concentração de dióxido de azoto (NO2) no ar de várias cidades portuguesas no primeiro semestre do ano. Ainda na área de ecologia, o NEYA Lisboa Hotel venceu o prémio ambiental internacional Energy Globe, um prestigiado galardão austríaco que distingue anualmente projetos de eficiência energética, de energias renováveis e de conservação de recursos ambientais inovadores.

Por outro lado a pandemia provocou um aumento do lixo produzido e do consumo de plástico em embalagens alimentares e no material de proteção pessoal única, cujo descarte correto foi negligenciado e estes resíduos passaram a ser encontrados nas ruas e passeios. Em termos de alterações climáticas, um relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) revela que 2020 foi o segundo ano mais quente até hoje, depois 2016 e antes de 2019.

Até março, o setor da restauração estava confiante com muitas aberturas, diversificação da oferta, conquista de mercado fora dos grandes centros, inclusivamente estrelas Michelin para restaurantes em Trás-os-Montes e Beira Interior. Com o “fecho” da economia, o setor caiu abruptamente, verificando-se um primeiro momento de desnorte e de encerramentos. Paralelamente, inúmeros eventos - Peixe em Lisboa, Sangue na Guelra, Lisbon Bar Show e BTL - são desmarcados ou passam para o formato online. Feiras de produtores – vinhos incluídos - são canceladas. Com o encerramento dos restaurantes, os serviços de take away e delivery ganham terreno e reinventam-se com novos produtos e, inclusivamente, restaurantes Michelin. Paralelamente, o digital torna-se a casa para apresentações de cozinha, que inclui o setor dos vinhos.

COVID-19: Restaurantes nacionais aceleram para o take away e entregas ao domicílio. Conheça as ofertas
créditos: Lifestyle

Após a reabertura da restauração em maio, o verão traz um “balão de oxigénio” para o setor, embora tenha sido temporário. Com outubro a economia volta a fechar parcialmente para encontrarmos a situação presente, com os restaurantes a meio-gás, encerramentos temporários ou definitivos e adiamento de inaugurações. Dezembro traz um pequeno alento com Portugal a arrecadar mais duas estrelas Michelin com as entradas dos restaurantes 100 Maneiras (chefe de cozinha Ljubomir Stanisic) e Eneko Lisboa (do chefe de cozinha basco Eneko Atxa).

Mas nem tudo são más notícias. Devido ao estado de Emergência, que obrigou ao confinamento de milhares de famílias portuguesas, é de salientar as iniciativas lançadas para entreter miúdos e graúdos. Para além de workshops, concertos, oficinas e atividades lúdicas, diversos museus e teatros passaram a ter programações dedicadas aos mais novos, algumas editoras disponibilizaram e-books gratuitos de obras clássicas e ainda lançaram histórias narradas por escritores para entreter as famílias neste período de confinamento doméstico.

Para reduzir o risco de contágio foram ainda cancelados eventos nacionais, destacando-se as marchas populares de Lisboa, os tradicionais arraiais e casamentos de Santo António. O período de confinamento obrigou ainda ao encerramento de museus, monumentos, bibliotecas e diversos espaços culturais do país, que tiveram de se readaptar, apostando em visitas virtuais e interativas  e criando condições de segurança para receber os futuros visitantes.

ARRAIAIS / SANTOS POPULARES
créditos: Lusa

Apesar da pandemia e da impossibilidade de viajar, Portugal teve direito a integrar a lista de recomendações europeias da Condé Nast Traveller para 2021. A revista britânica colocou o arquipélago dos Açores (10º lugar) e Melides (em 2º lugar) no seu ranking de destinos a visitar no próximo ano. Para além disto, Portugal foi distinguido com 21 World Travel Awards, conhecidos como os “Óscares do Turismo”, elegendo o Porto como o Melhor Destino ‘City Break’ da Europa e Lisboa como o Melhor Destino Europeu de Cruzeiros. O Algarve voltou a ser o Melhor Destino de Praia da Europa e os Açores foram distinguidos como o Melhor Destino de Turismo de Aventura.

