"Eu espero que tudo seja resolvido na primeira volta e estamos a trabalhar para isso, para que estas eleições sejam resolvidas na primeira volta, em condições normais. E mesmo em condições anormais iremos fazer tudo para ganhar estas eleições", afirmou José Maria Neves, 61 anos, antigo primeiro-ministro de Cabo Verde (2001 a 2016) e apoiado pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição), que liderou e do qual é militante há cerca de 40 anos.

"Eu gostaria de pedir que houvesse algum distanciamento do Governo, a imparcialidade dos órgãos de soberania, a não utilização dos recursos do Estado para a campanha eleitoral. E seriam condições anormais se o Governo entrasse, enquanto Governo, os ministros, os recursos do Estado, a manipulação de dados disponíveis pelo Estado, a censura à imprensa, o medo. Seriam condições anormais. Mas mesmo assim nós estaríamos a fazer tudo para ganhar, se isso acontecesse", afirmou o candidato.

Estas críticas, repetidas por José Maria Neves nos últimos dias, mereceram entretanto resposta do Governo, através da ministra da Justiça, Joana Rosa.

"O Governo está estupefacto com a postura do candidato presidencial e acha estranho este comportamento, de quem já exerceu altas funções no Estado e que tem a obrigação de ser mais pedagógico, respeitar as instituições democráticas e não escolher o Governo com adversário", disse a governante, negando as acusações.

Pela frente, na votação de outubro, José Maria Neves terá como principal adversário o também antigo primeiro-ministro Carlos Veiga (de 1991 a 2000), que já conta com o apoio oficial à candidatura, anunciada igualmente em março, do Movimento para a Democracia (MpD, poder), partido que fundou e também liderou.

"É fundamental votar num Presidente que une, que cuida, que protege, que aconselha, que sugere, mas também que é um árbitro imparcial da fiscalização governamental, que pode apaziguar os conflitos. Um Presidente que, respeitando as diferenças, respeitando o pluralismo da democracia, trabalha todos os dias para que haja, em cooperação estratégica com o Governo, mais economia, mais emprego, menos pobreza e menos desigualdade em Cabo Verde", afirmou José Maria Neves, prometendo, caso seja eleito, ser um Presidente "presente e atuante".

O candidato comprometeu-se ainda a trabalhar "com todas as sensibilidades políticas e sociais para que Cabo Verde possa ganhar o futuro".

A campanha eleitoral para as eleições presidenciais em Cabo Verde arranca na quinta-feira e José Maria Neves, que já visitou em pré-campanha as principais comunidades cabo-verdianas na diáspora, na Europa, América e África, promete ir "a todas as ilhas".

O candidato referiu a importância de "respeitar as regras sanitárias e fazer uma campanha muito leve, com grande abertura, com grande liberdade de espírito".

"Uma campanha elevada, de discussão de ideias, não vamos perder o foco, não vamos entrar em questiúnculas, em bate boca com os adversários, mesmo que façam isso. Vamos manter uma campanha muito elevada, voltada para discussão de ideias para apresentação de propostas concretas aos cabo-verdianos e, portanto, construtiva. Muito alegre também, é por isso que escolhemos a cor branca para esta campanha: simboliza a paz amizade e alegria", concluiu.

Cabo Verde realiza eleições presidenciais em 17 de outubro de 2021, às quais já não concorre Jorge Carlos Fonseca, que cumpre o segundo e último mandato como Presidente da República.

O Tribunal Constitucional anunciou em 24 de agosto que admitiu as candidaturas a estas eleições de José Maria Pereira Neves, Carlos Veiga, Fernando Rocha Delgado, Gilson Alves, Hélio Sanches, Joaquim Jaime Monteiro e Casimiro de Pina.

Esta é a primeira vez que Cabo Verde regista sete candidatos oficiais a Presidente da República em eleições diretas, depois de até agora o máximo ter sido quatro, em 2001 e 2011.

A campanha eleitoral decorre entre as 00:00 de 30 de setembro e as 23:59 de 15 de outubro e em caso de uma segunda volta, vai acontecer em 31 do mesmo mês.

De acordo com a Constituição de Cabo Verde, o Presidente da República é eleito por sufrágio universal e direto pelos cidadãos eleitores recenseados no território nacional e no estrangeiro.

Só pode ser eleito Presidente da República o cidadão "cabo-verdiano de origem, que não possua outra nacionalidade", maior de 35 anos à data da candidatura e que, nos três anos "imediatamente anteriores àquela data tenha tido residência permanente no território nacional".

Cabo Verde já teve quatro Presidentes da República desde a independência de Portugal em 1975, sendo o primeiro o já falecido Aristides Pereira (1975 - 1991) e por eleição indireta, seguido do também já falecido António Mascarenhas Monteiro (1991 -- 2001), o primeiro por eleição direta, em 2001 foi eleito Pedro Pires e 10 anos depois Jorge Carlos Fonseca.

As últimas presidenciais em Cabo Verde, que reconduziram o constitucionalista Jorge Carlos Fonseca como Presidente da República, realizaram-se em 02 de outubro de 2016 (eleição à primeira volta, com 74% dos votos).

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