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SAD do Sporting já encaixou quase 420 milhões com Ruben Amorim

“E se corre bem?”, questionou o técnico na altura em que os “leões” investiram 10 milhões de euros na sua contratação. Quatro anos depois, os resultados estão à vista entre receitas da UEFA e vendas de jogadores. “Poucas são as estruturas que estão preparadas para perder bons quadros como Ruben Amorim”, destaca especialista ao JE.
30 Abril 2024, 07h30

Seja qual for o timing definido para a saída de Ruben Amorim do Sporting CP, já é possível afirmar que o técnico entra na história do clube (e da SAD) ao permitir um encaixe financeiro superior a 418 milhões de euros em pouco mais de quatro anos, fruto das receitas das transferências de futebolistas e dos prémios da UEFA que os “leões” garantiram neste período.

Apesar de ter contrato com o Sporting CP até 2026, têm sido insistentes os relatos que apontam para que o treinador português possa rumar a outra liga no final desta temporada. Por isso, importa fazer um balanço financeiro do que tem sido o desempenho financeiro da SAD dos “leões” desde que as decisões do futebol “verde e branco” são inevitavelmente influenciadas por Ruben Amorim.

Ruben Amorim, que custou 10 milhões aos cofres do Sporting, começou a devolver “com juros” a verba que a SAD investiu no técnico quando este era apenas um técnico promissor do Sporting de Braga. Perante as muitas dúvidas que se colocaram logo na conferência de imprensa de apresentação, o técnico respondeu com uma expressão que se tornou gíria em Alvalade: “E se corre bem?”.

E para o Sporting, começou a correr bem logo na primeira janela de transferências (2020/21) em que os “leões” conseguiram arrecadar 51,4 milhões de euros. Apesar das vendas de jogadores importantes como Luciano Vietto (8,25 milhões), Marcos Acuña (11,2 milhões) e Wendel (20,3 milhões), o clube de Alvalade conseguiu, contra todas as expectativas, sagra-se campeão nacional nessa época, interrompendo um “jejum” de 18 anos. Importante recordar que nessa temporada, o Sporting caiu no “playoff” da Liga Europa e não averbou qualquer verba da UEFA.

Resultado: os “leões” entram diretamente na Liga dos Campeões na época 2021/22 (onde arrecadam um prémio total de 45 milhões de euros, tendo caído nos oitavos da “Champions”) e reduzem substancialmente a verba com as vendas: 16,7 milhões de euros. Apesar de tudo, o Sporting adia para mais tarde outro exercício financeiro a venda do passe de Nuno Mendes.

Na época seguinte (2022/23), e apesar de ter sido a época desportiva mais fraca desde que Ruben Amorim é treinador do Sporting CP, a equipa de Alvalade consegue o melhor proveito financeiro: garante 38,2 milhões de euros em prémios da UEFA (chegou aos quartos de final da Liga Europa) e consegue fazer vendas avultadas com a alienação dos passes de futebolistas como Matheus Nunes, João Palhinha e a restante verba por Nuno Mendes por 131,8 milhões de euros.

Esta temporada, sem Liga dos Campeões, o Sporting CP consegue apenas 11,8 milhões de euros da UEFA e compensa a não qualificação para a “Champions” com as vendas dos passes de futebolistas como Manuel Ugarte, Pedro Porro e Chermiti por um valor global de 123,5 milhões. Esta foi também a temporada do maior investimento do Sporting CP com Ruben Amorim ao leme, com uma verba a rondar os 60 milhões de euros. Está visto o resultado da aposta em valores como Morten Hjulmand e sobretudo, Viktor Gyokeres.

Ao todo, e em pouco mais de quatro anos com Ruben Amorim ao leme, o Sporting CP arrecadou 94,9 milhões de euros em prémios da UEFA e garantiu vendas de passes de futebolistas que atingem os 323,35 milhões de euros. No total, sem contar com outras parcelas que podem ser associadas ao trabalho do técnico, o impacto financeiro de um dos treinadores portugueses mais promissores da atualidade é de 418,3 milhões de euros. Mesmo que o treinador saia do clube no final desta temporada, facilmente esse proveito chegará a 500 milhões de euros.

“Uma organização não pode depender de uma só pessoa”

Poucas são as estruturas que estão preparadas para perder bons quadros como Ruben Amorim mas o Sporting CP terá que estar preparado para essa eventualidade. A conclusão é do economista António José Duarte, ouvido na última edição do programa “Jogo Económico”, da plataforma multimédia JE TV.

“É muito difícil a uma organização antecipar a perda de alguém que a marcou de uma forma tão significativa o período em que esteve (e está) ao comando do Sporting CP”, começou por referir António José Duarte.