O ano de 2020 termina de forma muito semelhante ao mês de março: de forma atípica, com o mundo em suspenso devido ao confinamento e às elevadas restrições que se fazem sentir pelo mundo fora. Apesar de não podermos celebrar o Natal e a chegada do novo ano como tradicionalmente o fazemos, por outro lado podemos festejar a aprovação da vacina da Pfizer-BionNTech, que começará a ser administrada na União Europeia ainda este ano.

A Cultura congelada e com um futuro (potencialmente) comprometido. Adeus, 2020

Do impacto devastador da pandemia às pequenas alegrias de ver "Parasitas" vencer os Óscares ou Ana Rocha de Sousa brilhar em Veneza. Um olhar sobre um ano (de mais baixos do que altos) na Cultura.
A Cultura congelada e com um futuro (potencialmente) comprometido. Adeus, 2020

Será difícil olhar para trás e dizer que 2020 trouxe algo de remotamente positivo, especialmente para o já fragilizado setor da Cultura que, com o embate da pandemia, vê no seu futuro uma incerteza desmoralizadora. Levará tempo para descobrirmos a extensão total da bomba atómica e para saber quem e o que sobreviverá ao golpe do ano que agora se encerra. Uma coisa sabemos: a Cultura será inevitavelmente outra em toda a linha depois de recolhidos os destroços e contados os mortos e sobreviventes.

2020 foi um ano diferente também para nós, no SAPO Mag. Sem festivais de música e cinema com edições físicas ou encontros presenciais com artistas e atores, também nós nos adaptámos ao confinamento e procurámos, a partir de casa, levar até si novas rubricas ao jeito destes novos tempos, como as nossas Festas do Pijama, as compilações de 10 sugestões de... e a continuação das nossas entrevistas @SAPOMag, agora à distância.

Cinema. Um deserto nas salas, de filmes e de público, com uma vitória portuguesa a fazer subir o moral

Sala de cinema COVID-19

Quando a 9 de fevereiro, “Parasitas” fazia história nos Óscares como o primeiro filme de língua não inglesa a vencer o galardão para Melhor Filme, estávamos longe de imaginar o ano negro que aí viria para o cinema.

Após décadas ausente da corrida ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, a vibrante indústria do cinema da Coreia do Sul conseguiu a primeira nomeação e vitória no rebatizado Melhor Filme Internacional.

Mas mal sabia o realizador Bong Joon-ho que "Parasitas" ainda chegaria mais longe: venceu Melhor Filme, Realização e Argumento Original na cerimónia. Foi uma das primeiras e a última grande festa da Sétima Arte em 2020.

Depois disso, a propagação da pandemia de COVID-19 por todo o mundo chegou a encerrar totalmente as salas de cinema durante vários meses – algo que não aconteceu nem durante a I e II Guerras Mundiais -, travou a fundo o calendário da estreias mais relevantes no grande ecrã e, mesmo depois de reabertas as salas, iniciou um ciclo vicioso sem solução à vista: se não há filmes de apelo suficientemente forte nas salas, o público não vai ao cinema; se o público não vai massivamente ao cinema, a sobrevivência das salas fica em risco.

A primeira grande “vítima” da pandemia foi a estreia de “007: Sem Tempo Para Morrer”, logo no ano em que também nos despedimos do Bond original, Sean Connery.  O novo filme da saga Bond deveria ter-se estreado em abril e, logo em março, foi empurrado para novembro, para depois ser de novo atirado para abril de 2021, como, aliás, o foram quase todos os grandes blockbusters agendados para este ano. “Dune”, “Velocidade Furiosa 9”, “Viúva Negra”, “Top Gun: Maverick” ou “West Side Story” foram apenas alguns dos exemplos de filmes de grande orçamento que tiveram de dar um salto de um ano.

Mas alguns decidiram testar novas águas: “Mulan”, a grande aposta da Disney para 2020, foi diretamente para o serviço de streaming Disney+ - inicialmente nos EUA com um valor adicional -, e “Mulher-Maravilha 1984” manteve a sua estreia no cinema para dezembro mas chegou simultaneamente ao streaming nos Estados Unidos, através da HBO Max. Foi esta, de resto, a estratégia que a Warner Bros. decidiu aplicar a todos os seus filmes com estreia até ao final de 2021.

