"Há alguns problemas mais localizados, designadamente na zona costeira e no âmbito do Instituto de Socorros a Náufragos, onde há, de facto, limitações de pessoal. Isso é assunto que está para ser resolvido mas, nesta fase, não temos pessoal em número suficiente para garantir uma prontidão em 24 horas por dia", disse a Autoridade Marítima Nacional, o almirante Luís Fragoso, aos jornalistas, na Figueira da Foz.
Em declarações à margem da cerimónia de atribuição da medalha de coragem, abnegação e humanidade, grau ouro, a Carlos Santos - o agente da Polícia Marítima que salvou dois tripulantes no naufrágio do arrastão Olívia Ribau, a 06 de outubro, na Figueira da Foz - Luís Fragoso negou, no entanto, que o que disse ser a "falta de prontidão" da estação salva-vidas da Figueira da Foz tenha estado relacionada com as operações de salvamento, que foram alvo de críticas por parte de pescadores, sindicatos e populares.
O almirante, que é Chefe do Estado-Maior da Armada e que é por inerência a Autoridade Marítima Nacional, aludiu, nomeadamente, ao salva-vidas Patrão Macatrão (que no dia do naufrágio estava avariado, em manutenção, mas já foi reparado), argumentando que, "nesse dia, havia uma alternativa" (uma lancha do ISN, com motor a hélice). No entanto, não podia ser utilizada, por um lado por falta de pessoal, mas também, garante a Autoridade Marítima, dadas as condições adversas do estado do mar e decorrentes do próprio naufrágio, com redes e cabos na água.
"O importante é ter uma alternativa e essa alternativa existia, do ponto de vista do equipamento. O que de facto se verifica é que não tínhamos pessoal em número suficiente para podermos sair com as embarcações. Embora, como já referi e também se confirma, a ação das embarcações estava muito limitada, não só pelo estado do mar, como também pela existência de muitos cabos e redes e aparelhos de pesca na zona", frisou Luís Fragoso.
"Aliás, outras embarcações que mais tarde estiveram na zona [do naufrágio] estiveram com os hélices enleados e tiveram dificuldades de manobra por esse facto", afirmou.
O responsável da Autoridade Marítima Nacional avisou ainda que por mais meios e mais capacidades que estejam ao serviço do salvamento marítimo, "o elemento mais determinante está nas pessoas que andam no mar" e a segurança "é uma responsabilidade de todos os que estão no mar", em particular dos comandantes, patrões e mestres das embarcações.
"O mestre de uma embarcação é sempre responsável não só pela segurança da embarcação que comanda, como também pela segurança de todos os que estão a bordo com ele. É muito importante, fundamental, garantir que pelo menos nas zonas de risco, como é o caso duma entrada de uma barra como a da Figueira da Foz, todos os tripulantes devem envergar o colete de salvação. Isso é fundamental para poder, em caso de acidente, dar mais hipóteses de salvamento", disse Luís Fragoso.
Sobre a ação de salvamento do agente da Polícia Marítima hoje condecorado, o almirante considerou-a "uma atitude de nobreza" e que Carlos Santos "foi um exemplo" que deve ser evidenciado.
"Deixou o seu conforto [estava de licença, em casa], arriscou a sua vida. Foi um salvador muito importante. Num momento difícil conseguiu, com a sua ação, salvar duas vidas", destacou.
Já Carlos Santos, agente do comando da Polícia Marítima de Aveiro mas que reside na Costa de Lavos, a alguns quilómetros do local do naufrágio, agradeceu a condecoração que considerou "uma satisfação".
"Fico feliz por ter conseguido ajudar [no naufrágio]. Fizemos tudo o que conseguimos fazer, quando fazemos aquilo que conseguimos a mais não somos obrigados. Quando temos condições temos de ajudar o próximo, foi isso que aconteceu", afirmou.
No arrastão Olívia Ribau naufragado a 06 de outubro à entrada do porto da Figueira da Foz, seguiam sete pescadores. Dois foram resgatados com vida, uma hora depois do acidente, por Carlos Santos, que tripulava uma moto de água da Polícia Marítima, e cinco morreram.
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