Estanislau da Silva falava à agência Lusa em Jacarta no mesmo dia em que Timor-Leste e a Indonésia assinaram dois memorandos de entendimento para a cooperação agrícola e para a cooperação técnica no setor da silvicultura, no âmbito da primeira visita oficial ao estrangeiro do primeiro-ministro, Rui Maria de Araújo.

Embora já existissem acordos entre os dois países na área da agricultura, o governante espera que, a partir de agora, estejam criadas as bases para a "aquisição de conhecimento e tecnologia" e para "desenvolver, de uma forma mais acentuada, a investigação".

Para além do envio de técnicos timorenses para se formarem no país vizinho, tirando vantagem das facilidades no idioma, da experiência indonésia e da similitude dos produtos cultivados, como o arroz, o governante admite "até recrutar técnicos indonésios para trabalhar em Timor-Leste".

O também coordenador dos Assuntos Económicos no governo que assumiu funções a 16 de fevereiro explicou que, apesar da recente distribuição de tratores, a produtividade no setor agrícola "continua a não crescer de forma efetiva, tendo inclusive descido", sendo por isso necessária mais formação.

A economia não-petrolífera de Timor-Leste baseia-se fundamentalmente na agricultura, com 70 por cento dos cidadãos a depender deste setor, embora a produção seja maioritariamente de subsistência e rudimentar, explicou.

Estanislau da Silva quer "diversificar a agricultura para diversificar a dieta alimentar" e lutar contra os "problemas sérios de má nutrição" existentes no país, mas também "diminuir os custos de produção" e "tornar os nossos produtos competitivos no mercado".

Foi igualmente decidido trabalhar em conjunto com a Indonésia num plano de gestão hidrográfico transfronteiriço, por forma a melhorar o abastecimento de água e a agricultura.

"A reflorestação e a proteção das florestas em Timor-Leste e a gestão das bacias hidrográficas são um assunto importantíssimo, de certa forma determinante, para manter o abastecimento de água para as populações", alertou.

Segundo o ministro responsável pela pasta da Agricultura, "Timor-Leste felizmente ainda tem alguma cobertura vegetal, mas há uma degradação bastante significativa" quando comparada com a que se verifica em outros países asiáticos.

Uma das causas, respondeu, é o corte de árvores para a energia nas habitações, mas, ressalvou, para resolver esse problema não basta educar a população, sendo outrossim imperativo encontrar "fontes de energia alternativas".

No âmbito do acordo hoje assinado, o governo timorense espera ainda retirar conhecimentos do quadro legal indonésio para a área das florestas.

"Não temos um quadro legal devidamente estabelecido", embora já exista trabalho a decorrer nesse sentido, adiantou.

"Há uma cooperação entre os dois países no sentido de proibir o abate e o comércio ilegal dos produtos florestais", acrescentou Estanislau da Silva.

O mais jovem país do Sudeste Asiático tenciona ainda contar com a experiência indonésia para o futuro jardim botânico, cujo estabelecimento já conta com verbas do orçamento deste ano, disse, sem no entanto conseguir precisar o valor em causa.

"Queremos manter um banco genético das espécies nativas de Timor-Leste, assim como das espécies não indígenas", justificou, respondendo que o acordo celebrado em 2002 com o Brasil para a implementação deste projeto nunca saiu do papel.

O executivo timorense deseja apostar em parques e reservas naturais para "um aproveitamento turístico sustentável", rematou.

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