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Fidelidade recusa vender Luz Saúde “a desconto”

Fonte do grupo diz ao JE que havia interesse do mercado na operação, mas que a valorização não cumpria objetivos. Aumento de capital de até 100 milhões de euros também fica suspenso.
  • Cristina Bernardo
24 Abril 2024, 07h30

Prometia ser a maior Oferta Pública de Venda (OPV) da última década. Tal como foi revelado, o objetivo da Fidelidade passava por vender entre 30% a 45% do capital da Luz Saúde, levando a companhia  a atingir um valor de mercado acima de mil milhões de euros.

Mas o diabo está nos detalhes e a Fidelidade anunciou esta terça-feira, 23 de abril, que suspendeu o plano de colocação em bolsa da Luz Saúde, devido à instabilidade recente nos mercados de capitais, agravada pelas tensões no Médio Oriente.

Fonte ligada ao grupo revelou ao Jornal Económico (JE) que “havia muita procura e interesse [nas ações da Luz Saúde]”, mas a valorização não era a desejada. “As indicações de preço não iam ao encontro das nossas expectativas”, acrescenta.

A Luz Saúde, dona do Hospital da Luz, é vista como “uma empresa excelente e com muitas perspectivas de crescimento e por isso não aceitamos vender a desconto nem estamos pressionados nem necessitados para o fazer”, refere a mesma fonte.

“Vamos avaliar serenamente e analisar opções e, eventualmente, retomar o processo se as condições de mercado se alterarem”, acrescenta, lembrando que os últimos IPO na Europa foram feitos a desconto porque o mercado se retraiu e citou o exemplo do IPO da espanhola Puig.

A Puig, dona das marcas Paco Rabanne e Charlotte Tilbury, deu, na semana passada, início ao seu IPO de 2,6 mil milhões de euros. As ações de Classe B da empresa espanhola estão a ser oferecidas um preço entre 22 euros e 24,5 euros cada, o que avalia a Puig entre 12,7 e 13,9 mil milhões de euros.

Em comunicado, a Fidelidade chegou a dizer que, a concretizar-se, o IPO da Luz Saúde criaria “melhores condições para a continuada expansão e crescimento da empresa no sector da saúde, onde já é reconhecida como um dos principais ecossistemas de serviços de saúde privados em Portugal e destacada pela qualidade e inovação da sua abordagem”.

Em paralelo com a prevista OPV, a Luz Saúde previa realizar um aumento de capital de, aproximadamente, 100 milhões de euros, através da emissão de novas ações destinadas a investidores institucionais, tanto nacionais como internacionais. Esse aumento de capital seria utilizado para apoiar o crescimento de longo prazo da Luz Saúde, “mantendo, assim, uma estrutura de capital mais robusta”, segundo anunciou a Fidelidade.

A Luz Saúde anunciou formalmente esse aumento de capital de até 100 milhões de euros através da colocação privada de novas ações junto de investidores institucionais, tanto em Portugal como no estrangeiro, e aprovou, em assembleia geral, a emissão de até 23,88 milhões de títulos, o correspondente a 20% do novo capital.

Agora esse aumento de capital fica suspenso, apurou o JE. Segundo as nossas fontes a Luz Saúde não ia fazer um aumento de capital por precisar de financiamento até porque a sua acionista maioritária é a Fidelidade, que não tem falta de liquidez.

O aumento de capital na Luz Saúde servia para aumentar liquidez da empresa e reduzir o nível de financiamento ou até para investir no futuro. Sem IPO, não há aumento de capital.

A Luz Saúde, na sequência de decisão do seu acionista maioritário Fidelidade, anunciou  a  intenção de pedir a admissão à negociação das ações representativas do seu capital social na bolsa de valores Euronext Lisboa, no quadro da realização da projetada OPV. Estava previsto que as ações fossem para a bolsa a 3 de Maio.

Rogério Campos Henriques, CEO da Fidelidade, chegou mesmo a defender que a operação seria “um elemento-chave na estratégia do Grupo Fidelidade e da Luz Saúde” e que representaria “mais um passo no plano de otimização de capital da Fidelidade”.

Resta saber se em 2025 a Fidelidade também vai conseguir fazer o seu próprio IPO. A Fidelidade confirmou, no Relatório e Contas de 2023, que está a preparar a entrada em bolsa no próximo ano e adianta já ter iniciado “os trabalhos necessários” para fazer a dispersão do capital na bolsa. Uma notícia avançada em primeira mão pelo Jornal Económico.

 

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