Os resultados desta oferta particular e de admissão à cotação na Bolsa de Valores de Cabo Verde de 230.000 ações obrigações subordinadas de valor nominal unitário de 1.000 escudos (8,9 euros), representativas do empréstimo obrigacionista do iiBCV, foram divulgados hoje e a operação visou especificamente o reforço dos fundos próprios complementares do banco.

"A necessidade de criar o instrumento resultou da própria vontade dos investidores. Ou seja, a praça em si olhou para o governo e performance do banco nos últimos dois, três anos, e considera que isto é uma história com futuro. Sendo uma história com futuro, o investidor quer participar desta performance", explicou à Lusa o presidente da comissão executiva do iiB, Francisco Ferreira.

De acordo com a informação prestada na sessão realizada na sede da Bolsa de Valores de Cabo Verde, na Praia, trata-se da primeira operação em formato híbrido, prevendo uma maturidade a 10 anos e a particularidade de uma taxa de juro que pode ser incrementada em função do desempenho do banco, tendo sido subscrito por uma única entidade.

"Podendo não estar reunidas as condições para operações semelhantes, como abertura de capital ou outras, existia a necessidade de então criar um instrumento que possibilitasse uma conjugação de interesses em torno do que é a performance da instituição, uma das formas de o fazer é esta. Porque se olharmos para a emissão em si ela apresenta uma remuneração relativamente bem ajustada para o prazo, oferece prémios de remuneração ao investidor com base na performance da instituição e, porque não, reforçar rácios de capital", acrescentou.

De acordo com o presidente da comissão executiva do banco, o iiB apresentava no final de 2021 um rácio de solvência de 31% e está "muito acima" dos padrões nacionais e internacionais "em termos de disponibilidade de capital para assumir risco".

"Ainda assim, porque não efetivamente reforçá-los um pouco mais, se a própria natureza do instrumento, que se adequava à vontade dos investidores, o permitia? Necessidade absoluta de capital nós não temos, a informação financeira auditada efetivamente reflete a solidez que o banco tem em termos de duas coisas: quer o nível em termos absolutos de solvência que o banco é capaz de apresentar neste momento, quer os níveis de afetação de capital disponível face ao risco que o balanço efetivamente tem tomado", sublinhou Francisco Ferreira, questionado pela Lusa.

Os lucros do iiBCV, banco liderado pelo grupo iiB do Bahrain e participado em 10% pelo Novo Banco português, aumentaram 77% em 2021, para três milhões de euros, o melhor resultado da história da instituição.

A informação, divulgada anteriormente pela Lusa, consta do relatório e contas de 2021 do iiBCV, que prevê a aplicação deste resultado apenas em reservas legais (10%) e outras reservas (90%), sem distribuir dividendos, tal como já tinha acontecido em 2019 e 2020 para precaver repercussões económicas da pandemia de covid-19.

"Continuamos a não distribuir dividendos. Até à data existe um compromisso do acionista de continuar a fazer crescer os fundos próprios disponíveis do banco. E isto tem uma razão de ser. O acionista, quando efetivamente está comprometido com o projeto e com a instituição, precisa de perceber que tem de alocar capital à operação com o intuito que a operação tenha a capacidade de se desenvolver. Porque quanto maior forem os fundos próprios, maior é a nossa capacidade de gerar negócios de maior dimensão", explicou o presidente da comissão executiva.

"E, portanto, há uma correlação sobre o que é o natural desenvolvimento da instituição e, efetivamente, o crescimento do seu capital", acrescentou Francisco Ferreira.

O iiBCV fechou 2021 com um resultado líquido superior a 337,1 milhões de escudos (três milhões de euros). Este desempenho compara com os lucros de 190,3 milhões de escudos (1,7 milhões de euros) em 2020, de 147,2 milhões de escudos (1,3 milhões de euros) em 2019 e os prejuízos de 270,8 milhões de escudos (-2,4 milhões de euros) em 2018 e de 55,9 milhões de escudos (-503 mil euros) em 2017.

O banco fechou 2021 com capitais próprios positivos em 1.789 milhões de escudos (16,1 milhões de euros) e um ativo total superior a 30 mil milhões de escudos (270,5 milhões de euros), para um passivo de 28,2 mil milhões de escudos (254,4 milhões de euros), praticamente metade correspondente a depósitos de clientes.

O iiBCV, até 2019 designado por Banco Internacional de Cabo Verde (BICV) e antes Banco Espírito Santo Cabo Verde, iniciou a atividade em julho de 2010 e até meados de 2018 foi integralmente detido pelo Novo Banco de Portugal.

Em 11 de julho de 2018, após aprovação das entidades de supervisão, 90% das ações representativas do capital social foram adquiridas pelo iiB Group Holdings WLL (iiBGroup), com sede no reino de Bahrain, que tem como objetivo adquirir e administrar ativos bancários no Oriente Médio e em África.

A mudança de marca de BICV para iiBCV só foi concluída em meados de 2019, com o Novo Banco (através do Novo Banco África) a manter-se como parte da estrutura acionista, com uma participação minoritária de 10%.

Com um capital social de 1.433 milhões de escudos (13 milhões de euros), o iiBCV tem atualmente presença física nas ilhas de Santiago e do Sal e conta com cerca de 40 trabalhadores.

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