Parte do Jardim das Ondas ficou sem relva, o sistema de rega do Parque Tejo deixou de funcionar, muitos pontos de luz deixaram de o ser e há tábuas levantadas ou em falta em vários locais.

De acordo com o grupo de moradores "Pela Qualidade Urbana do Parque das Nações", a degradação foi sendo notória após a passagem da gestão da Parque Expo - criada em 1993 para conceber a Expo'98 e a reconversão urbanística do agora denominado Parque das Nações - para as mãos da Câmara e da Junta do Parque das Nações (criada há dois anos).

"Mudou, para pior, quando passou tudo para as autarquias. Dantes a Parque Expo recuperava, mantinha e aproveitava todo o legado que a Expo'98 deixou, desde a cultura, a arte urbana, os espaços verdes, toda esta cultura e ambiente de qualidade", afirmou à Lusa Diogo Freire de Andrade, residente há 13 anos na zona, onde criou a sede da sua empresa.

Como alguns dos maiores problemas, aponta a falta de iluminação e de arranjo de exteriores: "É notório que os espaços verdes estão a ficar cada vez mais degradados, do simples canteiro à árvore que não é podada, à relva que não é regada nem cortada. Isto é transversal a toda a freguesia".

Diogo Madaleno, também residente há 13 anos, conta que até os quatro filhos se queixam. "Sempre me habituei a isto ser uma zona única em Lisboa, em que os espaços urbanos e os espaços verdes eram muito bem estimados. Foram muito bem concebidos e muito bem preservados durante muito tempo. Agora, até uma criança repara que já não são o que eram dantes", disse.

O presidente da Junta, José Moreno, reconhece haver problemas, que atribui a "desgaste natural e falta de manutenção ao longo dos anos".

"O que se vai fazer agora já devia ter sido feito pela Parque Expo, que não fez", afirmou, referindo que a Junta está a trabalhar com a Câmara, com "obras a acontecer e outras já realizadas".

De acordo com a Junta, o sistema de rega "claudicou" e as bombas e a tubagem estão a ser substituídas. O problema foi "agravado por ter havido pessoas que abriam as válvulas em alguns setores, fazendo com que o tanque (que enche durante o dia para a rega ser feita à noite) fosse esvaziando".

Para José Baltazar, residente desde 1998 e eleito na Assembleia de Freguesia pelo CDS-PP, os espaços verdes que estão em pior estado são o Jardim das Ondas, "a única obra de arte pública nacional feita em forma de espaços verdes e que esteve impecavelmente bem cuidada até que passou para a Câmara", e o Parque Tejo, que "está completamente seco e cujo sistema de rega deixou de ter manutenção".

Diogo Madaleno, mentor do Grupo da Corrida Noturna Parque das Nações, acrescenta que muitas pessoas que não integram este grupo e que utilizavam a zona para desporto depois do anoitecer têm medo em horas em que não há iluminação, "porque sentem uma insegurança muito grande".

Célia Simões, que ali vive há três anos, recorda que a escolheu porque, "apesar de ser uma zona cara, era uma zona de excelência, onde havia jardins, bem-estar, segurança, não havia vandalismo". Lamenta, entre outros, o estado de abandono em que estão as obras do artista plástico José Pedro Croft, na Rotunda Rossio do Levante.

Segundo José Moreno, o restauro das obras de arte já se iniciou e esta semana será entregue ao empreiteiro a obra de arte de José Pedro Croft. Já os candeeiros do bairro "estão a ser substituídos", até porque antes eram de lâmpadas de mercúrio.

A extinção da Parque Expo foi anunciada em 2011, tendo o Governo afirmado que a sociedade "cumpriu a sua função". A empresa está agora em liquidação.

Em 2012, o Conselho de Ministros determinou a transferência para o município de Lisboa das infraestruturas afetas ao uso público e ao serviço público urbano e das posições contratuais da Parque Expo relativas à gestão urbana.

A freguesia do Parque das Nações é gerida desde as autárquicas de 2013 por um grupo de cidadãos -- Parque das Nações por Nós (PNPN) - liderado por José Moreno, antigo responsável pela associação dos moradores e comerciantes da zona (que juntou áreas dos Olivais e do concelho de Loures, no âmbito da reforma administrativa). Em abril, o PNPN assinou um acordo de coligação com o PS.

José Moreno assegurou que "a esmagadora maioria dos problemas ficaram identificados nos autos de transferência", admitindo que "houve de facto um período em que não se fez nada, o que terá contribuído" para a degradação.

"As coisas estão a acontecer. São obras demoradas, com investimento grande e serão feitas ao longo dos próximos meses", disse.

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