Segundo um estudo publicado na revista científica Nature, foram encontrados fragmentos microscópicos de ADN ambiental (com origem em animais, plantas e microrganismos) em sedimentos da Idade do Gelo, no norte da Gronelândia, em 41 amostras incompletas mas utilizáveis que estavam escondidas em argila e quartzo.

Todas as espécies de seres vivos deixam vestígios no ambiente (solo, água, atmosfera) a partir dos quais é possível extrair o ADN (ADN ambiental) e usá-lo para as identificar.

Graças a uma tecnologia de vanguarda, os cientistas descobriram que os fragmentos microscópicos de ADN em causa são um milhão de anos mais antigos do que o anterior registo de ADN extraído de um osso de um mamute (animal extinto) siberiano.

Os cientistas esperam que os resultados obtidos ajudem a antecipar o impacto ambiental a longo prazo do aquecimento global atual, uma vez que as plantas e os animais que deixaram vestígios do seu ADN no meio ambiente sobreviveram durante um período de alterações climáticas significativas.

As amostras analisadas foram retiradas da formação geológica Kap Kobenhavn, um depósito de sedimentos de quase 100 metros de espessura localizado na foz de um fiorde do oceano Ártico, o ponto mais setentrional da Gronelândia (ilha dinamarquesa). Atualmente, a zona é um deserto polar. Contudo, há milhões de anos estava repleta de plantas e animais.

O clima na Gronelândia, à época, oscilava entre o glacial e o temperado e era entre 10ºC e 17ºC mais quente que o clima da Gronelândia na atualidade, tendo os sedimentos se acumulado durante dezenas de milhares de anos antes de as temperaturas arrefecerem e consolidarem as descobertas feitas no 'permafrost' (terreno permanentemente gelado).

Os investigadores descobriram vestígios de animais, plantas e microrganismos, incluindo fungos, bactérias, bétulas, choupos, renas, lemingues (pequenos roedores) e lebres, e que o mastodonte, um mamífero da Idade do Gelo cujos fósseis têm sido encontrados na América do Norte, chegou também à Gronelândia antes de extinguir-se.

O trabalho, que começou em 2006 envolvendo cientistas do Reino Unido, Dinamarca, França, Suécia, Noruega, Estados Unidos e Alemanha, comparou cada fragmento de ADN com extensas bibliotecas de ADN extraído de animais, plantas e microrganismos atuais.

Alguns dos fragmentos de ADN eram fáceis de classificar como predecessores de espécies atuais, outros apenas podiam ser associados ao nível do género e alguns provinham de espécies impossíveis de localizar nos repositórios de ADN de animais, plantas e microrganismos que subsistem.

As amostras com dois milhões de anos permitiram aos cientistas terem uma ideia de uma etapa desconhecida até agora da evolução do ADN de uma série de espécies.

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