Nusa Dua, Indonésia, 21 nov (Lusa) - A presidente da Shell Austrália disse hoje que a venda a Timor-Leste da participação da empresa no consórcio do Greater Sunrise ocorre no "momento certo", reiterando apoio à opção timorense de levar o projeto para a costa sul.

"Desde que fizemos a primeira prospeção em 1974 nesta reserva que houve muitas versões de opções de desenvolvimento, para conseguir um resultado económico", disse Zoe Yujnovich, em declarações à Lusa na ilha indonésia de Bali.

"Neste ponto, com a ambição de Timor-Leste fazer o desenvolvimento onshore em Timor-Leste, é a nossa escolha nesta altura focarmo-nos noutras áreas do nosso portfolio e apoiar a sua ambição de concretizar esta realidade no seu país", afirmou.

Yujnovich falava à Lusa depois de assinar, com o representante especial timorense Xanana Gusmão, a venda da participação de 26,56% que a empresa detém no consórcio do Greater Sunrise.

A operação, que depende ainda da aprovação do Governo e do Parlamento timorenses e dos reguladores, soma-se à participação de 30% adquirida à ConocoPhillips em setembro, o que dá a Timor-Leste uma maioria de 56,56% no consórcio.

O consórcio dos campos petrolíferos Greater Sunrise, no Mar de Timor, é liderado pela australiana Woodside, a operadora (com 34,5% do capital), e inclui a ConocoPhillips (30%), a Shell (28,5%) e a Osaka Gas (10%

"A Shell tem tido uma história longa e orgulhosa com o projeto do Greater Sunrise. Sentimos que agora é o momento certo para apoiar Timor-Leste na sua ambição de criar prosperidade económica para o país", disse.

A empresa, por seu lado, tem "grandes oportunidades de crescimento" noutros projetos, em que continuará a apostar, estando sempre "à procura de oportunidades em todo o mundo", disse.

Questionada sobre a motivação tanto da Conoco como da Shell para vender poderia ser interpretada como uma dúvida sobre a viabilidade do projeto em si, Yujnovich rejeitou esse argumento afirmando que ocorre apenas no momento certo.

"Não posso falar sobre os incentivos da Conoco. Para nós o 'timing' era o correto por temos muitas opções de desenvolvimento no nosso portfólio e relativamente ao reconhecimento de onde sentimos que este desenvolvimento estava a encaminhar-se", disse.

"Continua a haver participantes significativos no Sunrise e esperamos e desejamos o maior êxito a Timor-Leste e aos parceiros do Sunrise para os futuros projetos", disse, afirmando que o acordo de Nusa Dua é "positivo e equitativo para todos".

Saudando a relação ao longo dos anos com o Governo timorense, que "permitiu conversas robustas", a responsável da Shell disse respeitar a vontade de Timor-Leste relativamente ao recurso.

"Respeitamos profundamente a ambição que descreveu e a importância do Sunrise para o povo timorense e o reconhecimento de que isto é muito mais do que um projeto, é uma oportunidade de prosperidades para a nação. Desejamos-vos os maiores êxitos", afirmou.

O valor final da operação, 300 milhões de dólares (cerca de 265 milhões de euros), foi acordado, numa última ronda negocial, esta manhã, pouco tempo antes da assinatura do acordo, disseram à Lusa os participantes nas negociações.

O acordo foi assinado num hotel na zona de Nusa Dua, em Bali, e é a concretização de várias semanas de negociações, tendo sido crucial no processo o empresário James Rhee, do projeto Tl Cement, que reside em Perth, na Austrália, a região australiana mais ligada ao projeto do Greater Sunrise, segundo fonte timorense.

Na assinatura, estiveram presentes, entre outros, o presidente da Timor Gap, Francisco Monteiro, o presidente da Autoridade Nacional de Petróleo e Minerais, Gualdino da Silva, e dois dos ministros indigitados do VIII Governo, Alfredo Pires (que devia ter assumido a pasta de Petróleo e Minerais) e Helder Lopes (que devia ter assumido a pasta das Finanças).

Para financiar a operação da ConocoPhillips, o Parlamento timorense aprovou recentemente uma alteração legislativa ao diploma sobre operações petrolíferas para por fim do limite de 20% à participação máxima que o Estado pode ter em operações petrolíferas.

Essa alteração, que introduz ainda uma exceção ao regime de visto prévio da Câmara de Contas, está atualmente na Presidência da República para ser promulgada.

Os campos do Greater Sunrise contêm reservas estimadas de 5,1 triliões de pés cúbicos de gás e estão localizados no mar de Timor, a aproximadamente 150 quilómetros a sudeste de Timor-Leste e a 450 quilómetros a noroeste de Darwin, na Austrália.

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