"Há indivíduos oportunistas que se fazem de terroristas e incendeiam casas para afugentar pessoas, para poderem roubar", referiu Vicente Chicote, numa cerimónia de promoção de agentes.

O caso mais recente aconteceu no domingo, no ataque a uma aldeia de Ancuabe, cuja população se colocou em debandada.

Alguns residentes ficaram para trás, para tentar descobrir os autores do ataque e agarraram o filho de uma família da aldeia, sendo que outros quatro foram também reconhecidos, mas fugiram.

"Não merecem que nos assustemos, nem um poucochinho", disse o comandante, admitindo um dia divulgar fotografias.

O caso foi escolhido para ilustrar a diversidade de ameaças que os agentes vão enfrentar em Cabo Delgado, exigindo mais rigor na atuação da polícia.

"Temos estado a testemunhar alguns atos de indisciplina que não são compatíveis com o comportamento da Polícia da República de Moçambique", referiu, pedindo um "novo dinamismo".

Já em junho, a ministra do Interior, Arsénia Massingue, criticou a atuação de vários agentes, denunciando que alguns informam o inimigo, ao listar um conjunto de "desvios" que quer ver erradicados da corporação.

As declarações surgem numa altura em que a ofensiva militar junto à área destinada aos projetos de gás tem empurrado grupos armados para o sul da província.

Fonte residente na aldeia de Chachacha, distrito de Meluco, relatou hoje que no domingo foram descobertos três corpos com sinais de violência junto ao rio Messalo.

Quatro dias antes, os moradores descobriram no meio do mato o corpo de uma idosa que aparentemente terá morrido de fome enquanto se escondia dos ataques.

Fonte das forças locais relatou uma emboscada feita pelas milícias contra um grupo armada, na sexta-feira, mais a norte, na aldeia de Nova Família, distrito de Muidumbe.

Na operação, dois supostos rebeldes foram abatidos e sepultados, sem serem reconhecidos pela população.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano por forças do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas levando a uma nova onda de ataques noutras áreas, mais perto de Pemba, capital provincial.

Há cerca de 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

Estima-se que metade da população afetada sejam crianças e jovens até aos 20 anos, reflexo da pirâmide etária do país.

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