Já pode “investir” com a moeda virtual criada pelo Governo

O Governo está a "oferecer" uma criptomoeda aos cidadãos portugueses. Apesar de não terem qualquer valor, servem para "investir" nos 113 projetos a concurso no GovTech. Há prémios de 30.000 euros.

Já é conhecida a lista dos 113 projetos que vão participar no concurso GovTech, através do qual o Governo vai dar prémios de 30.000 euros a três empresas (e que também serve de projeto-piloto para testar a tecnologia blockchain). As votações arrancaram esta segunda-feira, com recurso à moeda virtual criada pelo Governo especificamente para este concurso. O Executivo quer, deste modo, encontrar protótipos e modelos de negócio com potencial para encarar alguns dos 17 maiores desafios mundiais da próxima década, com base na Agenda 2030 da ONU.

Foram recebidas 140 candidaturas mas só 113 foram consideradas elegíveis por já terem um protótipo funcional, para além de um modelo de negócio definido. “Estamos, em geral, muito sorridentes. Há projetos muito interessantes. Têm imensa qualidade”, disse ao ECO a secretária de Estado Adjunta e da Modernização, Graça Fonseca. Não foi, contudo, um número de candidaturas espontâneo. O Governo promoveu um roadshow e “a esmagadora maioria” foi convencida a candidatar-se.

“Se não fossemos falar com as startups e os empresários, provavelmente muitas destas empresas não se candidatariam”, assumiu Graça Fonseca, explicando que muitos dos empreendedores convidados a participar “não tinham perceção” de que os seus projetos iam ao encontro dos objetivos do concurso. Além disso, “muitos são projetos de negócio que não precisariam de vir a uma iniciativa destas pelo prémio do concurso”, frisa.

Governo “oferece” criptomoeda

A partir desta segunda-feira, e até 15 de setembro, é possível aos cidadãos portugueses votarem nos projetos que considerem ser mais interessantes. Funciona assim: ao registar-se no portal do concurso, recebe unidades de uma moeda virtual para poder coinvestir nas ideias que tenham mais potencial. Essa criptomoeda chama-se “GOVTECH” e foi criada pelo Governo português para este concurso — porém, as unidades não podem ser transacionadas nem têm valor monetário. Só funcionam no concurso e servem apenas para aplicar nos projetos.

Além do saldo inicial, é possível angariar crachás e mais moedas, convidando amigos a votarem no concurso, usando a Chave Móvel Digital como forma de autenticação ou participando em eventos associados ao GovTech. “Há muitas pessoas registadas no site. A nossa primeira perceção é de que as pessoas estão muito entusiasmadas com a ideia de participarem num mercado fechado, num marketplace, conta Graça Fonseca.

O entusiasmo leva a que o GovTech seja visto como um concurso desafiante até para quem não concorre. “A pergunta é: ‘se tivesse este dinheiro para investir, onde o investiria?’ E há pessoas que já estão a acumular ‘GOVTECH’. Este modelo de incentivos está a ser utilizado”, sublinha a secretária de Estado.

Há muitas pessoas registadas no site. A nossa primeira perceção é que as pessoas estão muito entusiasmadas com a ideia de participarem num mercado fechado.

Graça Fonseca

Secretária de Estado Adjunta e da Modernização

Saúde e fogos em destaque

Quanto ao tipo de ideias no menu, Graça Fonseca “destaca à cabeça” as da área da saúde. Fala em projetos ligados à “vacinação”, de “plataformas que ligam profissionais de saúde” e até de ferramentas de “inteligência artificial para diagnóstico médico”. Mas também existem empresas de outras áreas a concorrer e há de tudo um pouco: “produtos na área do consumo sustentável” ou da “rastreabilidade do produto”, eles próprios com recurso à blockchain, e de combate e prevenção a incêndios.

A secretária de Estado fala ainda em cinco projetos “diretamente relacionados” com o tema dos fogos, o que comprova a atenção dos empreendedores a um dos grandes flagelos que o país tem enfrentado nos últimos tempos. Existem projetos de “limpeza de floresta e terrenos”, até ao uso de “satélites para efeitos de monitorização de território e deteção precoce”.

Outro tema em destaque é “a parte dos recursos, da água e da energia”, continua Graça Fonseca. “Também aparece aqui em vários projetos, desde a gestão inteligente de água à distribuição e acesso a energia”, elenca a secretária de Estado. E não esquecer a “aquacultura” ou os “recursos da pesca”, também contemplados em alguns dos 113 projetos em concurso no GovTech.

Concretamente em relação às empresas a concurso, Graça Fonseca refere que concorrem empresas de dois tipos: umas com “projetos mais emergentes”, outras “um pouco mais maduras” e que existem há mais tempo (cinco anos no máximo). O GovTech também já saltou a fronteira e conta com sete participantes estrangeiros, do Brasil e de França.

A Agenda 2030 da ONU, que contém os 17 desafios mundiais para a próxima década, leva Graça Fonseca a deixar um apelo. “Olhem mesmo para esta agenda. Achamos que a Agenda 2030 é a grande agenda deste século. Está lá tudo o que os Estados precisam de fazer. É algo que devíamos todos levar muito a sério, pois faz parte do futuro coletivo”, diz. Por isso, há que olhar para os projetos do GovTech “como contributos” para a solução global dos problemas.

Estamos, em geral, muito sorridentes. Há projetos muito interessantes. Têm imensa qualidade.

Graça Fonseca

Secretária de Estado Adjunta e da Modernização

Blockchain, com moderação

O GovTech está a servir de projeto-piloto do Governo para perceber que possibilidades são trazidas pela tecnologia blockchain. Trata-se de um registo inviolável e sem intermediários, muito conhecido por estar na base do funcionamento da moeda virtual bitcoin. No entanto, as possibilidades vão muito além das criptomoedas, com aplicações diretas da tecnologia em setores como o alimentar ou o automóvel, por exemplo.

O próprio Governo português não quis ficar alheio a esta tendência tecnológica, com a ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Maria Manuel Leitão Marques, a assumir, em setembro do ano passado, a possibilidade de a blockchain ser aplicada na votação do Orçamento Participativo. A ideia não passou de intenção, porque, explica Graça Fonseca ao ECO, é preciso um sistema democrático que seja entendido por todos.

“Tudo o que tem a ver com [aplicação da blockchain no] sistema de voto, ponderamos essa possibilidade, que é emergente. Mas, no Orçamento Participativo, queremos que as pessoas votem o mais simples possível, sem complicações, sem terem de perceber o funcionamento de qualquer espécie de mecanismo que nunca tenham utilizado”, aponta a secretária de Estado.

Por outras palavras, a blockchain, apesar de promissora, ainda é de difícil entendimento e implementação, dois baldes de água fria por cima de todo o entusiasmo que existe à volta deste assunto. Há algum “desconhecimento”, mesmo até “numa comunidade de empreendedores” e de techies.

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