"Acredito que o processo pode ter uma solução muito em breve porque há contactos entre eles, com os advogados, o tribunal para que haja uma solução aceitável para ele e para o Estado", disse José Ramos-Horta, em entrevista à Lusa em Díli.

Questionado sobre qual seria a "solução aceitável", Ramos-Horta disse que Mauk Moruk, líder do Conselho da Revolução Maubere (CRM), tem que "responder à boa vontade do Governo, que já retirou as forças" da região onde se encontra e, em contacto com as autoridades, deve "regressar a Díli com todas as garantias de segurança".

Ramos-Horta referiu que é partidário de que apesar do mandado de captura que existe sobre Mauk Moruk este não deve ser preso e poderá mesmo aguardar a conclusão do processo judicial em casa.

Uma conclusão, admitiu, "que pode ser também via diálogo entre os advogados, a procuradoria e o tribunal", procurando "uma solução que não fira a Constituição e as leis, mas que, no quadro timorense, concilie as duas situações: uma política e outra legal".

Questionado sobre a demora na captura, num país onde a rede de informações continua a ser bastante ativa, Ramos-Horta indicou que Mauk Moruk só ainda não foi capturado porque as autoridades não querem.

"As forças armadas sabem exatamente em cada momento onde ele possa estar. Só que têm tido ordens rigorosas por parte do comando, do Presidente, do primeiro-ministro, para não fazer uso da força", disse.

"Eles e eu não queremos ver um único morto. Sabe-se que ele tem apenas uma ou duas armas. A estratégia do Governo foi apenas de o fazer cansar e entregar-se. Pode demorar o tempo que demorar, desde que se poupe uma vida, isso é preferível. É a conversa que tenho tido com o Presidente e com o Governo", sublinhou.

Ramos-Horta considerou que o próximo passo cabe ao próprio Mauk Moruk, que deve, primeiro, "fazer uma declaração pública de renúncia a qualquer ato de violência ou de instigar os seus elementos à violência".

Isso cria "as primeiras condições para que seja transportado para Díli e seja tratado condignamente e tenha todo o apoio do Governo para tratamento da saúde, psicológico ou psiquiátrico".

Nas últimas semanas tem aumentado a polémica em torno da operação contra Mauk Moruk, tanto pelo seu custo (ainda não confirmado pelo Governo), como pela até agora falta de êxito, com o tema a dominar a atenção da imprensa timorense.

A decorrer desde março, a operação de nome código Hanita, que envolve centenas de efetivos da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) e das Forças de Defesa de Timor-Leste (FDTL), já provocou cinco feridos entre as forças de segurança.

As notícias dão conta de comentários, criticas e acusações, a par de um elevado número de rumores, que envolvem Mauk Moruk, o Governo, as forças de segurança e o Presidente da República num caso que se arrasta desde o ano passado.

O Estado timorense surge, muitas vezes, apenas a reagir a notícias ou informações divulgadas por apoiantes, fontes próximas a Mauk Moruk ou em entrevistas ao próprio.

No decurso da operação, já se renderam ou foram capturados 468 elementos do grupo de Mauk Moruk, que se diz ex-líder da resistência mas que é considerado traidor da resistência timorense - tendo participado com os indonésios na luta contra a guerrilha.

"O senhor Mauk Moruk é uma pessoa muito instável emocionalmente. Carece de apoio médico e tem problemas graves de saúde neste momento", disse Ramos-Horta.

"É conhecido o seu background, o seu passo e não apresenta a mais pequena ameaça de segurança. Mas precisamente e porque o Governo tem a força nas mãos, mas também a razão e a lei, é preferível agir com muita serenidade para que não haja mais mortos", sublinhou.

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