Este texto não versa sobre a importância do adoptar ou sobre perceber se tens condições logísticas e financeiras para a adopção. Já tivemos oportunidade de escrever sobre as dez razões para adoptar um cão adulto.

Vamos falar dos primeiros dias e de coisas muitos concretas que até podem ser óbvias para muitos — mas, precisamente por serem óbvias, devem ser lembradas.

A Rita e o seu bulldog

O caminho para casa

Se vais transportar o cão num carro, compra um peitoral e uma trela específica para prender no cinto de segurança. Dependendo do tamanho do carro e do animal, poderás levá-lo numa transportadora. Alguns animais enjoam e por isso prepara os bancos para essa eventualidade. Pergunta no albergue se há historial de viagem de carro para teres uma ideia de como o cão reagirá.

Antes de entrar em casa, dá um passeio na zona que irá fazer parte da rotina diária. À entrada da casa presenteia o teu cão, com um biscoito, caso cumpra a missão “chichi/cocó” com sucesso. Queremos muito que ele pense: “No fim do passeio é a esta casa que devo voltar, tenho biscoitos à minha espera!”

A casa e as divisões às quais o cão pode ter acesso

É importante que, desde o primeiro dia, se restrinja o acesso do cão às divisões da casa. É preferível restringir mais no início, até que os hábitos sejam adquiridos e, depois, lentamente, ir abrindo a porta. Se tiveres pena do cão e o deixares dormir no quarto nas primeiras noites, assume que pode ser algo “para a vida toda”. Depois vai ser difícil eliminar esse hábito. O cão deverá ser habituado ao seu canto, à sua cama, ao seu espaço. O mesmo com o sofá: se não vamos querer, no futuro, que o sofá seja partilhado com o cão, o melhor é não deixar que ele comece a saltar para lá.

A alimentação

Num albergue ou canil a alimentação não será a ideal: é a possível. Por isso, pergunta quais os hábitos de alimentação (húmida ou seca), bem como qual a quantidade. Nos primeiros tempos opta por imitar a alimentação a que o cão está habituado e vai introduzindo a nova, aos poucos.

Não te admires se o cão rejeitar “aquela ração tão cara” ao primeiro contacto. Dá-lhe tempo: a transição, na alimentação, deve ser feita a partir do que já é hábito, para o novo. Com calma!

A Rita a passear os seus cães

A rotina dos passeios

Não podemos nunca garantir que os primeiros tempos vão ser calmos e tranquilos: afinal, convém lembrar que um cão, num albergue, não conhece as rotinas de uma casa. Num albergue o cão faz as suas necessidades quando calha e onde calha. Em casa é esperado que isso não aconteça, todavia, somos nós, os humanos, que temos de criar essas rotinas. As horas dos passeios para que os cães não só estiquem as patas, mas também façam as suas necessidades, devem ser pensadas de acordo com a nossa vida diária. É importante criar a rotina, ir mais ou menos sempre à mesma hora. Há que ter paciência, pois podem haver chichi fora de horas (e de sítios!) nos primeiros dias. É uma questão de tempo.

Não soltes o teu animal nos primeiros tempos, para evitar que se perca ou que fuja. Pode demorar um pouco até que se habitue ao nome e ao chamamento. Além disso, cães muito curiosos podem querer explorar e desorientar-se.

A apresentação aos outros membros da família

Imagina-te na “pele” do cão: sais de um albergue onde nunca há sossego (há sempre cães a ladrar e o estado de alerta é constante) e vais conhecer a nova casa, a nova família. É todo um mundo novo. Após a criação de laços, no albergue, com visitas e passeios, é preciso criar um ambiente de segurança para o animal. Por isso, evita apresentar muita gente, de uma só vez, ao cão. Para ele é tudo novo e há que dar pequenos passos.

Dependendo do perfil do cão, o ideal é que ele vá conhecendo, aos poucos, as pessoas com quem irá conviver. Portanto, se estiveres a pensar numa festa de família para receber o cão, esquece. O barulho, o excesso de pessoas e de estímulos pode, em casos limite, contribuir para que a adopção fique sem efeito. Nunca é demais repetir: crianças e cães não devem estar juntos sem a supervisão de um adulto.

Um dos cães da Rita com um brinquedo

Brinquedos e objectos para roer

Há cães mais brincalhões do que outros e nem todos ligam muito a brinquedos. É bom testar isso, tendo alguns brinquedos à mão para ver se o cão brinca. Na maioria dos casos, as pessoas que adoptam trabalham fora de casa e é natural que o cão passe algumas horas sozinho. Os brinquedos ajudam a ocupar o tempo e evitam que roa outras coisas. Nessas “outras coisas” inclui objectos que são importantes para ti. Se tens uns sapatos preferidos, não os deixes perto do cão durante o dia. Daí também ser importante a questão da delimitação do espaço ao qual o cão tem acesso: pensa nos objectos que podem ficar à mão para evitar situações desagradáveis. Isto inclui carregadores de telemóvel ou de computador e outros fios.

Não se decide adoptar um cão de um dia para o outro. Precisamos considerar rotinas, questões financeiras, apoio familiar ou outras soluções para os momentos das férias. É uma decisão ponderada, que exige o seu tempo. Assim também a adaptação à nova casa, à nova família deve ser encarada com paciência e calma. Em suma: “Keep calm and adopt [don’t shop] a dog

A Joana é filósofa, copywriter e uma dog person. É a autora do blog e conceito Filocriatividade e está no twitter, como @JoanaRSSousa. Este artigo foi publicado originalmente no seu blog.