«Os zoos têm um papel crucial na preservação de espécies, em particular das que se encontram ameaçadas de extinção»

O Zoo Santo Inácio está integrado, há dez anos, num grupo europeu de zoológicos – a Kartesia – e está a assinalar este marco com uma nova roupagem na comunicação, dando mais força à conservação. Do mesmo grupo fazem parte dois parques zoológicos situados em França – o Safari de Thoiry e Safari de Peaugres – todos com um objectivo em comum: conservar espécies e sensibilizar a comunidade.​

Em conversa com a Marketeer, Ana Manaia, directora de marketing do Zoo Santo Inácio, contou como é que este zoo tem vindo a dedicar-se à conservação, protecção, educação, investigação em prol de cada um dos seus 700 habitantes.

Numa altura em que em Portugal (como no resto do mundo) aumentam as vozes que se manifestam contra os zoos, de que forma podem os responsáveis pelos mesmos fazer passar a sua mensagem?

É certo que a chave é comunicar, sempre, de forma transparente e coerente o papel dos zoos e a razão da sua existência.

Actualmente, os zoológicos são muito mais do que apenas um local onde se pode ver os animais. São conservação, protecção, educação, investigação e traçam um caminho em prol de cada um dos seus habitantes, desde o mais pequeno insecto até ao rei da selva.

Somos a casa de mais de 700 animais de 200 espécies diferentes, onde todos habitam em espaços o mais semelhantes possível aos que teriam na natureza, e temos porta aberta para todos aqueles que os queiram conhecer e, desta forma, compreendam a missão do Zoo Santo Inácio.

Que papel está, hoje, reservado para estes espaços?

Os zoos têm um papel crucial na preservação de espécies, em particular das que se encontram ameaçadas de extinção e que, sem espaços como os parques zoológicos, provavelmente já não existiam.

Para além disso, também a vertente educacional está muito presente naquilo que o zoo procura transmitir, informando e sensibilizando a população, especialmente as camadas mais jovens, que serão os adultos do amanhã. Só assim, podemos fazer com que compreendam o papel de cada um destes animais na natureza e no mundo em que vivemos para que, no futuro, também os queiram preservar.

A investigação tem também um peso significativo, uma vez que ao recolher dados através de análises, exames ou até pela observação diária, podemos aumentar o conhecimento que é partilhado por todas as instituições e obter uma representatividade enorme em algumas espécies que poucos ou nenhuns estudos têm.

Ainda, ao nível financeiro, grande parte dos projectos de conservação in-situ (no local de origem de uma espécie) são possíveis ser postos em prática graças a angariações de fundos e de donativos fornecidos por parques zoológicos de todo o mundo.

Estão a conseguir passar a mensagem ao público? Quais os meios mais eficazes para o fazer?

Como se costuma dizer “as ações valem mais do que as palavras” e, no Zoo Santo Inácio, adoptamos uma abordagem proactiva na comunicação, colocando sempre em primeiro lugar o bem-estar dos animais.

Posso afirmar que, cada vez mais, os visitantes que passam pelo Zoo Santo Inácio conhecem e abraçam a missão de apoiar a preservação do nosso planeta. Sentimos que, através do empenho de todos os colaboradores e dos visitantes, a nossa missão, apesar de infindável, é cumprida!

Dentro de portas destacam-se os campos de férias para os mais novos; os programas educativos realizados para as escolas; as VIP Tours que permitem uma maior proximidade e sensibilização – tudo é pensado e elaborado para sensibilizar a comunidade, sem nunca impactar o bem-estar dos animais.

Fora de portas, destacam-se as nossas redes sociais e os órgãos de comunicação social, onde procuramos dar-nos a conhecer e onde mostramos o nosso trabalho, quer a nível nacional como internacional, com o objectivo de chegar não só aqueles que já nos conhecem e querem continuar a acompanhar, como a novos públicos, alcançando os vários tipos de visitantes: das escolas, às universidades, às famílias, amigos e até empresas.

Que importância dos influenciadores e figuras públicas nessa estratégia de comunicação?

Os influencers conseguem alcançar diferentes tipos de públicos e difundir aquilo que é a essência do Zoo Santo Inácio, uma vez que têm um alcance significativo e podem, até mesmo, tornar-se embaixadoras da nossa missão.

