Como os locais: Hong Kong como destino

Dois portugueses a viver em Hong Kong destacam a proximidade entre a cidade e a natureza como um dos pontos altos da vida na região asiática chinesa.

Para João Seabra, Hong Kong tem nome de filme: Blade Runner. “É um misto de viver constantemente no cenário do filme e saber que, a 15 minutos de distância tenho natureza equiparável à Tailândia. Entre mil coisas que podia descrever, este equilíbrio e proximidade entre dois mundos tão opostos é algo que não encontrei ainda em nenhum canto do mundo, não nesta escala”, conta por email, ao ECO. Chegado há quatro anos a Hong Kong, o empresário, empreendedor e professor universitário parece conhecer a cidade de cor. Sabe exatamente que brunchs recomendar e qual a melhor vista da cidade.

Depois de lançar a Jump Willy em Portugal, e após a experiência de abrir escritórios fora do país em locais como Londres e Los Angeles, a Ásia era vista como “o passo óbvio de expansão”. “Sem esforço comercial começámos a ter clientes muito interessantes na região, e parar para pensar em estar fisicamente na Ásia era obrigatório”. A Jump Willy estudou Shanghai, Hong Kong e Singapura e, como seria não só para a empresa como também considerando a qualidade de vida, Hong Kong ganhou “sem muitas dúvidas”.

“Hong Kong era uma cidade que já conhecia, que me fascinava, e onde me imaginava a ter uma vida com ótimo balanço entre uma cidade do mundo e tão cosmopolita mas com o acesso tão próximo a uma imensidão de natureza de qualidade, seja em praias como montanhas. Ao contrário dos escritórios anteriores, eu queria vir abrir este”, conta.

Como conhecia a Ásia já relativamente bem, sabia com que contar, e sabia que ia ser um desafio maior no trabalho do que na vida pessoal, pois Hong Kong é uma cidade muito ocidentalizada, quer na língua que se fala, quer na mentalidade.

João Seabra

A viver em Hong Kong há quatro anos

E se, ao nível do trabalho João ia preparado para estar exposto, não apenas a Hong Kong como à China e a toda a região asiática — com todas as tradições de modelos de relacionamento profissional –, ao nível pessoal queria explorar todos os recantos mais escondidos de Hong Kong. “Hong Kong é feita dos locais escondidos e queria aproveitar o melhor da natureza tão acessível”, confessa.

Com ajustes de pequenas coisas “bastante desafiantes” no trabalho — que João confessa terem demorado vários anos a tornar-se ‘hábitos’ –, o empresário português decidiu comprar uma mota para ganhar flexibilidade. “Apesar de a cidade ser considerada das mais eficientes do mundo no que toca a transportes públicos, isso [a mota] abriu-me acessos à natureza e a capacidade de facilmente explorar todo o mapa de forma muito rápida.”

"Quando chegámos não tínhamos casa ainda, e fiquei com a minha mulher num ótimo hotel com uma das melhores vistas que já tinha presenciado. (…) No fim do dia, e após ficar muito tempo a interiorizar a vista, saímos à rua para irmos jantar e o impacto e escala de uma cidade como Hong Kong, com quase oito milhões de pessoas e que nunca para, foi algo que me fez sonhar desde esse primeiro dia.”

João Seabra

A viver em Hong Kong há quatro anos

O processo para encontrar casa quase tão rápido com o de se sentir em casa. “Passados quatro dias de estar em Hong Kong já tínhamos casa, e pouco depois essa casa já era ‘casa’. Lembro-me de quatro meses depois termos feito uma viagem e, no regresso a Hong Kong, sentirmos que estávamos a chegar a casa”.

Sentimento exatamente oposto foi o de Inês Ferreira. Há dois anos em Hong Kong, a engenheira civil sempre quis trabalhar no estrangeiro e, depois de nove meses a trabalhar em Portugal recebeu uma proposta de emprego através de um professora da faculdade e foi selecionada. Só que, ao chegar ao outro lado do mundo, sentiu-se… perdida.

