O pronunciamento da líder parlamentar da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), Margarida Talapa, segue-se ao chumbo que a sua bancada impôs ao projeto de revisão pontual da Constituição, submetido pela oposição da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), que visava a criação de autarquias provinciais como forma de ultrapassar o que alega ter sido uma fraude nas últimas eleições gerais.

Discursando no encerramento da segunda sessão ordinária do parlamento, Margarida Talapa lembrou que a Frelimo propôs a criação de uma comissão "ad hoc" para a revisão constitucional, "com a participação dos partidos políticos, da sociedade civil, dos religiosos, dos académicos e do setor privado", ao mesmo tempo que instou o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, a encontrar-se com o Presidente da República, Filipe Nyusi, e que os seus homens entreguem as suas armas e se reintegrem nas suas comunidades.

"O diálogo não se faz com arrogância, faz-se com humildade, sem imposições nem preconceitos, com a consciência de que é necessário saber ouvir e aceitar que podemos estar errados", afirmou a chefe da bancada da Frelimo.

No seu discurso sobre o estado da nação, proferido na quarta-feira no parlamento (sem a presença dos deputados da Renamo, que abandonaram a sala do plenário), Nyusi reiterou a sua disponibilidade para se avistar com Dhlakama, com vista a ultrapassar a crise política em Moçambique.

No mesmo dia, Dhlakama, que não é visto em público desde que a polícia cercou e invadiu a sua casa na Beira, a 09 de outubro, numa operação de recolha de armas da oposição, disse por telefone a jornalistas e membros do seu partido, reunidos num hotel em Maputo, que tenciona controlar a partir de março as seis províncias no centro e norte do país onde reivindica vitória eleitoral.

"Não iremos disparar nenhum tiro, mas quero deixar claro que, se os da [Unidade] de Intervenção Rápida ou as 'fademos' [Forças Armadas], em cumprimento das ordens de Nyusi, tentarem fazer brincadeira, vamos destruir. Repito, vamos destruir e não iremos encontrar nenhuma resistência", declarou Dhlakama, acrescentando que só aceitará dialogar com o Presidente da República depois de assumir o poder naquelas províncias.

Também a presidente do parlamento referiu-se hoje à unidade e apelou para uma cultura de diálogo e de paz, "como um imperativo sacrossanto", comparando-o ao pão necessário para a sobrevivência.

"A família é só uma, ninguém a pode dividir, nem ela deve aceitar ser dividida", considerou Verónica Macamo, observando que seria o mesmo que dividir a sala do plenário em compartimentos fechados para cada partido, num "cenário anómalo, antípoda do desejo genuíno do plesbicito popular".

Além da proposta de revisão pontual da Constituição, a Frelimo já tinha chumbado em abril um projeto de lei da Renamo prevendo a criação das autarquias provinciais.

O ano de 2015 em Moçambique foi marcado pela incerteza política, com o registo de confrontações entre forças de defesa e segurança e militares da Renamo em várias regiões do centro do país, incluindo dois incidentes com a comitiva de Dhlakama, em setembro na província de Manica, que levaram à sua fuga para a Gorongosa.

A 09 de outubro, um dia depois de se retirar do seu refúgio na Gorongosa, decorreu a operação policial na casa do líder da oposição na Beira, não sendo visto em público desde então.

Na quarta-feira, Dhlakama assegurou que voltou a Sadjundjira, uma das principais bases da Renamo, onde já passara quase dois anos, durante a última crise política e militar com o Governo, entre 2013 e 2014.

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