O estudo foi divulgado na publicação médica The New England Journal of Medicine e é assinado por investigadores da China, Singapura e Austrália, que recrutaram pessoas com suspeitas de doenças zoonóticas em hospitais chineses, entre abril de 2018 e agosto de 2021.

Os casos de infeção (26) e coinfeção (9) com LayV, vírus do género dos henipavírus, foram diagnosticados nas províncias chinesas de Shandong e Henan a partir de um primeiro paciente do qual foram recolhidas secreções da garganta para análise. Posteriormente, foram analisadas amostras de sangue.

As 26 pessoas infetadas apenas com o vírus LayV (e não com outros vírus em simultâneo) apresentavam como sintomas febre, fadiga, tosse, anorexia, dores de cabeça e musculares, náuseas ou vómitos, acompanhados, em alguns casos, por alterações na função dos rins e do fígado ou na produção de células sanguíneas. A maioria das pessoas eram agricultores e mulheres e tinham 45 ou mais anos.

O estudo sugere que o musaranho (pequeno roedor parecido com um rato) pode ser o reservatório natural do vírus e que a infeção nos humanos pode ser esporádica, uma vez que não houve contacto próximo ou histórico de exposição comum entre os doentes.

Os autores do trabalho consideram que a descoberta feita, a de um novo henipavírus com provável origem animal e ligado a estado febril nas pessoas, "merece uma investigação adicional para compreender melhor a doença humana associada".

O reduzido número de amostras estudadas não permitiu aos cientistas determinarem se há transmissão do LayV entre humanos.

O vírus LayV está mais relacionado, do ponto de vista filogenético, com o henipavírus Mojiang, que foi descoberto no sul da China.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde indicou hoje à Lusa que está em articulação com as autoridades de saúde internacionais, aguardando mais informação da Organização Mundial da Saúde sobre eventuais medidas a considerar.

Em declarações ao Expresso, o virologista Pedro Simas disse que uma pandemia causada pelo Langya henipavirus é à partida "muito pouco provável", dado o reduzido número de casos identificados em quatro anos.

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