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Rússia vai fazer exercícios nucleares junto da Ucrânia. O que está em causa?

A Rússia teve desde sempre um programa vasto de exercícios militares, que o ocidente considerava normal. Mas tudo mudou desde fevereiro de 2022, quando Moscovo ordenou a invasão da Ucrânia.
7 Maio 2024, 07h30

Qual é a razão apontada pela Rússia para os novos exercícios militares?

Sem surpresa, os exercícios militares surgem como uma resposta ao Ocidente depois de o presidente francês, Emmanuel Macron, ter indicado como possível o envio de tropas para a Ucrânia. Vladimir Putin decidiu ordenar exercícios nucleares “num futuro próximo”.

 

Onde terão lugar esses exercícios?

Sem que se saiba em concreto qual será o local dos exercícios, o Kremlin indicou que terão lugar perto do território ucraniano. O Ministério da Defesa da Rússia descreve as operações como um teste à prontidão das forças nucleares não estratégicas para realizar missões de combate, como práticas de preparação e implantação.

 

Quer dizer que a opção nuclear volta a estar na órbita do Kremlin?

O que quer dizer é que a opção nuclear continua na órbita do Kremlin. Poucos meses depois do início da invasão da Ucrânia, a Rússia preocupou-se em explicar ao Ocidente que as armas nucleares não estratégicas podiam chegar ao terreno de combate – tendo mesmo explicado que essa opção resulta da própria Constituição. Nesse texto, pode ler-se que o nuclear será usado se e quando a integridade da nação russo for colocada em causa. As declarações de Macron são facilmente ‘encaixáveis’ nesse domínio. A Rússia tem aquele que alguns observadores consideram ser o maior arsenal de armas nucleares do mundo e estes testes, de acordo com o Ministério da Defesa russo, visam garantir a integridade territorial e a soberania do Estado.

 

Macron é o único ‘culpado’?

Não, a acreditar no porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, que citou os comentários do presidente francês sobre o possível envio de soldados para a Ucrânia, mas também declarações dos representantes do Senado dos Estados Unidos e da Câmara dos Comuns britânica para justificar a decisão. Os militares e outros serviços especiais estão a investigar relatos sobre o envio de soldados da legião estrangeira francesa para a Ucrânia, acrescentou ainda Peskov.

 

A Rússia quer isolar-se da Europa?

Todas estas movimentações apontam para isso, mas este fim-de-semana, em entrevista a um canal de televisão da Bósnia- Herzegovina, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, disse exatamente o contrário. O desejo da Europa de isolar a Rússia é um disparate, disse, acrescentando que as portas devem permanecer abertas. “Até agora, a Europa quer isolar-se da Rússia e isolar-nos. Essa vontade só demonstra a qualidade das decisões tomadas por políticos europeus. Mas as portas devem ser deixadas abertas”.

 

E a questão ucraniana?

Lavrov disse que “declarações de que estamos a rejeitar conversas” sobre a Ucrânia “são desonestas”. O ministro lembrou que a Rússia discutiu a iniciativa de paz chinesa, as ideias dos líderes africanos e a proposta do presidente brasileiro Lula da Silva. A segunda cimeira Rússia-África produziu um documento relevante que delineia ideias concretas na esfera humanitária, acrescentou. Mas o ministro enfatizou que a Rússia não participará nas reuniões sobre a Ucrânia que promovam a “fórmula de paz” do presidente ucraniano, Vladimir Zelensky.

 

Que reunião é essa?

Deverá realizar-se na Suíça a 15 e 16 de junho próximo, por iniciativa da presidente suíça, Viola Amherd. A diplomacia suíça diz que querem convidar a Rússia para a conferência, “mas está a mentir”, disse Lavrov. “Estamos abertos a conversações com base em realidades. Nem a Ucrânia nem o Ocidente estão prontos para negociações sérias sobre uma solução pacífica para a guerra, disse o ministro russo. “Até agora, não há com quem falar. Citei os exemplos das declarações dos líderes ucranianos, americanos e europeus, a elite política. Nenhum deles está pronto para uma conversa séria”, afirmou.

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