Da lista de blockbusters agendados para este ano, com uma estreia tradicional em cinema, apenas sobrou “Tenet”, de Christopher Nolan, realizador que já criticou duramente o caminho tomado pela Warner Bros. em 2021.

Outro cancelamento de peso foi o da edição física do Festival de Cannes, que até então apenas não se tinha realizado em 1948 e 1950 por razões orçamentais, e tinha sido cancelado a meio em 1968 em solidariedade com o movimento do Maio de 68. Este ano teve apenas uma edição reduzida em versão digital.

Mas porque nem tudo foi negro, 2020 também trouxe o reconhecimento ao cinema português com a glória de “Listen”, de Ana Rocha de Sousa. No Festival de Veneza – o único dos grandes que manteve a sua edição física – venceu o Leão do Futuro e o Prémio Especial do Júri Horizontes. Acabou por ser rejeitado como candidato português na corrida ao prémio de Melhor Filme Internacional nos Óscares, por não ter suficientes diálogos em português, mas levou muitos portugueses ao cinema para ver um filme nacional.

Porque nos fechámos em casa com mais tempo para ver filmes e séries, o SAPO Mag foi à procura de sugestões de quem sabe. Reunimo-las na rubrica “10 sugestões de”. Passámos também a contar com as sugestões semanais do crítico Rui Pedro Tendinha no magazine "Top Tendinha", que nos guiou sobre o que ver no cinema, em streaming e em VOD.

2020 fecha com muita incerteza para a indústria do cinema. A recuperação será lenta e dura, ainda com um calendário em constante mutação e persiste a pergunta: depois do golpe, que salas de cinema permanecerão abertas para mostrar os grandes filmes num grande ecrã?

Um verão sem cor nem festivais. Uma indústria a tentar permanecer à tona

Global Citizen Together At Home

Festivais cancelados, concertos adiados, a indústria da música a tentar agarrar-se a pequenos eventos para sobreviver e a não conseguir. 2020 podia resumir-se assim.

O verão, habitualmente sinónimo de festivais - de norte a sul, passando pelas ilhas, entre junho e setembro são dezenas os eventos que atraem milhares e milhares de pessoas – foi um vazio de silêncio neste ano para esquecer.

Em 2019, de acordo com a Associação Portuguesa de Festivais de Música, realizaram-se 287 festivais de música em Portugal, que receberam mais de dois milhões de pessoas. Somando bilhetes, transporte e outros gastos, os festivaleiros contribuíram num só ano com 18 mil milhões de euros brutos para a economia nacional.

Mas 2020 trouxe outro cenário: pela primeira vez em décadas, a música não juntou amigos e famílias em recintos ao ar livre. O Parque da Bela Vista, a Praia Fluvial do Tabuão, o Passeio Marítimo de Algés, a Zambujeira do Mar, o Parque da Cidade do Porto, a Praia do Meco, a Antiga Seca do Bacalhau de Gaia, o Parque Ribeirinho de Amarante ou a Aldeia de Cem Soldos não se encheram de milhares de festivaleiros que todos os anos vivem novas histórias e aventuras ao ritmo da música. As edições de 2021 começam a ser planeadas mas não há ainda certezas de que haja condições para as fazer quando lá chegarmos.

Este, por necessidade, foi também ano de reinvenção: em alternativa aos eventos físicos, a música foi para palcos virtuais e tentou criar plateias aí. E um evento à escala global em abril fez parar os fãs.

O mundo juntou-se através da música e os ecrãs das televisões, dos computadores, smartphones e tablets foram a primeira fila de um grande palco que recebeu dezenas de pequenos concertos na  iniciativa "One World: Together at Home”, que contou com a participação de vários artistas e foi acompanhada por milhões de espectadores em todo o mundo.

A iniciativa, uma ideia de Lady Gaga, foi transmitida nas redes sociais e em vários canais de televisão e estações de rádio de todo o mundo.

No SAPO Mag, abraçámos o confinamento, vestimos roupa confortável e tivemos muitas conversas com artistas em direto na Festa do Pijama.

