Na maioria moçambicanos, quase todos vestiam camisolas do clube ou traziam cachecóis, entoando cânticos e dançando à passagem dos carros que buzinavam nos seus círculos contínuos ao longo da rotunda, havendo ainda algumas bandeiras portuguesas e tochas vermelhas a iluminar o centro praça.

"É uma grande vitória, 31 anos depois, eu nem era nascido, nem era programado", declarou Nelson Mabunda, 28, um expansivo estudante moçambicano para quem, "enquanto os outros tentam, o Benfica aleija".

O amor ao clube "vem lá de casa", dividido entre o moçambicano Costa do Sol e o português Benfica, mesmo que hoje não tenha conseguido vencer, beneficiando do empate do FC Porto no Restelo.

"Valeu Belenenses", agradeceu Nelson Mabunda, que fez também questão de mandar "um grande abraço a Lopetegui [treinador do FC Porto]".

Não menos efusivo, Olmiro Nhaca, 32 anos, acabava de chegar, também trajado de vermelho, da entupida avenida 25 de Setembro, que atravessa toda a baixa da capital, uma zona habitualmente fantasma nas noites de domingo.

"A felicidade é tanta, tanta, que nem dá para mostrar às pessoas. Estou muito feliz mesmo", exclamou o moçambicano, também apoiante do Desportivo Maputo, antes de sorver longamente uma generosa quantidade de cerveja do interior de uma taça que simulava o troféu do bicampeonato.

Isto foi mesmo antes de se juntar ao grupo António Frangoulis, um dos maiores especialistas moçambicanos em direito criminal e antigo diretor da Polícia de Investigação Criminal.

Não há qualquer possibilidade de erro na identidade. Com uma réplica da camisola do Benfica campeão europeu dos anos sessenta, virou as costas e estava lá escrito com as letras todas: "Frangoulis".

"Sou benfiquista de gema, não tem pergunta nem resposta que chegue", justificou o jurista, comentando que "esta vitória do bicampeonato só pode trazer problemas ao vizinho Sporting e ao arquirrival que é o Porto" e antecipando já o 'tri'.

Há um ano, Hugo Campos, 34, festejava o título do Benfica no Marquês de Pombal, em Lisboa, e hoje, tal como tantos outros moçambicanos à sua volta, dirigiu-se à praça Mugabe em nome de um amor transmitido pelos pais e que "há de ser até morrer", celebrando "a festa da nação benfiquista em mundo".

Entre moçambicanos de todas as origens, muitos deles de proveniência asiática, uma minoria portuguesa festejava também este triunfo.

"Já estou ca há seis anos e é a terceira vez que venho aqui", disse Nuno Teixeira, 48, um técnico de construção civil, salientando que "o Benfica é um clube universal, com um vínculo próprio em Maputo" e, sempre que ganha um campeonato, "isto para".

"Festejam mais o Benfica do que o próprio Ferroviário de Maputo ou o Maxaquene", observou o apoiante benfiquista, de câmara fotográfica em punho, para documentar mais esta vitória, a 34.ª da história do clube, porque "são todas importantes".

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