"Ele foi um bom representante das Nações Unidas, com a neutralidade possível, mas não deixou de ter a sua alma africana", disse Chissano numa entrevista, na terça-feira, à Radio ONU.

"A África sentiu-se bem, pelo menos nós em Moçambique sentimo-nos bem por ter um secretário [geral da ONU] com o nível dele", acrescentou o ex-Presidente moçambicano.

Chissano disse que conheceu Boutros-Ghali quando este era ministro dos Negócios Estrangeiros do Egito e trabalhou com ele quando também era ministro dos Negócios Estrangeiros de Moçambique.

"Ele convidou-me para uma visita oficial ao Egito", declarou, sublinhando que foi o início das relações entre os dois países e resultou na abertura da embaixada egípcia em Moçambique.

Segundo Chissano, Boutros-Ghali "acompanhou de perto as negociações para a paz" e posteriormente deslocou-se a Moçambique para acompanhar a finalização dos acordos entre as partes envolvidas no conflito.

O ex-líder moçambicano sublinhou ainda o apoio das Nações Unidas em todo o processo de paz em Moçambique.

Depois de deixarem os seus cargos, os dois responsáveis continuaram a trabalhar em conjunto, nomeadamente no 'Fórum para os Antigos Chefes de Estado e de Governo de África', que incluía também os secretários-gerais africanos da ONU e União Africana (UA) e mantiveram algum contacto ao longo dos anos.

Joaquim Chissano frisou que Boutros-Ghali se tornou seu amigo e "amigo de Moçambique".

Boutros Ghali "honrou o continente africano" enquanto secretário-geral da ONU e os africanos considerarem-se "bem representados como continente" durante o seu mandato nas Nações Unidas.

"Nas duas vezes que África teve oportunidade de apresentar os seus candidatos (Boutros Ghali e o ex-secretário-geral Kofi Annan), sentiu-se mais inserida nas Nações Unidas", disse ainda Joaquim Chissano.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas anunciou na terça-feira a morte de Boutros-Ghali.

Boutros Boutros-Ghali nasceu no Egito em 1922, numa família cristã copta e foi secretário-geral da ONU de 1992 a 1996. No seu país desempenhou funções de ministro dos Negócios Estrangeiros, entre outros cargos diplomáticos.

Foi o primeiro africano nas funções de secretário-geral da ONU e o seu mandato foi marcado por crises na Somália, Ruanda, o Médio Oriente e a ex-Jugoslávia.

Em 1996, os Estados Unidos vetaram a sua recandidatura a um segundo mandato, alegando que Boutros-Ghali não tinha conseguido fazer reformas pretendidas pelos norte-americanos no seio da organização.

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