Para lá da pandemia, foi ano de se celebrar Amália. No seu centenário, assinalado em julho, foram promovidas várias iniciativas e muitos artistas homenagearam a fadista. Mariza editou um álbum de tributo a Amália, Carminho escreveu em sextilhas um livro biográfico para crianças sobre a fadista e Cuca Roseta cantou Amália no seu disco lançado em abril.

Lá fora, a rainha foi Billie Eilish: entrou em 2020 com o pé direito, com a vitória nos Grammys, foi a voz da canção de 007 “No Time To Die”, e terminou o ano como a artista feminina mais ouvida no Spotify.

Há 39 anos que nenhum artista conseguia vencer as quatro principais categorias nos Grammys ("Big Four") - Canção do Ano, Melhor Novo Artista, Álbum do Ano e Gravação do Ano. De acordo com a publicação, Christopher Cross foi o último artista a conquistar, em 1981.

A cantora entrou ainda para a história ao vencer o Grammy de Melhor Álbum Pop Vocal, tornando-se na mais jovem artista a conquistar o galardão.

A fechar o ano, a trágica notícia da morte de Sara Carreira aos 21 anos deixou o país de coração apertado. A cantora tinha começado o seu percurso na música em 2018, tinha já lançado vários singles e um EP, que apresentou em direto no SAPO Mag, e tentava fazer o seu próprio caminho, para lá do seu conhecido apelido.

O streaming e a pandemia como uma oportunidade. O aceso mercado de transferências na TV portuguesa

Confinamento e a série

Se os cinemas sofreram um impacto impensável em 2020, com quedas de espectadores a rondar os 80%, o streaming teve na pandemia uma oportunidade de ouro para explodir (ainda mais).

Netflix e Disney+ aumentaram os subscritores a nível mundial, geraram-se verdadeiros fenómenos em torno de novas séries estreadas e fizeram-se experiências a cruzar o cinema e o streaming (como as que já referimos de “Mulan” e “Mulher-Maravilha 1984).

Foi em setembro que o serviço de streaming da Disney entrou em Portugal com um catálogo que junta todas as chancelas do império: Disney, Pixar, Star Wars, Marvel, Fox e National Geographic.

No mesmo mês, “Succession” e “Watchmen” triunfaram nos Emmys, reforçando o peso dos serviços de streaming também no circuito de prémios, e “Schitt’s Creek” surpreendeu ao levar para casa nove estatuetas.

Entre as séries-fenómeno do ano está a bizarra série documental “Tiger King”, da Netflix, sobre figuras excêntricas do submundo da criação de felinos selvagens e o muito estranho Joe Exotic. Cativou desde os espectadores anónimos a estrelas como Jared Leto ou Edward Norton e tem já programada uma versão ficcional protagonizada por Nicolas Cage.

Em outubro, o mundo passou a ter um súbito e inesperado interesse por xadrez quando a série “Gambito de Dama”, sobre a prodigiosa jogadora Beth Harmon (Anya Taylor-Joy) e a sua luta contra demónios pessoais, entrou para todos os tops da Netlix.

E em novembro, voltámos a entrar no palácio de Buckingham na nova temporada de “The Crown”, desta vez já com o trunfo da princesa Diana para a abrir a novos espectadores. A temporada levantou novas polémicas e um debate sobre se a Netflix deveria ou não colocar um aviso de obra ficcional na série.

Para que ninguém perdesse o fio à meada nas novidades de TV e streaming, continuámos a levar até si semanalmente a rubrica "Zapping da Semana".

 Cristina Ferreira

Em Portugal, o tema “Cristina Ferreira” incendiou o mundo da TV. Em julho, a apresentadora deixou a SIC, onde estava há cerca de um ano e meio, para voltar à TVI como cara da estação, diretora de entretenimento e acionista. A transferência motivou um processo judicial ainda em curso, fez manchetes e mexeu profundamente no “mercado de transferências” televisivo, com novas contratações a acontecerem tanto na SIC como na TVI, guerras de audiências diárias e batalhas por inovação em formatos entre os dois canais.

Uma das grandes apostas da SIC já a fechar o ano foi também a do seu serviço de streaming OPTO, com várias das produções do seu catálogo linear, mas também novos investimentos em séries e documentários, feitos especificamente para o serviço.

