Se por volta 2004 havia mais de 41.500 bombeiros voluntários em Portugal, esse número passou para menos de 31 mil em 2022, segundo dados da Pordata.

Como noticia a edição do Diário de Notícias de hoje, a quebra começou a fazer-se sentir a partir de 2008 e atingiu um valor mínimo de perto de 26 mil bombeiros em 2021. O ano seguinte viu uma subida, mas António Nunes, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, diz ao DN que esse crescimento é "uma questão meramente estatística”.

Em véspera de se montar o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR), António Nunes alerta para a falta de voluntários — especialmente nas zonas mais críticas do país. É por isso que o dirigente entregou um dossier sobre o tema à ministra da Administração Interna esta segunda-feira.

Ao DN, António Nunes cita o caso do Pinhal Interior, onde se deu o desastre de Pedrógão Grande, em 2017. O corpo dos bombeiros voluntários desse concelho passou de 277 bombeiros no final dos anos 90 para 148 nos dias de hoje. Nos concelhos vizinhos a situação é idêntica: Castanheira de Pêra passou de 166 para 51 bombeiros, e Figueiró dos Vinhos de 99 para 75.

Perante esta sangria de voluntários, têm sido promovidas ações a crianças e jovens para apelar ao voluntariado nos bombeiros, mas António Nunes lamenta que não haja incentivos para tal, especialmente numa fase onde as opções de voluntariado são cada vez mais vastas e frequentemente menos perigosas.

"O jovem de hoje não é o mesmo de há 30 anos. As opções de fazer voluntariado hoje são imensas. As únicas em que se mantém a mesma forma é bombeiros, escuteiros e eventualmente Cruz Vermelha. Hoje temos ambiente, ecologia, migrações , organizações não-governamentais de luta contra a fome, contra a exclusão. Há hoje uma atratividade de voluntariado para os jovens com menos risco e menos responsabilidade do que aderirem a um corpo de bombeiros. Porque, logo à partida, têm de fazer 300 horas de formação, piquetes todas as semanas, ficar fora de casa. Há que perceber que a sociedade também mudou”, diz ao DN.

Como tal, António Nunes diz ser necessário não só aprovar "um Estatuto do Bombeiro Voluntário que seja apetecível e atrativo", como também oferecer benefícios fiscais ou benesses que realmente atraiam jovens, como “uma bonificação para entrar na universidade; a possibilidade de fazer exames a título extraordinário quando um bombeiro falta por via de estar ao serviço”, entre outras.

O dirigente cita também exemplos como "países em que os voluntários são como os Rotários ou os Lions, em que pagam uma quota para serem bombeiros e são reconhecidos por isso. A sociedade vê neles um exemplo. Aqui, falamos dos Soldados da Paz, da Vida por Vida, mas não os reconhecemos.”