Foram 10 dias, cerca de três mil quilómetros e um percurso que passou por Espanha, França, Inglaterra e acabou na Escócia, onde decorria a Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas – COP26. A iniciativa Climes to Go juntou este ano 3 equipas, com quatro elementos, e transformou uma maratona numa competição amigável onde a sustentabilidade e a defesa do clima estavam em primeiro lugar.

“A competição foi pensada para fazer a viagem de forma sustentável, mas a palavra aventura encaixa melhor no que fizemos”, explicou ao SAPO TEK Guilherme Menezes, um dos elementos que participaram na Climes to Go, que partiu de Cascais a 22 de outubro para chegar à cimeira a 2 de novembro.

Mais do que um desafio, Flávia Sousa prefere encarar a maratona como uma partilha de experiências, até porque “entre as equipas houve muita colaboração”.

Guilherme Menezes e Flávia Sousa integraram a equipa Produção e Consumo, que foi a vencedora nesta edição, conseguindo consumir menos C02 e gastar menos tempo, dinheiro e água, chegando a Glasgow da forma mais eficiente e sustentável e fazendo as melhores escolhas no seu percurso. A avaliação nos desafios propostos pela organização foi também crucial para este resultado.

Veja alguns dos momentos da aventura da Climes to Go

Embora se considerassem pessoas ambientalmente conscientes, uma maratona de 10 dias em que todos os elementos contavam para uma viagem mais sustentável foi um desafio complicado de enfrentar. Para Flávia Sousa, aluna da ETIC, maior dificuldade na aventura era a alimentação. “A minha expectativa era que teria de mudar hábitos de forma muito radical […] achava que ia comer só salada”, mas às vezes o percurso e a realidade não permitia cumprir de forma rigorosa o plano, como admitiu Guilherme Menezes, que estava mais encarregue da logística.

“Tínhamos de ser eficientes e rápidos, dormir em hosteis, fazer a viagem em pouco tempo e consumindo poucos recursos, e tínhamos de balancear os vários elementos”, justifica Guilherme Menezes.

A construção da relação em equipa, com pessoas de diferentes backgrounds, fez também parte dos desafios a enfrentar, mas o espírito de missão conjunto criou uma união com empatia e respeito que levou as equipas a Glasgow na maior colaboração, e menos competição.

Um dos desafios era a negociação e aplicação dos princípios da economia circular, e a equipa Produção e Consumo levava consigo uma câmara de filmar compacta para valorizar, mas a ideia não correu bem. Em Bilbao, decidiram doar a câmara à Coopera e alterar o desafio, registando tudo num caderno reciclado que foi ilustrado na viagem e que documentou o processo.

O vídeo partilhado no Instagram mostra o trabalho realizado

Segundo os dados partilhados pela organização, e comparativamente à Dieta Mediterrânica tradicional, se cada português incorporasse escolhas semelhantes às efetuadas pelas equipas durante esta viagem, teríamos poupanças anuais de 5,7 milhões de toneladas de CO2 emitidas, o equivalente a quase 10% da pegada total portuguesa, e de 7187,6 milhões de m3 de água (água usada na produção dos alimentos), o equivalente a mais do que um Alqueva.

Da mesma forma, se cada português, em vez dos 80 litros que usa em média por duche, adotasse comportamentos semelhantes aos que as equipas tiveram durante a viagem, teríamos uma poupança anual a nível nacional de 217 milhões de m3 de água.

O conhecimento dos números é importante para trazer alteração de hábitos. “Já erramos pessoas com consciência ambiental, hoje temos mais informação e mais dados, por isso podemos tomar decisões e perceber o seu impacto”, explica Guilherme Menezes. Mesmo assim nem um nem outro se veem a cumprir rigorosamente as mesmas métricas rigorosas de sustentabilidade e descarbonização aplicadas na viagem, como a redução do consumo de água do duche. “Sou recetiva a mudança de hábitos e perspetivas, mas tem de ser com pequenos passos”, sublinha Flávia Sousa que admite que a experiência não trouxe mudanças radicais.

O vídeo final produzido em conjunto pelas três equipas mostra as mensagens e experiências da aventura

Uma aplicação para registar todos os dados

As equipas levavam na bagagem uma aplicação, desenvolvida pela Get2C e a Earth Watchers, com tecnologia Microsoft, onde tinham de fazer os registos de deslocações, pelo tipo de transporte e custo, o alojamento e o custo associado, o consumo de água direto e a alimentação, que acabou por ser o desafio mais complexo porque roubava muito tempo, explicou ao SAPO TEK Guilherme Menezes.

Eram esses registos, e os resultados das escolhas, que influenciavam o número de “climas” das equipas, a moeda a moeda fictícia criada para avaliar o impacto nas variáveis tempo, dinheiro, emissões de carbono e consumo de água.

Climes to Go
aplicação créditos: climes to go

Manuel Dias, National Technology Officer da Microsoft Portugal, explica que a tecnologia usada assentou na Microsoft Power Platform, líder de mercado na área Lowcode, mais especificamente Power Apps para a aplicação móvel e Power BI para aos dashboards, no Azure para a componente de serviços de dados e por último o Office 365 onde toda a solução ficou alojada.

“Os principais desafios foram a complexidade e o curto espaço de tempo para desenvolver uma solução completa, que incluía uma aplicação móvel para ser utilizada pelas três equipas e vários dashboards para controlo e acompanhamento diário de toda a competição, com o detalhe de todas as ações tomadas por cada equipa”, sublinha Manuel Dias.

Para o executivo, a informação pode ajudar a reduzir a pegada de carbono através das aprendizagens e com o poder da ciência dos dados, da inteligência artificial e da tecnologia digital, e é esse o trabalho que a Microsoft está a fazer internamente em prol da sustentabilidade e também com os seus clientes.

Esta informação partilhada de forma clara, e com métricas rigorosas, é também considerada por Guilherme Menezes e Flávia Sousa um elemento importante para criar uma maior consciência ambiental, mas os jovens que participaram no desafio Climes do Go acreditam que é preciso mais divulgação e melhoria na maneira de passar a mensagem. “É preciso equilíbrio na informação e tentar não sobrecarregar as pessoas de dados”, defende Guilherme Menezes, enquanto Flávia Sousa acredita que é através dos mais novos, desenvolvendo ferramentas que possam ser usadas nas escolas, que se vai conseguir uma maior consciência das escolhas do dia a dia para a sustentabilidade.

Nota da Redação: A notícia foi atualizada com informação sobre o desenvolvimento da aplicação pela Get2C e a Earth Watchers, com tecnologia Microsoft.

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