Luanda é principal mercado externo da construção portuguesa com 1.415 milhões de euros de faturação

  • Lusa
  • 18 Novembro 2018

Angola continuou a ser o principal mercado externo do setor português da construção, responsável por 28% da faturação no estrangeiro no ano passado, o equivalente a 1.415 milhões de euros.

Angola continuou a ser o principal mercado externo do setor português da construção, responsável por 28% da faturação no estrangeiro no ano passado, o equivalente a 1.415 milhões de euros, segundo dados da AICCOPN.

De acordo com mais recentes dados da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), estes 28% representam um aumento de 22% face a 2016. No ano passado, Angola foi também o país com valor mais elevado de novos contratos assinados pelas construtoras nacionais: 1.574 milhões de euros, equivalentes a 29% do total e a uma subida de 12% face ao ano anterior. No total, o volume de negócios da construção e imobiliário nacionais nos mercados externos ascendeu a 10,8 mil milhões de euros (contra 10,01 milhões de euros em 2016), o que representa 15,9% das exportações portuguesas nesse ano.

E se, na sua atividade internacional, as construtoras portuguesas estão distribuídas por cerca de 40 países, o continente africano é a zona geográfica onde têm maior presença, sendo aliás Portugal o quarto país europeu com maior faturação no mercado africano da construção, cifrado em 2,4 mil milhões de euros, depois da Turquia, França e Itália. Considerando apenas os novos contratos detidos, Portugal sobe mesmo ao segundo lugar do ranking de países europeus com maior volume de obras em carteira em África.

Contudo, são várias as construtoras portuguesas que reclamam dívidas ao Estado angolano, entre as quais a Mota-Engil, a Teixeira Duarte e a Soares da Costa, esta última atualmente em Processo Especial de Revitalização (PER) e sem capacidade para pagar aos trabalhadores porque, segundo a administração, não consegue transferir para Portugal 15 milhões de euros que tem retidos em bancos angolanos.

Segundo adiantou à Lusa fonte oficial da Soares da Costa, a dívida de Angola à empresa “é superior a uma centena de milhões de euros” e teve “um enorme impacto” na saúde financeira da construtora, cuja deterioração acabou por conduzir à atual situação. Apesar de praticamente não ter obras em Portugal, a Soares da Costa diz que a atividade “tem corrido bem” em Angola, mercado que representa hoje “cerca de 60%” da sua faturação, correspondendo Moçambique aos restantes 40%.

Já a Mota-Engil fala em “bons e maus momentos” vividos em Angola, onde está presente há 70 anos e tem centenas de quadros portugueses a trabalhar. Em setembro, em declarações à Lusa durante a visita de trabalho de António Costa a Angola, o conselheiro da construtora, Jorge Coelho, afirmou que a Mota-Engil soube “ajustar-se” à crise angolana e hoje “está bem” e com uma “visão muito positiva do país e daquilo que vai ser no futuro”.

Na quinta-feira, António Costa considerou que a visita de João Lourenço, entre 22 e 24 de novembro, é “um momento alto” nas relações luso-angolanas e adiantou que espera concretizar o processo de certificação das dívidas a empresas portuguesas.

Setor português da construção olha para Luanda como “prioridade” e com “confiança”

O setor da construção garante que Angola se mantém “uma prioridade” e aguarda com a “maior expectativa dos últimos anos” a “normalização” das relações bilaterais e a liquidação da dívida de “centenas de milhões de euros” às empresas portuguesas. “Nestes últimos anos nunca tivemos uma situação de maior expectativa do que a que temos hoje”, afirmou o presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) em declarações à agência Lusa a propósito da visita a Portugal do Presidente de Angola, João Lourenço.

Na opinião de Manuel Reis Campos, a visita do primeiro-ministro português a Angola, em setembro passado, foi “um passo significativo para a estabilização do diálogo” entre os dois países e teve “bons resultados”, nomeadamente a “disponibilidade” manifestada pelo Governo angolano para, após certificação, liquidar as dívidas às empresas portuguesas.

A vinda de João Lourenço a Portugal é encarada como mais um “sinal extremamente positivo para as empresas e para os empresários” portugueses da construção, que, garante Reis Campos, “querem continuar a pertencer ao futuro de Angola”. “A esmagadora maioria dos empresários portugueses continua a manifestar confiança no mercado angolano”, sustenta o dirigente empresarial, destacando que as “ligações históricas” entre os dois países “perspetivam Angola como uma prioridade” e apontando as “expectativas positivas de regresso a um crescimento significativo” do setor da construção naquele país africano.

De acordo com o presidente da AICCOPN, além da questão central das dívidas às empresas portuguesas — que Reis Campos acredita serem na ordem de “algumas centenas de milhões de euros” –, o setor gostaria de ver em cima da mesa na visita da próxima semana de João Lourenço o tema da formação profissional e do intercâmbio de trabalhadores da construção, num contexto de manifesta falta de mão-de-obra em Portugal.

“Com a saída, devido à crise, de 260 mil trabalhadores nos últimos seis/sete anos temos falta de mão-de-obra e em Angola há recursos naturais disponíveis e necessidades de capacidade de fabrico local para reduzir a dependência das importações e de formação básica profissional e superior”, referiu.

Dispondo Portugal de dois centros de formação profissional “de excelência”, mas atualmente “mal aproveitados”, no setor da construção, a AICCOPN considera “importantíssima” a assinatura de um protocolo de cooperação com Angola para “criação de sistemas de equivalências e formatação de conteúdos” e de um “mecanismo de mobilidade transnacional de trabalhadores locais” que permita colmatar a falta de mão-de-obra em Portugal.

“Num momento em que a mão-de-obra é o principal problema das empresas, que está até a levar a que alguns concursos fiquem desertos porque as empresas nem lá vão por aqueles preços, deveria ser privilegiada a formação de trabalhadores angolanos, dando essa possibilidade aos nossos centros que são de excelência. Era bom para Angola, Portugal e para o setor”, sustenta Reis Campos.

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