Um dos documentários originais da nova plataforma da SIC deixa um olhar sobre um dos maiores fenómenos da cultura pop de 2020 dentro de portas, "Como é que o Bicho Mexe?". Os diretos de Bruno Nogueira no Instagram começaram por ser um desabafo sobre a pandemia da COVID-19 e o confinamento e acabaram por converter uma legião de seguidores e participantes - Cristiano Ronaldo, Bruno Fernandes, Nélson Évora ou Salvador Sobral foram alguns dos cúmplices mediáticos ao longo de dois meses. A última edição, antes de dois regressos pontuais, quebrou o recorde de visualizações da rede social em Portugal, juntando cerca de 175 mil fãs.

Ninguém terá seguramente saudades de 2020, particularmente na Cultura, onde ele mais doeu. Olhamos agora para a frente para ver que cicatrizes ficarão e que novas oportunidades este mundo que ninguém esperava ver fez nascer.

Um mergulho (forçado) num mundo cada vez mais digital

Vivemos cada vez mais dentro dos ecrãs dos computadores, dos smartphones, tablets e televisores, mas 2020 foi o ano em que esse mergulho foi mais profundo. E forçado. Poderá sair daqui uma necessidade de voltarmos a ser mais “analógicos”?
Um mergulho (forçado) num mundo cada vez mais digital
Tek

Os sinais dos riscos que o novo coronavírus poderia trazer para a nossa realidade começaram a chegar pela internet, as redes sociais e a televisão, mas pareciam bastante distantes, um problema “asiático”. Só quando os casos se avolumaram na Europa e chegaram a Portugal no início de março é que a realidade pareceu concretizar-se. O que se assemelhava a um filme “de fim do mundo” passou a ser o dia a dia de todos nós. Por muito mais tempo do que era esperado.

O mundo ficou mais silencioso e até a qualidade do ar melhorou com o confinamento e a redução de trânsito. Fechados em casa, em teletrabalho (pelo menos os que podiam), começámos a assistir a um desenrolar de acontecimentos que ainda pareciam longínquos. A redação do SAPO TEK pegou nos computadores e mudou-se para as suas casas na semana de 10 de março, ainda antes do confinamento determinado pelo Governo, e as ferramentas digitais que já usávamos no dia a dia passaram a ser ainda mais importantes. O telefone e as videoconferências substituíram as conferências físicas e as entrevistas presenciais, as reuniões de redação passaram a ser virtuais e as plataformas colaborativas ajudaram a fazer a ponte para a planificação do trabalho, enquanto as redes de comunicações sustentavam tudo, felizmente com muito poucas falhas.

Foi assim no país inteiro e o balanço feito das infraestruturas é positivo, tendo sido medido amiúde pelos operadores e os reguladores, que mostram um cenário em que grande parte dos profissionais passaram a trabalhar a partir de casa e em que as crianças e jovens se mudaram para salas de aula virtuais, no computador, no tablet, no smartphone ou na televisão.

Mas não foi tudo fácil, como fomos percebendo. Muitos tiveram de levar os computadores de secretária para casa, não tinham largura de banda suficiente para fazer o trabalho, ou espaço físico para estarem concentrados durante as horas de expediente. Houve uma corrida aos computadores portáteis, routers e impressoras, para garantir condições de funcionamento em teletrabalho, mas muitas famílias não tinham equipamentos suficientes para garantir o trabalho dos pais e a escola dos filhos em plataformas eletrónicas, aumentando um fosso digital que já se conhecia. E as empresas enfrentaram os mesmos problemas, de escassez de equipamentos de mobilidade e falta de preparação de infraestruturas de acesso e de segurança para trabalho à distância.

Transformação digital forçada

Os ecrãs das plataformas digitais passaram a ser o acesso ao mundo, para coisas tão simples como falar com os amigos e a família, enquanto os números da pandemia e a informação sobre os números de pessoas infetadas e em cuidados intensivos eram partilhados diariamente na conferência do ministério da Saúde e da DGS. Os temas relacionados com o coronavírus estavam nos tops das pesquisas e de notícias lidas, enquanto se procurava informação sobre os sintomas, a forma de nos protegermos e maneiras de reenquadrar a vida naquilo que se convencionou chamar “o novo normal”. O combate à desinformação, ou as chamadas fake news, tornou-se mais crítico, com as plataformas a desenvolverem sistemas de alerta e widgets de informação fidedigna para manter as pessoas (bem) informadas.

