Comer pratos ou vestir cascas de banana: estas startups estão a reinventar a alimentação

  • ECO
  • 22 Julho 2018

O objetivo é comum: reduzir a pegada ecológica. Os meios são diferentes: desde loiça biodegradável e comestível, passando por fibras têxteis feitas com restos alimentares, até à farinha de grilo.

Pratos da Soditud são biodegradáveis e podem comer-se.D.R.

Há uma startup portuguesa que quer pô-lo a comer tudo, mas mesmo tudo, inclusive o prato. A ideia é substituir a loiça de plástico e a de papel por loiça biodegradável e comestível. A Soditud quer incentivar os portugueses a mudar hábitos, nomeadamente a tomar consciência da pegada ecológica e do uso excessivo de plásticos.

“O nosso prato é 100% farelo de trigo. É composto pela parte do trigo que só se aproveitaria para a ração animal. Assim, a pessoa pode optar por comer o prato ou, se preferir, dá-lo ao seu cão, por exemplo”, explica Pedro Cadete, responsável pela empresa, ao ECO. Outra hipótese é colocar a loiça num compostor, juntamente com os restos de comida.

Os pratos feitos de farelo de trigo, um subproduto do processamento de grãos de trigo, são fabricados tendo em vista o desperdício mínimo e têm uma pegada ecológica praticamente negativa. “Nós utilizamos muito menos água para produzir a nossa loiça do que a indústria do plástico e mesmo do bioplástico”, diz. Além disso, por ser compostável, também não tem custos associados à lavagem, seja de água ou de eletricidade. Como é usado uma única vez, “continua a ser um produto descartável, mas consciente”.

Uma das vantagens, comparativamente à loiça descartável de plástico ou papel, é que esta não se dobra e é resistente a altas temperaturas sendo, por isso, possível colocar um prato no forno ou no micro-ondas.

A ideia surgiu na Polónia, através da Biotrem, e foi recentemente trazida para Portugal pela Soditud. Estes pratos já podem ser encontrados nos restaurantes Vegana Burgers, em Lisboa, onde primeiro se come o hambúrguer e depois… o prato.

E lá fora? Insetos comestíveis…

Grilos, para ser mais específico. Há quem veja neste tipo de inseto uma forma para responder aos desafios da produção sustentável, rica em proteínas, gorduras saudáveis e micronutrientes. Na Bitty Foods, os grilos são torrados e, seguidamente, transformados numa farinha fina que serve de base às bolachas e snacks vendidos pela startup de São Francisco. Nenhum dos produtos contém glúten, grãos ou açúcar processado.

A ideia concretizou-se pelas mãos de Megan Miller, a fundadora da empresa, que, depois de uma viagem à Ásia, quis experimentar algumas receitas culinárias que tinha aprendido. “Algumas das nossas primeiras experiências, como transformar bichos da farinha num concentrado vitamínico, não tiveram sucesso. Mas eventualmente chegámos aos grilos, percebemos o seu potencial, e começámos a criar produtos com base neles”, disse Leslie Ziegler, cofundadora da Bitty Foods, ao Independent.

Comparativamente à produção de gado bovino, os insetos têm níveis de sustentabilidade 20 vezes superiores. Além disso, são uma excelente fonte de proteína que gasta muito menos água e apresenta grau zero no que diz respeito a emissões de carbono. “Os insetos comestíveis são a chave para a segurança alimentar global futura“, diz o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2012, sobre as perspetivas futuras para a segurança alimentar. “Se os insetos comestíveis se tornarem parte da dieta global, podemos reduzir os gases do efeito de estufa em 18% e o custo médio dos alimentos em 33%”, pode ler-se.

Atualmente, 80% das culturas do mundo consomem insetos, nomeadamente na Ásia, África, América Central e do Sul. Falta convencer os Estados Unidos da América e a Europa a incluir os insetos nas suas dietas alimentares.

Cascas de banana transformadas em fibras têxteis

O desperdício alimentar pode estar prestes a dominar a indústria da moda, pelo menos é o que a Circular Systems quer. A startup é pioneira nas novas tecnologias ao serviço da conversão de resíduos alimentares, como cascas de banana, folhas de abacaxi ou resíduos da cana-de-açúcar, numa fibra natural que pode ser tecida em roupas.

De acordo com a Fast Company, todos os anos são comidos cerca de 100 biliões destas frutas em todo o mundo. Tal consumo cria aproximadamente 270 milhões de toneladas de resíduos (entre cascas e talos) que, na maioria das vezes, são queimados ou acabam simplesmente por apodrecer. Se, por um lado, a queima polui o ar, por outro, a decomposição liberta metano para a atmosfera e contribui para o aquecimento global. Para o CEO da Circular Systems, Isaac Nichelson, a solução está no aproveitamento desses resíduos para uma indústria da moda mais sustentável.

A startup quer colocar o setor num novo caminho, rumo à produção e distribuição mais sustentáveis. Este ano, a Circular Systems recebeu 350.000 dólares, fruto do Prémio Global Change, da Fundação H&M. O objetivo é aumentar as operações e fazer novas parcerias com marcas globais que queiram integrar as fibras sustentáveis nas suas produções.

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