A cidade é enorme, a arquitetura completamente diferente da europeia. Nos primeiros dias dava dois passos e estava perdida: o GPS não funciona muito bem no meio da cidade. O mais me marcou foi a dimensão das casas. Um quarto com cinco metros quadrados pode custar 700 ou 800 euros/mês (numa casa igualmente pequena, a dividir por três pessoas). Nestes casos, os lavatórios da casa de banho são dentro da banheira e a sala também é cozinha. Onde pode aproveitar-se o espaço, aproveita-se”.

A sensação foi desaparecendo ao longo do tempo e, em oito ou nove meses, Inês deixou de se perder na cidade. “Sabia que o projeto onde ia ser integrada tinha uma grande dimensão, o que seria muito bom para o meu currículo e para crescer como engenheira. Do ponto de vista pessoal, pensei que seria bom conhecer uma cultura completamente diferente, não só pela distância a Portugal mas por ir viver para uma metrópole”. A cidade, por isso, superou todas as expectativas. Mas nunca a fez — até agora, sentir-se em casa.

“As pessoas fazem o lugar e, aqui, as pessoas da minha idade vão e vem muito facilmente pelo que é difícil formar um grupo de amigos estável. Contudo, mesmo sendo por pouco tempo, tive sempre sorte com quem encontrei pelo caminho. Fiz amigos alemães, franceses, italianos, portugueses, ingleses, americanos, chineses, brasileiros, canadianos, suíços… de todo lado.

"A forma como as pessoas vivem e pensam em geral é diferente: dão muito valor a experiência e à idade, ao conceito de família, acreditam muito na sorte e valorizam a fortuna. Para além disso, tive oportunidade de experimentar comida local que nunca tinha experimentado antes: dumplings, dim sum, comida asiática como vietnamita, japonesa, filipina ou tailandesa. Quando tenho saudades da nossa comida, vou a Macau.

Inês Ferreira

A viver em Hong Kong há dois anos

Para além das pessoas com quem se cruza diariamente, Inês destaca ainda a facilidade com que viaja para as redondezas: Tóquio, Pequim, Seul, Filipinas e Tailândia foram alguns dos destinos visitados, facto que deu uma ajuda na hora de “apreciar mais a minha estadia em Hong Kong”.

 

 

Sítios a não perder

  • Um brunch no Soho no Brunch Club, e passar a manhã a passear pelo Soho, Hollywood Road, e Central entre galerias de artes, antiquários, templos, mercados de rua, e sentir os mil cheios e mil cores da zona.
  • Almoço no Bêp em Stauton Road, o meu restaurante Vietnamita preferido.
  • Passeio à tarde por Central e Admiralty, e admirar o movimento louco de bancários e investidores, e ver porque é que Hong Kong é a cidade com mais arranha-céus do mundo.
  • Passar para o lado de Kowloon, usando o histórico Star Ferry, e passear por TST, acabando ao final do dia na Avenue of Stars a ver a vista do inesquecível skyline da Ilha de Hong Kong.
  • Voltar para a Ilha de Hong Kong e ir jantar ao ABC dentro do mercado de Sheng Wan.
  • Acabar a noite a ver a vista incrível do bar-terraço do Woolloomooloo, no topo de um arranha-céus, só para nos apercebermos que à nossa volta há arranha céus ainda mais altos e sentirmo-nos pequenos.
  • Provar uma das melhores pizzas de Hong Kong no 3/3rds, no topo dum edifício antigo industrial em Wong Chuk Hang.
  • Fazer o Dragon Back hike durante duas horas, uma das melhores caminhadas na ilha, e que acaba por ligar diretamente à praia, mesmo a tempo de um banho.
  • Subir ao Peak para, com uma boa garrafa de vinho na mão, apreciar uma das melhores vista de cidade do mundo.
    Para um jantar diferente, tão diferente que não é possível explicar, ir ao Mercado de Java Road jantar.
  • Beber um copo em Lan Kwai Fong no Brickhouse, um bar com grande ambiente, escondido numa viela tão escura, que é preciso ter fé antes de entrar, e lembrarmo-nos que Hong Kong é das cidade com menos crime do mundo.

 

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