Até porque tudo passou, ainda mais, a fazer-se online.  As formas de equilibrar a vida pessoal e profissional, fazer exercício em casa, a confeção de pão e a resolução de problemas de comunicação e videoconferências ocuparam os primeiros lugares das preocupações, das pesquisas e das partilhas.

O resultado imediato de toda a mudança foi uma transformação digital “forçada”, em que se assume que foram dados passos que de outra forma poderiam levar anos a conseguir. Mudaram-se mentalidades de empresas e trabalhadores que não acreditavam ser possível o trabalho com horários flexíveis e à distância. Prepararam-se condições para telescola e a garantia de equipamentos a quem não os tinha. Neste caso as iniciativas solidárias foram uma mais valia e mostraram o potencial da capacidade de mobilização, como a Tech4Covid, que juntou dezenas de projetos de áreas muito diferentes, de plataformas de explicações online a aplicações, recondicionamento de equipamentos e ferramentas de colaboração A própria OCDE reconheceu o papel importante que a inovação estava a ter em Portugal nesta área.

Nove meses depois do início da pandemia o balanço desta transformação digital forçada não é todo cor de rosa, e a noção é que haverá muitas empresas que poderão mesmo ficar pelo caminho. Um estudo da Deloitte mostra que a percentagem de empregos que não podem ser “digitalizados” é grande e a própria Confederação Industrial Portuguesa (CIP) indica que há uma falta de competências digitais que tem de ser ultrapassada. O Plano de Ação para a Transição Digital tem desenhadas uma série de medidas que foram preparadas antes da COVID-19 mudar a realidade mundial e muitas já estão a ser implementadas, mas é preciso que cheguem a tempo.

Tecnologia cada vez mais próxima

OCDE: Portugal é o país com mais projetos
créditos: Tek

Sem surpresas o combate aos efeitos do coronavírus assumiu este ano o maior protagonismo e trouxe maior visibilidade à tecnologia ligada à saúde e à investigação biomédica, com muitos recursos a apostarem nesta área e em toda a ajuda que a supercomputação e a cloud podem dar para o desenvolvimento de sistemas preditivos e o desenvolvimento de novos fármacos, assim como apoio e assistência aos mais necessitados. As aplicações de rastreamento de contactos, como a portuguesa StayAway COVID, foram apresentadas como uma solução para quebrar as cadeias de contágio mas geraram polémica sobre os efeitos negativos na privacidade e os benefícios acabaram por ainda não se concretizar pelo baixo nível de casos positivos reportados.

Mas nas outras áreas não parou a inovação, apesar dos consumidores parecerem estar mais focados em resolver problemas imediatos do que em comprar os topos de gama dos smartphones, o que teve impacto no mercado global. Ecrãs enroláveis, dobráveis, mais capacidade de processamento e bateria, uma nova geração de consolas e a aposta em plataformas de gaming na cloud estão nos primeiros lugares do que de melhor o ano trouxe em termos de novidades no consumo, tudo suportado em plataformas mais potentes, onde a inteligência artificial contribui para uma personalização mais eficiente com base em dados reais de utilização.

Experimentámos muitas das novidades do mercado, em laboratórios improvisados nas “redações” provisórias. Foi a solução possível com os grandes eventos cancelados, a começar pelo Mobile World Congress de Barcelona que foi apanhado logo no início da chegada do coronavírus à Europa. As feiras e conferências passaram a realizar-se online, num modelo que se tornou muito menos interessante, como provou o Web Summit 2020, e sem possibilidade de experimentação local. E parece que assim continuará. Já em janeiro a CES vai optar também pela plataforma online em vez da exposição em Las Vegas e, apesar de haver projetos para o MWC em Barcelona em junho 2021, é possível que nessa data ainda seja cedo demais para voltar a juntar milhares de visitantes e expositores no mesmo espaço.

