"Os resultados são surpreendentes, o PIB de África duplicou em 12 anos, é um facto inédito, e África, com mil milhões de habitantes, tem indicadores sociais e económicas superiores à Índia, que dizem que é uma estrela do ponto de vista das performance economia mundial, mas a África está melhor que a Índia", disse Carlos Lopes em entrevista à Lusa.

Para o secretário executivo da UNECA, o crescimento de África "tem atraído muito interesse por parte dos investidores estrangeiros", transformando o continente "num destino procurado que em 2015 vai ter 64 mil milhões de dólares de Investimento Direto Estrangeiro, um montante igual ao da China e este ritmo está-se acelerando".

A história do desenvolvimento económico em África saltou para as páginas dos jornais nos últimos anos, e colocou o continente no radar dos grandes investidores internacionais, mas Carlos Lopes tem a noção que nem tudo é fácil, defendendo que para capitalizar o potencial, o continente precisa de uma grande transformação estrutural.

"Crescimento sem qualidade significa sem emprego, com desigualdades sociais crescentes e significa também sem uma transformação estrutural, que é o mais importante, porque se África continua a crescer mas não transforma a sua economia, não está a responder aos anseios da população", que muitas vezes não partilham os benefícios da exploração dos recursos naturais e da mão de obra mais barata que nos grandes centros de produção industrial.

"A produtividade agrícola é das mais baixas do planeta, o que significa que 60% da população que vive do setor primário vai continuar na pobreza, e se a industrialização não acelera, quando os outros já estão na era pós-industrial, e sabendo-se que a fase da industrialização é a que oferece mais emprego moderno", então o panorama não ficará mais risonho, considera à Lusa.

Para colmatar as dificuldades do atraso, Carlos Lopes explica que ser retardatário no processo de industrialização pode ter algumas vantagens, nomeadamente fazendo o "pulo do gato", isto é, saltando etapas que os outros tiveram de passar.

"O retardatário não precisa de passar por plataformas tecnológicas complexas, poluentes que hoje em dia podem ser substituídas e há possibilidades enormes para África ter desempenho com as tecnologias mais avançadas desde que sejam competitivas", afirma o economista guineense que tem também uma licenciatura em História pela Sorbonne.

Por outro lado, acrescenta, o facto de chegar tarde ao processo de industrialização pode também ser compensado pela população africana muito jovem: "Isso é bom para o consumo e para a força de trabalho, que será a força de trabalho mais jovem do mundo no futuro".

Historicamente, argumenta, "quando existe urbanização rápida, existem grandes possibilidades de criar um mercado de consumo de forma mais estruturada, as cidades permitem conexões que não existem no mundo real".

Outra das grandes vantagens é mão de obra barata, mesmo quando comparada com a Ásia.

"Temos 40% de jovens com formação secundária, o que pode parecer pouco, mas olhando para o panorama de há 20 anos, vemos que é um esforço considerável, e é um valor comparável aos centros de produção industriais da Ásia, como o Bangladesh ou o Vietname", diz Carlos Lopes, concluindo que outra das vantagens de África tem a ver com a "apetência da China e de outras economias mais avançadas do mundo em desenvolvimento por África, porque permite passar parte da produção industrial de baixo valor acrescentado para um sítio onde o custo do trabalho é ainda mais baixo".

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