Tapar a webcam, sim ou não? Centro Nacional de Cibersegurança diz que é o melhor

Há duas visões: a dos que já não levantam o ecrã do portátil sem o post-it a tapar a webcam e a dos que acham completamente desnecessário. Afinal, tapar a webcam será paranóia ou precaução?

Tapar ou manter acessível a webcam?Paula Nunes/ECO

Há alguns anos que os especialistas em cibersegurança alertam para o facto de os hackers conseguirem espiar qualquer pessoa, através da câmara do seu computador. Recentemente, James Comey, ex-diretor do Federal Bureau of Investigation (FBI), admitiu, em entrevista ao Business Insider (acesso condicionado), que faz parte do grupo de pessoas que tapam a webcam.

“Coloquei um bocado de fita adesiva na câmara porque vi que alguém, mais inteligente do que eu, tinha uma fita adesiva na câmara do seu computador portátil”, confessou. Mas, quando se fala neste tema surgem duas perspetivas: a dos que já não levantam o ecrã do portátil sem ter lá o adesivo a tapar a e, por outro lado, a dos que acham completamente desnecessário tapá-la.

Os autocolantes, post-its ou fitas adesivas a tapar as webcams dos computadores e, para os mais alarmados e cautelosos, a esconder também a dos telemóveis, será, afinal, um ato paranóico ou de prudência?

“Não é um sintoma de paranóia, mas sim de prudência por parte dos utilizadores”, respondeu ao ECO o Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS). E explicou porquê: “Cada vez mais se propaga o uso de malware para espionar as pessoas através dos computadores e, posteriormente, fazer uso das imagens de forma a lesar a pessoa em causa, muitas vezes recorrendo a práticas de chantagem e extorsão, ou simplesmente para violar a sua privacidade”.

A recomendação do Centro Nacional de Cibersegurança

Em Portugal, o que o CNCS recomenda é que a câmara esteja tapada quando não estiver a ser utilizada, tal e qual como se tratasse de uma janela. “Se nos ausentarmos da residência ou necessitarmos de privacidade, fechamos a janela”, comparou a fonte do Centro Nacional de Cibersegurança.

"Em nossa casa, só abrimos as janelas quando é necessário. Se nos ausentamos da residência ou necessitarmos de privacidade, fechamos a janela.”

Centro Nacional de Cibersegurança

“Esta é uma das ações de prevenção que um utilizador pode ter para se salvaguardar de eventuais situações de exposição involuntária no ciberespaço”, acrescentou, salientando que “nem todos os utilizadores têm conhecimento dos perigos que esta pequena janela [a câmara] representa no que respeita à invasão da sua privacidade”.

Segundo a entidade nacional encarregue de promover a utilização do ciberespaço de uma forma livre, confiável e segura, a espionagem remota, embora não seja simples, é uma prática bastante comum. Nesse sentido, considera que é necessário alertar para a vulnerabilidade das câmaras e trazer para a discussão também a vulnerabilidade dos microfones. “Outra das recomendações que deve ser tida em conta é a que preconiza o bloqueio do microfone”, alerta.

Lá fora, além do antigo diretor do FBI, outros especialistas parecem ter adotado a mesma prática do CNCS de Portugal. De acordo com o Business Insider (acesso livre / conteúdo em espanhol), a analista da organização sem fins lucrativos Electronic Frontier Foundation, Eva Galeprin, também tapa a câmara do seu computador, uma prática que adotou desde que comprou o primeiro portátil com webcam incorporada, um Macbook Pro de 2007. Uma equipa de investigadores, já em 2013, tinha mostrado que é possível ativar a câmara de um Macbook sem acender sequer a luz verde do computador.

Mas, pelo contrário, Matthew Green, especialista em criptografia na Universidade John Hopkins, ainda não adotou esta medida de segurança contra a espionagem. Quando questionado sobre o porquê de não o fazer, respondeu: “Porque sou um idiota”. “Não tenho nenhuma desculpa para não levar isto a sério mas suponho que, ver-me nu ao final do dia, já é castigo suficiente [para os hackers]”, brincou Hopkins.

Tapar os ouvidos aos assistentes virtuais…

Se, por um lado, há quem coloque um adesivo à frente da sua webcam, por outro, há quem já não dispense o seu assistente virtual ou a sua coluna inteligente. Este tipo de tecnologias consegue gerir outros aparelhos eletrónicos, tocar música, escrever uma mensagem, fazer chamadas, entre muitas outras ações, apenas através de um controlo de voz. E se, com a câmara há um “olho” na sua casa, neste caso há um “ouvido”.

A Amazon, que teve bastante êxito quando lançou a sua coluna inteligente Echo, deixou passar um erro — que depois corrigiu –, alertada pela empresa de segurança Checkmarx. Quando a Alexa, a assistente virtual da empresa, estava próxima do Echo, era capaz de ouvir e registar tudo o que o dono dizia.

Nos Estados Unidos, este erro levou a que uma conversa entre um casal fosse enviada para um dos contactos da lista telefónica. O aparelho terá começado a gravar a conversa quando ouviu uma palavra que soava parecido com “Alexa” e, posteriormente, enviou os ficheiros de áudio para um contacto.

Na altura, confrontada com a situação, a Amazon confirmou o episódio mas referiu que se tratou de um “acidente”. A empresa explicou que, depois de Alexa ter terminado de gravar, deverá ter ouvido um pedido para enviar uma mensagem, de seguida perguntou para quem seria a mensagem e, por fim, terá interpretado o barulho de fundo como a resposta.

No passado mês de fevereiro, James Clapper, ex-diretor do serviço de inteligência dos EUA, explicou que a “internet das coisas” pode ser aproveitada para “a identificação, vigilância, monitoramento, rastreamento… Ou para obter as credenciais dos utilizadores e aceder a redes sociais”, por exemplo.

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