Sempre que estabelecemos este tipo de parcerias, é mandatório que os influencers conheçam o nosso papel e os programas de conservação em que estamos envolvidos, para que façam eco destas acções nas suas partilhas também.

E, principalmente, somos claros naquelas que são as nossas práticas e operações diárias em prol da natureza e convidamos todos os que connosco trabalham a conhecer os nossos bastidores, a forma como vivem e como tratamos os animais.

É, neste contexto, que os influenciadores digitais podem desempenhar um papel fundamental na conscientização sobre a conservação de parques zoológicos, porque para além de, naturalmente, publicitarem o nosso espaço, aproveitamos sua influência e alcance nas redes sociais para inspirar mudanças positivas.

Quais os principais desafios que o zoo enfrenta na conservação das espécies?

Sem sombra de dúvidas, os excessivos consumos que a cada dia sobrecarregam mais e mais os recursos naturais do planeta. As pressões humanas sobre a vida selvagem, como a desflorestação, a caça furtiva, a pesca intensiva e as mudanças climáticas, estão a levar muitas das espécies do mundo ao limite, tornando a missão de alguns, como nós e tantos outros, de proteger a biodiversidade, cada vez mais difícil e, seguindo este caminho, talvez um dia até impossível.

Já para o Zoo Santo Inácio, um dos grandes desafios, e que se enquadra na nossa missão, é incentivar os visitantes a criar mudanças de hábitos em prol da protecção da natureza e dos seus recursos naturais, consciencializando para a importância do papel do Zoo enquanto veículo da preservação das espécies animais de que todos dependemos.

No Zoo Santo Inácio, quais são os públicos que mais o visitam? E a que outros públicos almejam chegar?

Recebemos visitantes de todos os cantos do mundo, mas o nosso principal público continua a ser 80% nacional, maioritariamente proveniente das regiões do Porto, Braga, Viana do Castelo, mas, também, do Centro do País, como Viseu e Aveiro.

Já entre os 20% de visitantes internacionais, destaca-se o mercado espanhol. Mais recentemente, temos vindo a receber visitantes de países mais distantes como Rússia, Ucrânia, EUA e Israel.

Que vantagens para o zoo de estar integrado no grupo Kartesia?

Em 2014 o Zoo Santo Inácio entrou no Grupo Thoiry, que em 2024, passou a ser o (WOW) World of Wild – Le Groupe, entrando assim numa nova era. Deste grupo fazem parte outros dois parques zoológicos situados em França – o Safari de Thoiry e Safari de Peaugres – todos com um objectivo em comum: conservar espécies e sensibilizar a comunidade.​

Sabemos que a conservação da vida selvagem é uma “linguagem universal”, sendo este o factor que move todo o grupo e unifica o papel dos zoos enquanto protectores de espécies.

Desde a entrada do Zoo Santo Inácio no Grupo WOW, sentimos que se adquiriu um aumento significativo de conhecimento partilhado a nível das necessidades e de bem-estar dos animais, mas também de outras áreas como a Educação, área Comercial e Marketing.

O Grupo WOW foi adquirido pela empresa de fundo de investimento Kartesia em 2022, permitindo aos três parques alavancar em projectos de investimento, criando zonas com condições melhores e mais atractivas quer para os animais, quer para os visitantes.

Em que se focará a comunicação este ano?

Estamos a arrancar com uma nova configuração no Zoo Santo Inácio, dando uma nova roupagem aos habitats e criando outros que permitam a coabitação de novas e várias espécies.

Queremos crescer! Ganhar espaço para receber novos habitantes para completar as famílias já existentes, melhorando os espaços já existentes e criar serviços complementares às visitas que tornem toda a experiência com a vida selvagem ainda melhor. Mas não nos ficamos por aqui.

Para além disso, temos vindo a elaborar parcerias, nacionais e internacionais, partilhando conhecimentos e dados recolhidos para o melhor desenvolvimento do conhecimento de espécies que existam no Zoo Santo Inácio.

Ao nível pedagógico, estamos a contar com a colaboração de várias universidades e escolas profissionais, contribuindo com estágios curriculares nas nossas instalações, que contribuem com estudos, análises e avaliações de espécies, de modo a aumentar o conhecimento técnico e partilhar estes estudos com toda a comunidade científica.

Texto de Maria João Lima

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