Barómetro. Inteligência Artificial: entre criação e destruição de emprego, há um empate. Será?

Afinal, parece que o turnover e o absentismo nas empresas em Portugal já não é preocupante. A inteligência artificial está a ser mais utilizada em tarefas antes feitas por humanos, mas entre criação e destruição de emprego há um empate. E a maioria das pessoas conseguirá corresponder à necessidade de novas competências. Nesta 52.ª edição do Barómetro Human Resources a tónica é, portanto, inequivocamente optimista.

 

Por Ana Leonor Martins

 

Na 52.ª edição do Barómetro Human Resources, diversificaram-se os temas em destaque, começando pelos níveis de absentismo e turnover nas empresas. São preocupantes? Outro tema incontornável da actualidade das organizações é o da inteligência artificial e do seu impacto no trabalho e nos resultados (ver também os artigos das páginas 94 e 98), tema impossível de dissociar do das qualificações. Voltamos também ao tema da escassez de talento, que persiste – apesar de os indicadores revelarem um abrandamento das contratações nas empresas –, desta feita para tentar perceber por onde passam as soluções. Será a aposta na imigração uma delas? Qual a importância que pode assumir no mercado de trabalho português? E uma maior aposta no outsourcing, poderia também diminuir a necessidade das empresas de contratar em determinadas áreas? É um recurso que as empresas utilizam?

Estes foram os temas que propusemos para reflexão ao painel do Barómetro Human Resources neste mês de Abril. Apresentamos de seguida os resultados.

 

Absentismo e turnover “aceitáveis”
O tema surge em várias conversas e fóruns, por isso, a Human Resources procurou concretizar em números o absentismo e o turnover nas empresas que compõem o painel do nosso Barómetro e, afinal, não tem relevância de forma a torná-lo um tema preocupante. Quando se pediu para “classificar o nível absentismo na sua empresa”, só 11% reconheceram ser preocupante. Percentagem igual – 34% – considerou que é “aceitável” e “nada preocupante”, com 19% a classificarem como “pouco preocupante”, e 2% afirmam mesmo que não existe. Ou seja, a esmagadora maioria (87%) garante que não é tema que preocupe.

Sobre “a principal causa de absentismo na sua empresa”, para os especialistas destaca-se a “doença (física) não relacionada com trabalho”, com 44% das respostas, seguindo (mas a uma distância de 27 pontos percentuais – p.p.) o “apoio à família” – 17%. Curioso é que, em terceiro, com os mesmos 9% de quem refere “outros motivos pessoais” e “parentalidade”, surge a resposta “não sabe/ não responde”. Lembrando que o que foi pedido foi que identificassem a principal causa (não significando portanto que as outras não existam), ninguém indica “doença (física) profissional” nem “acidentes de trabalho” – o que serão boas notícias em termos de Saúde e Segurança no Trabalho.

Também de realçar – até porque, no primeiro Barómetro deste ano, de Fevereiro passado, 55% dos inquiridos admitiram que, na sua empresa, as situações relacionadas com os problemas/transtorno de saúde mental estão a aumentar (ainda que a maioria tenha ressalvado que é “moderadamente”) – que apenas 8% apontem o “burnout, stress profissional, esgotamento” como principal causa para o absentismo. E ninguém refere problemas de saúde mental não directamente relacionados com trabalho. De referir ainda que, para 4%, na maioria das vezes, o motivo para o absentismo não é justificado.

Em relação ao turnover, mantém-se a mesma tendência: a maioria (43%) afirma que o nível de turnover é “aceitável”, com 32% a garantirem que é “pouco preocupante” e 15% “nada preocupante”. Como na pergunta anterior, 2% dizem que “não existe”. Numa percentagem acumulada, significa que 92% dos inquiridos não estão preocupados com o tema na sua empresa, o que acaba por parecer contraditório com a tónica que mais commumente tem marcado os “discursos” na Gestão de Pessoas. A justificação poderá ser que, apesar de não ser em número significativo (ou preocupante), os que saem são importantes. Ou seja, a questão não estará na quantidade que sai, mas na qualidade de quem sai.

Comparando estes resultados com os do XLVII Barómetro Human Resources (de Junho de 2023), nota-se uma “melhoria”, visto que, no ano passado, 24% admitiram que o turnover “tem crescido significativamente, nos últimos três anos” e 39% concordaram que tem crescido, ainda que “não significativamente”.

Também nesta matéria quisemos saber qual a “principal causa de turnover” nas respectivas empresas (só podia ser escolhida uma) e, sem surpresa de maior, sobressai o “salário e benefícios”, com 37%. A uma distância de 13 p.p., como segunda causa mais mencionada, surge a “falta de perspectiva de carreira de desenvolvimento” (24%), seguida do “projecto/desafio” (21%). Todos os restantes motivos surgem com percentagem inferior a 7% – para apenas 6%, a principal causa é a “ausência de equilíbrio entre a vida profissional e pessoal”, 4% referem a “exigência da função, e só 2% consideram ser a “liderança da empresa”.

De salientar que nenhum dos especialistas acredita que o principal motivo para a saída de profissionais da sua empresa é o “ambiente de trabalho”, “falta de alinhamento com a cultura/ valores organizacionais”; “falta de planeamento/ visão estratégica da empresa”; ou “falta de organização, processos e procedimentos”.

 

Fique a conhecer todos os resultados do LII Barómetro Human Resources na edição de Abril (nº.160) da Human Resources, nas bancas (se preferir comprar online, tem disponível a versão em papel ou a versão digital).

E tem também o comentário dos especialistas:

– Carla Marques, CEO da Intelcia Portugal

– Nuno Ferreira Morgado, partner da PLMJ

– Susana Silva, directora de Pessoas do El Corte Inglés Portugal

– Isabel Borgas, directora de Pessoas e Organização da NOS

– Eduardo Caria, director de Pessoas & Organização do Grupo Ageas Portugal

– Paulo Barreto, director de Recursos Humanos do Crédito Agrícola

– Pedro Ribeiro, director-geral de Talento do Super Bock Group

– Catarina Paiva, administradora do Turismo de Portugal

– Joana Couto, directora de Recursos Humanos da Prio Energy

– Nuno Gonçalo Simões, director de Capital Humano da PwC

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