"A nossa postura está mais que clarificada. Somos a favor do desenvolvimento do Greater Sunrise mas somos a favor de um desenvolvimento sustentável que beneficie o povo e que não venha a prejudicar o povo", afirmou Mari Alkatiri em declarações à Lusa.

O líder da Fretilin, que tem a maior bancada no Parlamento Nacional de Timor-Leste, acusou Xanana Gusmão - líder da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), a coligação do Governo -, de querer "manipular a opinião pública" sobre este assunto.

Na terça-feira, no parlamento, o negociador principal de Timor-Leste para o Mar de Timor, Xanana Gusmão, considerou como de "interesse do Estado" a compra da participação maioritária no consórcio do Greater Sunrise, desafiando a oposição a clarificar a sua posição.

"Digo aos senhores da oposição: fazem perguntas, dizem que apoiam, mas e depois? Se não apoiam, digam claro. Sejam claros para todos nós sabermos", afirmou.

Alkatiri insistiu que a posição do partido tem sido a mesma e disse que Xanana Gusmão -- atualmente representante do Governo para os assuntos do Mar de Timor -- não tem clarificado todas as dúvidas sobre o projeto, em particular a compra de uma participação maioritária no consórcio do Greater Sunrise.

O líder da Fretilin considera que Xanana Gusmão usou uma conferência pública em dezembro e uma sessão plenária do parlamento, na terça-feira, "para fazer campanha", com explicações "vazias de racionalidade, de conteúdo e praticamente propaganda".

"Não respondeu às dúvidas. Contornou o assunto e quando viu que não podia contornar mais, reagiu de forma infantil ao abandonar o parlamento", disse, referindo-se à saída de Xanana Gusmão na reta final do debate.

"Temos assistido a uma declaração de fé, a atos de fé, da parte de Xanana. Isentos de racionalidade. Isentos de lógica, distantes da realidade", afirmou.

Alkatiri disse que continua a haver dúvidas sobre "exatamente o que se está a comprar" com o contrato de aquisição das participações da ConocoPhillips e da Shell no consórcio -- por 650 milhões de dólares -- e também sobre a viabilidade económica e financeira do projeto.

"Não está claro o que se vai adquirir. Fala em ações, mas do nosso ponto de vista trata-se de uma universalidade de direitos, por conseguinte de participações ou património", disse.

"E se são participações, então exatamente o que estamos a comprar?", questionou.

O secretário-geral da Fretilin questionou igualmente o facto de Xanana Gusmão e a sua equipa continuarem sem apresentar os estudos de viabilidade que dizem ter sobre o projeto.

"Quem é que já viu os estudos? Não basta só mostrar a capa e o livro quando está a falar. Eu sou líder do maior partido, ainda que na oposição, e não tive acesso a nenhum estudo", afirmou.

"O meu partido não teve acesso, nem quando fui primeiro-ministro [no VII Governo Constitucional]", lamentou.

Alkatiri disse que Xanana Gusmão (líder do CNRT, o maior partido da coligação do Governo) está a atuar "a pensar já em eleições e que as pode vencer".

Sobre a postura do atual primeiro-ministro, Taur Matan Ruak -- líder do PLP, segunda força da coligação do executivo -- Alkatiri disse o chefe do Governo está "num dilema".

"Não quero misturar Taur Matan Ruak aqui. O mandato [dado a Xanana Gusmão] foi do Conselho de Ministros e ele é primeiro-ministro, mas está numa situação difícil, penso eu. Sendo de um partido de oito deputados e a funcionar como primeiro-ministro", argumentou.

"Enquanto Presidente da República tinha uma posição e agora parece estar num dilema", afirmou.

Alkatiri rejeitou igualmente acusações de que tem estado a pressionar o Presidente da República para as decisões que tem tomado, incluindo para o veto em dezembro a alterações à lei de operações petrolíferas -- para facilitar a compra da participação no Greater Sunrise -- que foram hoje reaprovadas pelo parlamento.

"É absolutamente falso. Não têm outros argumentos. O Presidente da República é uma pessoa capaz, sabe o que faz e a prova disso é que enquanto foi primeiro-ministro, em nove meses vetou quatro decretos-leis meus", disse.

Sobre que recomendações deixa ao chefe de Estado -- que está a apreciar o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2019 -- Alkatiri disse que o Presidente decidirá "promulgar ou vetar", como considerar mais adequado, "em função da sua apreciação do OGE e da situação económica e política do país".

Questionado sobre se o país aguentará mais um ano sem orçamento ou com a atual tensão política, Alkatiri foi lacónico: "Aguentará tanto como aguentaria com o OGE porque o Governo demonstra incapacidade de executar o orçamento".

O líder da Fretilin disse estar disponível para dialogar sobre o tema.

"Estamos sempre abertos a isso. Mas não é diálogo entre surdos e mudos. Não somos nem surdos nem mudos. E muito menos acreditamos em divinizar o ser humano", considerou.

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