"O traço mais forte [entre os dois artistas] é sem dúvida o sentido de humor, que é muito visível na exposição", disse à agência Lusa Rita Gomes Ferrão, comissária da exposição que se intitula "Pé d'Orelha. Conversas entre Bordalo e Querubim".

Por outro lado, os dois artistas plásticos "têm uma abordagem erudita da cerâmica, nas suas mais diferentes dimensões: a azulejaria, a escultura, a pintura, objetos de uso quotidiano, e até o contexto fabril, Bordalo com a sua fábrica nas Caldas da Rainha, e Querubim com a fábrica Viúva Lamego", em Lisboa, disse a responsável realçando que "o contexto fabril fornece infraestruturas que uma oficina privada não tem".

A exposição divide-se em seis núcleos que remetem para a ideia de conversa, "sempre num olhar retrospetivo, o Querubim é mais jovem a olha para a obra de Bordalo Pinheiro como uma referência", disse Rita Gomes Ferrão.

Esta "conversa" tem início em 1956, quando Querubim Lapa, a convite do arquiteto Conceição Silva, concebeu um conjunto de peças tridimensionais para vender na loja Rampa, em Lisboa.

"São, entre outras, canjeirões antropomórficos, ou com figuras de animais, com um lado satírico e humorístico, numa clara alusão, assumida, aliás, por ele, que disse tratar-se de uma interpretação moderna das peças de Bordalo".

O contacto entre os dois artistas "adensa-se nos começos da década de 1960, num conjunto de placas de cerâmica para o Hotel do Mar [em Sesimbra], em que surgem caranguejos, lagostas, no fundo à semelhança da tradição bordaliana".

"Ele teve nesta encomenda muita liberdade para experimentar", referiu a responsável, acrescentando que há outros pontos de contacto entre os dois artistas, "que vêm da História de Arte, e da Cerâmica em que tanto o Bordalo como o Querubim, têm referências muito claras à História da Azulejaria, à cerâmica oriental e também referências que têm a ver com o próprio sentido de humor de cada um deles e ao erotismo, que é forte em Querubim Lapa e vai aparecendo, também, em Bordalo".

O museu lisboeta organizou em 2015 uma exposição sobre a obra de Querubim Lapa, dedicada à primeira fase do seu trabalho, nas décadas de 1950 e 1960. Mas nesta mostra que abre na quinta-feira "expõem-se, pela primeira vez, algumas peças, nomeadamente, um conjunto de taças em porcelana e grés, um conjunto de azulejos de figura avulsa com relevos e várias placas de cerâmica, e alguns documentos mais pessoais, como esboços" referentes ao período de 1971 até meados de 2000.

Querubim Lapa nasceu em 1925, em Portimão, desenvolveu trabalhos em pintura, desenho, trabalhos de gravura e de tapeçaria. Obras de sua autoria encontram-se em vários espaços públicos da capital, como o Hotel Ritz, a Pastelaria Mexicana, a estação de Metropolitano da Bela Vista, a Reitoria da Universidade de Lisboa ou o Palácio da Justiça. Em 1986, Querubim Lapa recebeu o Prémio de Azulejaria da Câmara Municipal de Lisboa, pelo painel da entrada sul da sede do Banco de Portugal.

Fora das fronteiras nacionais, cite-se os Armazéns do Minho, em Moçâmedes, no sul de Angola.

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