O potencial do 5G por concretizar

5G: Relatório do grupo de trabalho sobre questões de segurança foi classificado como

Um dos dossiers que continuámos a acompanhar de perto foi o do lançamento do 5G em Portugal. Antes da pandemia tudo indicava que em julho poderíamos ter novos serviços a funcionar com a quinta geração móvel e todas as promessas de maior velocidade e menor latência, assim como de lançamento de novos serviços, mas o leilão acabou por ter de ser atrasado e com isso agudizou-se uma guerra que já estava latente entre os operadores de comunicações móveis e o regulador do mercado. Depois de ter sido conhecido o regulamento final para o leilão, as acusações e ameaças de recurso a tribunais e congelamento de investimentos multiplicaram-se, mas a verdade é que o procedimento seguiu o seu curso e tudo indica que deverá arrancar por estes dias, o que coloca como possível o lançamento de serviços no primeiro trimestre de 2021. Nós cá estamos para o experimentar assim que estiver disponível, depois dos primeiros vislumbres que já tivemos nos testes piloto.

Com todos os problemas tão perto, 2020 foi também um ano de “olhar para cima” e o espaço parece ter-se tornado ainda mais interessante. Todos os eventos ligados à astronomia e astrofísica geraram enorme curiosidade e estão entre os artigos mais lidos no SAPO TEK, num ano em que a SpaceX voltou a fazer história, com a NASA na primeira missão comercial a partir do território norte americano para a Estação Espacial Internacional com a Crew Dragon. Depois do primeiro teste bem-sucedido entre março e agosto, a primeira missão oficial já chegou à “casa” dos astronautas em órbita, no ano em que a ISS assinala o vigésimo aniversário.

Há 20 anos que a Estação Espacial serve de casa aos humanos a viver na órbita da Terra
créditos: Tek

Mas os olhos dos cientistas estão colocados para lá da órbita do planeta Terra, numa nova corrida à Lua e a Marte com datas marcadas e com metas bem definidas para os próximos anos, à medida que as descobertas apontam também para a existência de mais exoplanetas e que os instrumentos permitem descobrir mais sobre a origem do universo.

Parece que ninguém sabe como desinstalar 2020 e de forma mais prosaica já estamos a olhar para 2021 embora a incerteza do regresso a uma normalidade ameace os desejos para um ano melhor. Por muito digitais que continuemos a ser, faz muita falta o “modo analógico” dos relacionamentos presenciais e da possibilidade de contacto humano que certamente todos estamos desejosos de retomar.

2020: quando as viagens se tornaram atividade de risco no pior ano de sempre para o turismo

Um ano que prometia ser de crescimento para o setor do turismo viu, com a chegada da pandemia, não só viagens canceladas, como também assistiu a pior crise de que há memória.
2020: quando as viagens se tornaram atividade de risco no pior ano de sempre para o turismo
Máscaras são distribuídas num voo a partir do Cairo em julho de 2020 Khaled DESOUKI / AFP

Aeroportos vazios, aviões em terra, fronteiras encerradas, viagens canceladas, hotéis sem hóspedes, cidades desertas. Medo de sair de casa, quanto mais do país. Imagens que saltam à mente quando tentamos pintar um retrato de 2020 no que toca às viagens e ao turismo.

Olhando doze meses para trás, já é difícil lembrar de como estavam a ser feitas as viagens pré-COVID-19.

Mas o cenário era, exatamente, o contrário. Aeroportos cheios, espaço aéreo repleto, setor da aviação em crescimento, principalmente nas companhias low cost. Grandes capitais europeias lotadas, alojamento local selvagem, investimento em unidades hoteleiras de topo. Destinos exóticos cada vez mais desejados, principalmente, através das fotografias partilhadas nas redes sociais. O mundo era, cada vez mais, de todos os viajantes que a ele se fizessem e o setor do turismo era o motor de muitas economias.

Até que a pandemia se tornou um problema global e o setor foi atingido por um verdadeiro tsunami. De repente, o planeta Terra parecia um lugar estranho e distâncias que antes eram facilmente percorridas a bordo de um avião ficaram bem mais longas. As viagens passaram de algo rotineiro a uma atividade de risco. Viajar era, por si só, uma forma de espalhar o vírus que mundo começava a compreender e a lutar para conter.

