
A Livraria Lello, um dos espaços culturais mais reconhecidos de Portugal, dá agora um novo passo na sua história centenária com a criação da sua própria chancela editorial: Livraria Lello Curates. Mais do que uma nova linha de publicações, trata-se de uma proposta curatorial que procura revelar a essência dos lugares através da palavra, da imagem e da memória.
O primeiro livro é dedicado à cidade do Porto. No primeiro volume da coleção editorial Livraria Lello Curates, eterniza-se a alma da cidade através de uma curadoria de fotografia, ilustração e palavra. Cada capítulo é introduzido por uma expressão idiomática portuense que não se traduz — compreende-se: “Vergar a mola”, “Andar no laréu”, “Ir p’rá gandaia”.
Neste espírito e para assinalar esta novidade, foi lançada uma campanha urbana específica, apelidada de After Porto, com mais de 300 mupis espalhados pela cidade. “Cada mupi apresenta uma frase original, criada a partir daquilo que é único na cidade — a sua linguagem própria, os seus rituais, a sua forma de cuidar com frontalidade”, explicam os autores da campanha.
Entre as frases que se encontram nos mupis, que “surgem de um processo de escuta ativa à cidade e às suas pessoas”, estão “After Porto, o palavrão sabe a casa”; “After Porto, o granito já não é frio”; “After Porto, o nevoeiro já não assusta”; “After Porto, meia dose dá para quatro”.
A ideia da expressão “After Porto” é interpelar as pessoas para aquilo que muda depois de se conhecer a cidade do Porto. Porque, referem os editores, “há cidades que passam por nós — e outras que ficam”.
Um dos mupis mostra uma jovem a sorrir, enquanto é “acarinhada” pelos tradicionais martelos de São João. “A frase que a acompanha — ‘After Porto, o palavrão sabe a casa’ — revela bem esse traço identitário: no Porto, o que parece rude é, muitas vezes, expressão de carinho. Aqui, o afeto manifesta-se com frontalidade, com riso, com contacto. A Livraria Lello acredita que a cultura também se faz de códigos invisíveis. Nesta campanha, damos palco a esses gestos que nos definem — um martelo de São João, uma palavra dita com força, um nevoeiro que afinal abraça. O livro é só o começo”, diz Francisca Pedro Pinto, diretora da marca da Livraria Lello.
“Mais do que slogans, [estas frases] são fragmentos da alma portuense”.
“Mais do que slogans, [estas frases] são fragmentos da alma portuense. O palavrão é dito com afeto. O granito aquece por dentro. O nevoeiro revela intimidade. A meia dose chega, quando se serve com o coração. O Porto tem uma linguagem própria. Dura, mas terna. Bruta, mas generosa. Com esta campanha, quisemos traduzi-la em frases que vêm da rua e devolvê-las à cidade como quem devolve um gesto”, afirma Francisca Pedro Pinto.
Livraria Lello Curates Porto, volume inaugural
Embora o lançamento da nova chancela editorial tenha sido assinalado publicamente com uma campanha urbana, o verdadeiro centro do projeto está no livro. Nesse sentido, o volume inaugural da coleção — Livraria Lello Curates Porto — parte precisamente da cidade que tem sido o palco da história da livraria desde 1906, como um espaço de encontro entre visitantes e leitores de todo o mundo. Em sinal de retribuição à comunidade local, a Livraria Lello anunciou a adesão ao cartão municipal Porto. — passando a oferecer entrada prioritária a todos os munícipes aderentes.
“Acreditamos que a cultura também se faz de códigos invisíveis”, afirma Francisca Pedro Pinto, diretora da marca da Livraria Lello.
A obra “Livraria Lello Curates Porto”, construída a partir de uma seleção de textos, fotografias e ilustrações, apresenta-se como uma leitura sensorial e subjetiva do Porto, feita de afetos, camadas e silêncios. Não pretende descrever a cidade, mas antes evocar o que dela permanece em quem a vive — ou apenas a visita.
Depois do Porto, o objetivo da nova coleção é percorrer o país, cidade a cidade, lugar a lugar, com o mesmo cuidado curatorial — sempre através de livros que combinam arte, palavra e pertença. Cada edição será, assim, tanto um objeto literário como uma declaração de amor ao território retratado, naquele que é um projeto nasce do desejo de traduzir o “gesto íntimo” de um território numa linguagem editorial.