O velho adágio das notícias que envolve um homem a morder um cão não favorece as chamadas boas notícias. Hoje, temos horas de informação ocupadas por guerras internacionais, constrangimentos nacionais, peripécias dos clubes de futebol ou pela última tolice de um qualquer influenciador digital ou celebridade.
Ainda assim, existem boas notícias. Uma delas, pelo menos por enquanto, é que os Centros de Diálise em Portugal asseguram mais de 90% das necessidades dos doentes renais crónicos em hemodiálise. Ou seja, mais de 13 mil pessoas são tratadas em Portugal, afetando positivamente a vida desses doentes e das suas famílias.
E neste campo, há outras boas notícias. A qualidade da diálise em Portugal é reconhecida a nível mundial. O custo por doente para o Estado não sobe há 17 anos. Não existem listas de espera. Não existem greves. Acontecimentos extraordinários, de maior duração, como a pandemia, ou de curta, como o “apagão”, não fizeram com que os tratamentos parassem.
Estas boas notícias são verdadeiras e facilmente comprováveis nos relatórios da Entidade Reguladora da Saúde e da Administração Central do Sistema de Saúde.
No entanto, estas boas notícias podem passar a más. Mas ainda há tempo de antecipar o mau e manter o bom.
Por uma vez, a sociedade portuguesa e os seus decisores políticos poderiam experimentar promover a continuação do que funciona bem. Era uma boa notícia. Aos Centros de Diálise, que são privados, foi-lhes dada uma tarefa: criar instalações, gerir médicos, enfermeiros, medicação, análises, acompanhar de modo nutricional e socialmente. Ao Estado, cabe decidir quando e onde os doentes devem ser tratados, impor o enquadramento legal de um Centro de Diálise e fixar um rácio de enfermeiros e médicos por doente.
Há 17 anos que o valor pago aos Centros privados não é aumentado, o que leva a que a eficiência e poupanças obtidas tenham chegado ao fim. Anos de sucessivos aumentos, de taxas de inflação, aumentos do custo de energia, da água, dos consumíveis, do ordenado mínimo de 426.5 euros em 2008, que passaram a 870 euros em 2025, e que, em 2026, passarão para 920 euros.
Estamos no caminho para o precipício, no entanto é possível parar, inverter e corrigir. É só haver vontade.
Secretário-geral da Associação Nacional de Centros de Diálise (ANADIAL)