Foi aterrador e belo ver as grandes capitais europeias sem turistas. Algumas cidades conseguiram “respirar” depois de anos de excessos causados pelo turismo de massa. Em março, as imagens dos canais de Veneza "limpos" correram mundo, enquanto Itália se afirmava como um dos países europeus mais afetados pela primeira vaga do novo coronavírus.

Veneza sem turistas
Gôndolas vazias e paradas em canais com água límpida em Veneza - março de 2020 créditos: ANDREA PATTARO / AFP

Uma das medidas mais impensáveis aconteceu: fronteiras encerradas. Em abril, 93% da população mundial tinha restrições de viagem por causa da COVID-19.

Nos quatro cantos do globo, o confinamento foi sendo realidade e a imaginação, tingida pelas cores do arco-íris, ajudou a construir um mundo confinado mais alegre. No SAPO Viagens, encontramos alento nas janelas dos nossos utilizadores. Quem faz das viagens vida teve de deixar tudo em suspenso e voltar para casa.

Ao mesmo tempo, o espaço aéreo esvaziava-se e as companhias mergulhavam na pior crise do setor desde sempre, com efeitos bem mais profundos do que aqueles registados aquando dos atentados de 11 de setembro de 2001.

Até que chegou o verão e, com ele, um novo alento para as viagens. Em junho, a reabertura de fronteiras na Europa causou alguma polémica e as imposições de quarentenas e restrições não estimularam as viagens externas.

A criação de corredores aéreos entre alguns países foi uma opção para tentar retomar as viagens, enquanto se procuravam soluções originais para minimizar o risco de viajar de avião, como este projeto de assentos. Ao mesmo tempo, em diferentes cidades, cafés, restaurantes, parques, atrações turísticas e hotéis readaptavam-se para garantir o distanciamento social e cumprir as novas regras de higiene e saúde.

Duesseldorf, Alemanha
Um parque em Duesseldorf, Alemanha, onde o espaço foi marcado com círculos brancos créditos: Ina FASSBENDER / AFP

A Islândia, um dos primeiros países a reabrir ao turismo, oferecia um teste de COVID-19 para quem viajasse para lá. O problema era conseguir lá chegar com tantas restrições ainda em vigor.

O turismo interno acabou por ser um bálsamo para a crise que já assolava fortemente o setor.

Olhando para o nosso retângulo à beira mar plantado, em 2020, Portugal foi o destino possível para a maioria das pessoas. Muitas aproveitaram para redescobrir o país, que ainda envergava o título de Melhor Destino do Mundo pelos World Travel Awards, apoiando, desta forma, o turismo nacional.

Houve espaço para tudo: das caminhadas às roadtrips, do glamping às voltas de bicicleta, da Estrada Nacional 2 à Costa Vicentina, sem esquecer Açores e Madeira que estão entre os destinos mais pesquisados do ano no SAPO Viagens. Roteiros para explorar Portugal não faltaram.

Infelizmente, este período durou pouco tempo e a segunda vaga da COVID-19 voltou a agudizar a crise e a deixar bem visíveis os efeitos da pandemia numa das áreas mais rigorosamente por ela afetada. Só em Portugal, 45% dos hotéis estão encerrados e muitos ainda não sabem quando voltam a abrir portas.

Os números não mentem. As contas das Nações Unidas dizem que a indústria do Turismo vai perder um trilhão de dólares devido à pandemia. 320 mil milhões de dólares já foram perdidos nos primeiros meses de 2020. Estima-se que 100 milhões de postos de trabalho ligados ao setor estejam em risco.

A OCDE indica que a atividade turística desceu 80% em 2020 e traça alguns objetivos para a recuperação do setor: restaurar a confiança nas viagens, apoiar os negócios, promover o turismo interno, fortalecer a cooperação entre os países e construir um turismo mais sustentável. Resta saber quais destas metas serão concretizadas quando, de facto, a retoma for iniciada. Quando será? É uma pergunta cuja resposta iremos procurar em 2021.

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