Este economista recorda a vinda do técnico para o clube deu-se em “circunstâncias particularmente difíceis” e que apesar de estamos “em plena pandemia de Covid-19, o Sporting CP sagra-se campeão com um plantel constituído por muitos jovens e com um investimento altíssimo de 10 milhões de euros na contratação do técnico”.

Considera António José Duarte que “nenhuma organização está preparada para o facto de no dia a seguir não poder contar com alguém que tem sido estratega na forma como constrói a equipa” destacando o facto de Ruben Amorim ter passado por momentos menos bons à frente do Sporting e apesar disso, “ninguém lhe conhece uma reação desportivamente mais negativa: isto é de saudar particularmente nesta indústria em que as reações nem sempre são analisadas pelo mesmo nível de resposta”.

Quanto à forma como Ruben Amorim valorizou o plantel, este economista destaca essa “valorização significativa do plantel em quatro anos” mas mais do que isso, “vemos uma valorização do adepto ao clube”: “Essa ligação, que é notória nos dias de hoje e que é muito visível nos dias dos jogos, tem o dedo de Ruben Amorim. Mais do que um treinador, que um líder dentro e fora do balneário, o Sporting não está preparado para deixar de ter alguém que tem guiado o futebol por uma linha condutora que o distingue do ponto de vista desportivo e pessoal, de uma forma que é de saudar”.

Apesar da notória qualidade do técnico português, e da forma como catapultou o Sporting CP para outros patamares, António José Duarte considera que os sócios e adeptos não devem temer um planeamento desportivo pré-Amorim caso o treinador saia: “Há um Sporting em 2018 e outro em 2024, do ponto de vista de estabilidade financeira. Repare-se: o Sporting não foi à Liga dos Campeões este ano e ninguém ouviu nenhuma pressão em janeiro de que o clube tinha que vender jogadores. E não estou com isto a dizer que o Sporting se pode dar ao luxo de estar muitos anos sem ir à Liga dos Campeões, já que é essencial para o equilíbrio financeiro para uma equipa em Portugal, mas o Sporting tem hoje uma estrutura financeira que lhe permite avançar, como o fez no mercado de verão, para uma contratação de 20 milhões de euros proveniente de Inglaterra: Viktor Gyorkeres”.

Para este economista, “uma organização não pode depender de uma só pessoa: se é verdade que indissociável o sucesso do Sporting à capacidade de organização de Ruben Amorim, o clube tem um largo passado por onde passaram grandes figuras. Os clubes regeneram-se. Não pode haver uma dependência do Sporting em relação a Amorim, o que há sim é um enorme reconhecimento. Não tenho dúvidas de que Ruben Amorim terá um lugar na história do Sporting. Vão surgir novos valores e serão criados novos ciclos”.

Fora das “Big5”, “leões” foram quem mais valorizou

O Sporting CP foi a equipa que mais valorizou fora das cinco maiores ligas europeias, as “Big5”, de acordo com os números do site “Transfermarkt” relativamente ao crescimento do valor de mercado das equipas europeias desde o início da temporada. O líder da Liga portuguesa posiciona-se no nono lugar a nível europeu, sendo apenas suplantado por equipas alemãs, italianas, inglesas e um clube espanhol.

Sporting CP: Líder da Liga já valorizou 100 milhões de euros esta temporada

Entre as quatro equipas mais valiosas da Liga, os “leões” foram a equipa que mais viu crescer o seu valor de mercado desde o início da época, de acordo com os números do site “Transfermarkt”, que serve de termómetro para a avaliação dos passes dos futebolistas.

A equipa liderada por Rúben Amorim, que partiu para esta temporada como o “grande” menos valioso, registou um crescimento no valor de mercado de praticamente 100 milhões de euros, de 229,9 milhões para 329,3 milhões de euros, uma apreciação de 43,2%.

Com essa valorização, o Sporting (que arrancou a época 127 milhões de euros abaixo da avaliação do SL Benfica e 70 milhões atrás da avaliação do FC Porto), conseguiu suplantar os “dragões” em quase 50 milhões de euros e ficou a apenas 30 milhões de euros de igualar a valorização do plantel das “águias”.

Se em Portugal os “verde-e-brancos” foram os autênticos “campeões” da valorização, na Europa, o líder da Liga posicionou-se como o nono plantel que mais cresceu no valor de mercado, só suplantado por clubes da La Liga, Bundesliga, Serie A e, claro, a Premier League. Nenhum clube da Ligue 1 conseguiu entrar neste campeonato da valorização.
Entre os nove que mais cresceram no valor de mercado, o Sporting CP foi o quarto emblema que menos dinheiro investiu no plantel para chegar a este resultado. A SAD de Alvalade gastou 59,9 milhões de euros para atingir um crescimento na valorização de 99,4 milhões de euros. Só Girona, Estugarda e Bolonha investiram menos que o líder português.
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