"A condecoração foi entregue nos serviços de correspondência do Palácio da Presidência da República às 14:30 de hoje", confirmou à Lusa fonte do gabinete de Xanana Gusmão, atual ministro do Planeamento e Investimento Estratégico.

A mesma fonte confirmou que a condecoração foi acompanhada de uma carta em que Xanana Gusmão explica o motivo da devolução, que ocorre 24 horas depois de uma polémica intervenção do chefe de Estado timorense, Taur Matan Ruak, no parlamento.

O Presidente comparou os benefícios que dirigentes do país como Xanana Gusmão e o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, têm dado a "familiares e amigos" com práticas do ex-ditador indonésio Suharto.

"Desde 2013, Xanana Gusmão, Mari Alkatiri, Lu-olo [Francisco Guterres, presidente da Fretilin] usam a unanimidade para quê? Não usam a unanimidade e o entendimento para resolver todos os assuntos que há por resolver. Usam-na para poder e privilégio", disse ainda o chefe de Estado.

Xanana Gusmão já hoje, num discurso no 1.º Fórum Economico Global da CPLP, em Díli, fez referência a esse discurso, sem o mencionar diretamente.

"Timor-Leste foi chamado um país falhado, em 2006, há 10 anos. Acredito que os senhores não estão alheios ao desenvolvimento atual de política interna do país", disse o atual ministro do Planeamento e Investimento Estratégico timorense.

"Quero garantir que não será a segunda vez que a comunidade internacional nos chamará de Estado falhado ou da possibilidade de Estado falhado", acrescentou.

No seu primeiro comentário público sobre as declarações, Xanana Gusmão falou aos empresários presentes em Díli, ironizando com as declarações do Presidente da República.

"A minha única experiência em economia é dar contratos aos meus familiares. Uma profissão que está em voga agora", disse.

Xanana Gusmão foi condecorado por Taur Matan Ruak a 20 de agosto do ano passado "pela sua inexcedível liderança na luta da libertação nacional", num momento que assinalou os 40 anos da criação das Falintil, o braço armado da resistência timorense.

"Pelo seu exemplo, em momentos-chave da nossa história, e pela capacidade de liderança, Xanana Gusmão foi verdadeiramente um pai fundador de Timor-Leste", disse na altura Taur Matan Ruak.

"A sua visão - antes e depois da Independência - está na base da política de reconciliação, paz e estabilidade que o nosso país e o nosso povo adotaram e implementaram com grande determinação e de coração aberto", afirmou.

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