Santa Casa. Jogos em perda

Numa situação financeira difícil, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa vê as receitas dos jogos sociais a cair. Só escapa a Raspadinha. A nova tutela já pediu mais dados à provedora Ana Jorge.

Se a tendência se mantiver, 2024 vai ser um ano negro das receitas dos jogos sociais da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML). O Nascer do SOL teve acesso às contas, orçamento, receitas e vendas dos jogos sociais dos últimos 4 anos, que revelam ser este o primeiro em que a tendência é decrescente (face aos meses homólogos dos anos anteriores). Ainda assim, desde 2021, apenas a lotaria instantânea (Raspadinha) tem registado bons resultados e é o que suporta mais de 50% tanto das receitas totais como das vendas líquidas da totalidade dos jogos. Todos os outros jogos pertencentes à SCML, ou mantiveram os mesmos resultados, com descidas insignificantes, ou mais acentuadas, como é o caso do Euromilhões, que tem vindo a perder relevância ano após ano.

Os números mostram que não há progresso nestes últimos anos, nem na aposta feita nos novos jogos, nem na gestão dos que existem há vários anos. Apesar de o mercado ter mudado drasticamente e de a SCML já não ter o monopólio. A adaptação ao jogo online parece continuar a ser um desafio difícil de ultrapassar pela instituição liderada por Ana Jorge.

Para somar ao jogo cruzado que se vive na Santa Casa, com auditorias externas e internas, demissões, investigações judiciais e revelação de enormes prejuízos acumulados nos últimos anos, as receitas dos jogos juntam-se às más notícias. As razões apontadas para este decréscimo são várias. Fontes contactadas pelo Nascer do SOL justificam estes resultados por não ter existido durante os últimos anos capacidade de inovação e por falta de adaptação à nova realidade do mercado. Além disso, «as nomeações são feitas com base em simpatias políticas ou pessoais e não por competência, experiência ou reconhecimento técnico» de quem gere estes departamentos. «E os resultados refletem-se, mais tarde ou mais cedo nos números», refere a mesma fonte.

Quebra de receitas e de vendas

Nas contas referentes a este ano, em relação às vendas líquidas (vendas brutas depois dos prémios pagos), regista-se uma descida em relação ao período homólogo de 2023. Os valores semanais acumulados contabilizados até à semana passada revelam que houve um decréscimo de 4,4%, de cerca de 210 milhões euros, para 201 mil euros. Quanto às receitas brutas, a descida é maior: de 897 milhões euros de receitas contabilizadas nos primeiros meses de 2023, registaram-se 835 milhões desde janeiro às primeiras semanas deste ano. Ou seja, menos 6,8%.  Maior ainda é a  discrepância face ao orçamentado. Quanto às reciats brutas, o orçamento de 2024 apontava para um valor de 939 milhõesde  euros sendo que foram realizados até à data 835 milhões – menos 11%. Quanto às vendas líquidas, o orçamento previa realizar 231 milhões, tendo realizado menos 30 milhões – menos 12%.

A galinha dos ovos de ouro

Se é verdade que desde 2021 as receitas totais têm vindo a subir, os números dos primeiros meses deste ano mostram que essa tendência pode  inverter-se este ano. Em 2021, as receitas totais dos jogos sociais, de 2 mil 900 milhões de euros em 2022, subiram para 3 mil milhões e no ano passado subiram 130 milhões, para 3 mil 130 milhões de euros. Este ano, as receitas atingiram o valor de 835 milhões de euros. No entanto, comparando com os primeiros quatro meses dos anos anteriores (desde 2021), os últimos meses foram os que registaram pior resultado, como se pode observar no gráfico que mostra as vendas líquidas acumuladas por mês nos últimos quatro anos.

É à Raspadinha que a SCML deve mais de metade das suas receitas: 54% em 2023 e 52% em 2024. O segundo jogo mais lucrativo é o Euromilhões, que representou 28% das vendas líquidas do ano passado e quase 26% deste ano.  Segue-se o Placard, que contabiliza 7% das vendas líquidas.

O único jogo que tem vindo a regista uma subida constante nos últimos ano é a Respadinha: de mil milhões e 500 mil euros em 2021 para mil milhões e 800 mil em 2023. Para este ano, já se regista uma descida – pela primeira vez desde a existência deste jogo –  de 1,5%.  O Euromilhões, por sua vez, tem registado uma descida constante, de quase 100 milhões entre 2021 e 2023: de 605 milhões para 515, prevendo-se a continuação da descida este ano em 1,4%. Também o Placard tem vindo a descer: de 502 milhões para 412 em quatro anos.

Tutela pede contas

Entretanto, na semana passada, a minstra da tutela, Maria do Rosário Ramalho, pediu à administração da SCML_todas as ações de patrocínio e promoção previstas e efetivamente realizadas em todas as áreas. Esse documento foi entregue esta semana, mas a nova ministra recusa fazer qualquer declaração sobre este tema até se inteirar de todo o processo.

ines.pereira@nascerdosol.pt