Presidente da Nos: Altice Portugal tenta vender “serviços adicionais” a clientes afetados pelos fogos

  • ECO
  • 24 Março 2018

O líder da Nos disse que a Meo está a tentar vender mais serviços aos clientes que ficaram sem comunicações nos incêndios. Acusa Fibroglobal de "fraude" e diz que Governo e Anacom pactuam com ela.

O presidente executivo da Nos disse que a Altice Portugal está a propor aos clientes que viram as linhas de cobre arderem nos incêndios, e que ficaram sem comunicações, que migrem para uma rede de fibra ótica “com serviços adicionais”. Miguel Almeida acusou ainda a Fibroglobal de “fraude”, por ter sido “paga com dinheiros públicos” e estar “a ser usada de forma privada”.

Em entrevista ao Expresso (acesso pago), o gestor da Nos afirmou que existem clientes afetados pelos fogos que ainda não viram as comunicações serem repostas porque “grande parte” desses locais “é servida pela rede da Fibroglobal”. Para Miguel Almeida, o facto de esta rede, construída com recursos públicos, só ter como cliente a operadora Meo, “constitui uma fraude”. Este é um dossiê polémico no setor, na medida em que existem suspeitas de que a Fibroglobal seja detida por uma empresa alegadamente ligada à Altice, que pratica preços grossistas que os restantes operadores não querem suportar.

“São essencialmente clientes que estavam assentes na rede de cobre do incumbente [Altice Portugal]. O que o incumbente faz é propor-lhes a migração para serviços de fibra, com serviços adicionais”, indicou Miguel Almeida, apontando o dedo à Meo. “Não é já só voz fixa, tentam também vender televisão. Podem dar-se ao luxo de o fazer porque não há concorrência”, garantiu. A Altice Portugal tem vindo, efetivamente, a substituir linhas de cobre por uma rede de fibra ótica, como tem vindo a dizer o presidente executivo da dona da Meo, Alexandre Fonseca.

Desta feita, Miguel Almeida atirou: na Altice Portugal “usam uma rede que foi paga por dinheiros públicos [cerca de 30 milhões de euros de fundos europeus] em seu benefício próprio, o que é uma fraude com a qual sucessivos governos, não apenas o atual, e sucessivas administrações da Anacom, não apenas a atual, têm pactuado com o seu silêncio e a sua inação”.

Compra da TVI: “Quero acreditar que a operação não vai acontecer”

O líder da segunda maior operadora em termos de quota de mercado falou também do negócio da compra da Media Capital, dona da TVI, pela Altice Portugal. Questionado sobre se a empresa esmoreceu relativamente à operação, o gestor descartou essa hipótese: “Não esmorecemos coisíssima nenhuma”.

Ao Expresso, Miguel Almeida voltou a criticar a falta de deliberação por parte da ERC, que só tinha três dos cinco elementos e precisava de unanimidade para chumbar a operação, o que não aconteceu. “Quero acreditar que a operação não vai acontecer porque é muito negativa para os consumidores, para os cidadãos e, no limite, para a democracia”, garantiu.

Sobre se a Nos vai avançar para uma integração vertical semelhante com o setor dos media, o presidente executivo da Nos disse: “Não quero acreditar nisso porque acho que a operação vai ser alvo de oposição ou de remédios por parte da Autoridade da Concorrência”. E sublinhou: “Não é desejável a detenção de capital dos canais abertos, como a SIC ou a TVI, pelos operadores pela simples razão que a televisão tem um papel fundamental na informação do público. Não devem estar sujeitos a interesses económicos, nomeadamente de um operador de telecomunicações”.

Retorno dado aos acionistas “não nos deixa satisfeitos”

A Nos apresentou em meados deste mês uma subida de 37% nos lucros em relação ao ano passado, num montante superior a 124 milhões de euros. A empresa decidiu aumentar o dividendo em 50%, para 30 cêntimos por ação. Ou seja, a empresa decidiu dar aos acionistas 25% mais do que o lucrou no exercício do ano.

Sobre este facto, Miguel Almeida disse: “O retorno que estamos a dar aos capitais empregues não nos deixa satisfeitos, ainda é bastante limitado, devia ser mais elevado”. E confirmou que os acionistas querem mais: “O que nos é exigido é que seja superior. É mais compatível com um investimento sem risco do que com um investimento numa empresa”.

De recordar que o BPI, que era acionista qualificado da Nos na altura da apresentação de resultados, afirmou, acerca dos dividendos da operadora: “Apesar de ter superado o consenso, acreditamos que poderá haver algum descontentamento no mercado com o dividendo proposto”. Entretanto, o BPI deixou de ser acionista qualificado da Nos.

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