A descoberta ocorreu há alguns meses, mas só agora foi concluída a limpeza e preparação da peça - mostrada à Lusa - e que vai ser agora analisada em mais detalhe.

Nuno Vasco Oliveira, arqueólogo e assessor da Secretaria de Estado do Turismo, Cultura e Desporto, explicou à Lusa que o achado é especialmente significativo para Timor-Leste, tanto em termos dos objetos do futuro Museu Nacional, como no contexto regional.

"É uma peça muito significativa para Timor-Leste. É única no contexto de documentar o período a que se reporta, cerca de 2.000 anos atrás, no contexto do sudeste asiático insular", disse.

"São conhecidas menos de 20 peças deste género em todo o sudeste insular, sendo que esta é uma das mais bem conservadas. Além disso sabemos exatamente o local onde foi descoberta o que permitirá fazer intervenções arqueológicas adicionais", referiu.

O tambor Dong Son foi encontrado durante a preparação de um terreno para a construção de uma casa próximo do rio Raumoko, em Daudere, no distrito de Lautem, um dos mais ricos em vestígios arqueológicos em Timor-Leste.

Quando estavam a escavar o espaço, onde já tinha sido feito uma primeira remoção de terra, os trabalhadores tocaram num objetivo de metal, tendo começado a escavar o que acabaria por ser um dos tambores mais bem conservados encontrados até agora em todo o sudeste asiático.

Considerados um dos principais símbolos das civilizações mais antigas do Vietnam e com especial importância na vida espiritual e cultural da época, os tambores eram usados não apenas para interpretações musicais, mas para combates e rituais religiosos e outras ações comunitárias.

Apesar de serem parecidos em forma, os tambores são peças únicas, quer no seu tamanho, quer nas imagens ornamentais que os decoram, em que se destacam formas geométricas e desenhos que, segundo os especialistas integram "enciclopédias gráficas" do Vietname.

Para perceber os desenhos contidos nesta peça, foi já contactado um desenhador português que reside em Díli e que vai, através de fotografias e software de edição de imagens, procurar recriar as figuras existentes.

Ambra Caló, investigadora da Australian National University (ANU) e que nos últimos anos tem analisado a distribuição deste tipo de tambores de bronze na região, explica na versão atualizada da sua dissertação, de 2009, que há peças como esta em várias ilhas, das Molucas à Nova Guiné.

No caso do arquipélago indonésio, Caló identifica duas regiões - oriental e ocidental -, cada uma com tipos diferentes de tambores o que poderia sugerir diferentes rotas marítimas.

Os estudos conduzidos em Timor-Leste nos últimos 15 anos já permitiram corrigir significativamente as estimativas anteriores sobre a colonização humana da ilha, com as datações arqueológicas mais antigas a serem de 42 mil anos.

Arte rupestre, alguns objetos e outros elementos orgânicos (como conchas em cavernas) são alguns dos vestígios que ajudaram a contextualizar a datação.

Já no que toca ao metal, a descoberta, antes de 1999 - mas só publicada no ano passado - de um tampo de um outro tambor Dong Son - e agora a do tambor ajudarão a datar a entrada de metais em Timor-Leste, já referenciada em pinturas rupestres especialmente na ponta leste (Tutuala) e na zona montanhosa de Baguia.

"Há neste momento datações de radio carbono na ordem dos 43 mil anos. Que coloca as datas mais antigas conhecidas em Timor hoje muito próximo das datações que conhecemos das mais antigas do continente australiano, o que obviamente faz sugerir que timor terá sido utilizado pelas primeiras comunidades humanas nas suas migrações iniciais do sudeste asiático continental para o continente australiano. Terão passado por Timor e aqui se terão estabelecido desde essa altura", disse ainda a investigadora.

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