A comparação, que revela uma "tendência preocupante" de consumo de óleo de palma para combustíveis, é feita num estudo hoje divulgado pela Federação Europeia de Transportes e Ambiente (T&E, na sigla original), no qual se conclui que o grande problema do óleo de palma não está na alimentação, mas sim na produção de biocombustíveis.

A T&E junta organizações não governamentais europeias da área dos transportes e do ambiente e promove o transporte sustentável na Europa. No estudo, divulgado em Portugal pela associação ambientalista Zero, que faz parte da federação, indica-se que a quantidade de óleo de palma utilizado na produção de biodiesel na União Europeia (UE) em 2019 sofreu um aumento de 7%, atingindo um máximo histórico de 4,5 milhões de toneladas.

"Em contraste, a utilização de óleo de palma para a produção de produtos do dia-a-dia como o pão, gelado, pasta de avelã, chocolate, margarina, champô e detergente caiu para um mínimo histórico de 2,8 milhões de toneladas anuais", diz-se num comunicado divulgado pela Zero a propósito do estudo.

A situação, segundo o documento, deve-se à política europeia de biocombustíveis decretada em 2009, que obriga as empresas petrolíferas a incorporar nos combustíveis fósseis uma percentagem de biocombustíveis, muitos deles produzidos a partir de óleos alimentares, "para supostamente tornar os automóveis mais ecológicos".

Os ecologistas consideram a tendência preocupante e dizem que não é observada apenas com o óleo de palma, mas em outros. E explicam: Nos últimos 10 anos, a utilização de colza, girassol, soja e óleo de palma para a produção de alimentos estagnou nos cerca de 12 milhões de toneladas por ano. Mas a sua utilização em biodiesel aumentou 46%, passando de oito milhões de toneladas em 2009 para 11,7 milhões de toneladas em 2019.

Citando dados da UE, no estudo salienta-se ainda que entre 2008 e 2016, 45% da expansão da produção de óleo de palma fez-se à custa de terrenos que em 1989 eram florestas.

"É por isso que o biodiesel a partir de óleo de palma é três vezes pior para o clima do que o gasóleo normal. Em média, o biodiesel à base de culturas alimentares para consumo humano e animal emite pelo menos 80% mais gases com efeito de estufa do que o gasóleo fóssil", alerta-se no comunicado.

Em termos Europeus, Espanha, Holanda e Itália em conjunto, representaram em 2019 cerca de 81,5% da produção de biodiesel a partir de óleo de palma.

Em Portugal o consumo de óleo de palma aumentou nos últimos dois anos. A Zero usa dados do Laboratório Nacional de Energia e Geologia para dizer que no ano passado se usaram no país mais de 40,7 milhões de litros, 11,8% mais do que em 2018.

A maior parte desse óleo é utilizado na refinaria de Sines para produzir biodiesel, que é depois incorporado no gasóleo rodoviário.

A Zero lembra ainda que em maio do ano passado foi publicado um regulamento europeu no qual a Comissão Europeia classifica o óleo de palma como insustentável, devendo ser eliminado até 2030, começando o processo de eliminação em 2023.

E alerta que até junho de 2021 Portugal deve transpor uma diretiva sobre fontes renováveis, pelo que o Governo tem de ser "transparente no processo de discussão".

a associação ambientalista salienta a necessidade de promoção da utilização de óleos alimentares usados, que também podem ser incorporados nos combustíveis.

FP // JMR

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