"A fome não espera que o Estado tenha em conta as situações de algumas zonas e populações confrontadas com a fome a seca não hesitando em declará-las zonas de emergência, fazendo uma fiscalização eficiente dos produtos doados, a fim de que estes não sejam desviados e nem açambarcados por pessoas sem escrúpulos", afirmou hoje o arcebispo da província angolana do Huambo, Zeferino Martins.

Os bispos, na apresentação das sugestões da Igreja Católica angolana sobre a atual realidade socioeconómica do país, referem que para contrapor à seca e fome que afeta, desde finais de 2018, províncias do sul do país "é também necessário criar projetos de prevenção e respostas com prazos alargados".

O prelado católico falava no balanço da segunda Assembleia Plenária Ordinária da CEAST, que encerrou hoje na província angolana da Lunda Sul, leste de Angola.

As províncias angolanas do Cunene, Huíla, Cuando-Cubango e Namibe são afetadas pela seca desde finais de 2018, situação que levou o Presidente angolano, João Lourenço, a visitar em maio passado a região.

Nos últimos meses, as autoridades da província angolana do Moxico, leste do país, assumiram que a seca também já atingiu alguns municípios da região, com maior incidência no município dos Bundas.

A União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA, maior partido da oposição), em setembro, recomendou ao Presidente angolano que "decrete publicamente o estado de emergência" devido à "calamidade extrema" em que vivem as populações do sul do país, afetadas pela fome e seca severa.

Segundo o presidente do grupo parlamentar da UNITA, Adalberto Costa Júnior, a resposta do governo às populações afetadas pela seca "é praticamente inexistente e torna-se necessário medidas de emergência".

Para o deputado, a par da necessidade de se decretar publicamente o estado de emergência, é necessário também que se mobilizem "meios do Estado e de toda a sociedade" para uma mega campanha de recolha de bens alimentares para acudir às populações afetadas, a exemplo do que se fez em Moçambique.

Hoje, os bispos angolanos, na sua nota pastoral sobre a realidade socioeconómica de Angola denominada "O Tempo Urge" apontaram também ao que consideram pistas que "orientem para uma melhor gestão de recursos", perante a "realidade dramática".

A CEAST considera, entre as sugestões, que em virtude do interesse público e do bem comum "seria conveniente" que o Estado angolano desse a conhecer aos cidadãos o "montante da dívida pública angolana" e as etapas da sua liquidação, informando também sobre os montantes dos novos empréstimos.

"Exortamos por isso os nossos cidadãos com dinheiro no exterior a terem coragem de investir no país a fim de contribuírem para a melhoria geral da situação económica que a todos nós nos afeta", referem.

Para os bispos católicos angolanos, as medidas que foram tomadas no domínio macro e micro económico devem ter sempre como primeiro objetivo o "bem das pessoas e das populações" e que "sejam conhecidas e fiscalizadas pelos cidadãos".

"Que sejam medidas exequíveis e programadas para curto, médio e longo prazo", realçam os bispos, defendo ainda investimentos com seriedade e eficácia na agricultura, sobretudo a familiar, e em pequenas indústrias de transformação.

DYAS // LFS

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