Simione Jaime Mahumane, 49 anos, levantou um cheque de mais de 872 mil meticais (mais de 11 mil euros) emitido pela MMoçambique Construções a mando de um dos gerentes da casa de câmbios.

"Sim, reconheço o cheque", afirmou Mahumane, quando confrontado com uma cópia do documento constante dos autos, referindo que entregou o dinheiro ao patrão.

Outro esfafeta, o arguido Naimo José Quimbine, 42 anos, declarou que levou ao banco 11 cheques num valor superior a 5,6 milhões de meticais (mais de 74 mil euros) que lhe foram entregues pelo arguido Khessaujee Pulchand, caixa da casa de câmbios.

Quimbine disse que entregou a Pulchand todo o dinheiro que resultou do desconto dos cheques.

O caixa da casa de câmbios admitiu na quarta-feira em tribunal que abriu uma conta bancária usada para depósitos de mais de 359 milhões de meticais (4,8 milhões de euros) suspeitos de terem origem no dinheiro das chamadas 'dívidas ocultas'.

Khessaujee Pulchand disse ao tribunal que abriu a conta em 2004 por ordens da entidade patronal da casa de câmbios onde trabalhava em Maputo, mas que só se limitava a assinar cheques com pagamentos ordenados pela empresa.

"Nós não tínhamos conhecimento [dos movimentos nas contas dos trabalhadores]. A caderneta de cheques ficava com a gerência, a mim só me mandavam preencher os cheques, assinava e entregava e qualquer um podia ir levantar", declarou.

Questionado pelo tribunal se os 11 cheques através dos quais levantou dinheiro foram emitidos pela MMoçambique Construções, empresa acusada de receber dinheiro das 'dívidas ocultas', Naimo José Quimbine disse que nunca prestava atenção a esses pormenores, porque se limitava a cumprir ordens.

"Eu estava a trabalhar, estava a exercer o meu trabalho e quando recebi os cheques, levantei o dinheiro e entreguei a Khessaujee", declarou.

O Ministério Público acusa o dono da MMoçambique Construções, Fabião Salvador Mabunda, de ter recebido 8,9 milhões de dólares (7,6 milhões de euros) da Privinvest, empresa de estaleiros navais acusada de pagamento de subornos alimentados pelas 'dívidas ocultas' e repassado o dinheiro para a arguida Ângela Leão, mulher do antigo diretor do Serviço de Informações e Segurança do Estado (SISE) e também arguido Gregório Leão.

Interrogado sobre se tem provas de ter devolvido o dinheiro, ou pelo menos parte, ao seu colega de caixa, Quimbine respondeu negativamente, alegando que não era hábito na casa de câmbios assinar documentos comprovativos da entrega de valores monetários levantados dos cheques emitidos pelas empresas.

Kessuajee Pulchand entregava vários cheques para levantamento por ordens da gerência da casa de câmbios, afirmou Naimo José Quimbine.

O Ministério Público moçambicano acusa os dois estafetas de branqueamento de capitais, depois de o Tribunal Supremo ter feito cair a imputação de associação para delinquir.

A justiça moçambicana acusa os 19 arguidos do processo principal das 'dívidas ocultas' de se terem associado em "quadrilha" e delapidado o Estado moçambicano em 2,7 mil milhões de dólares (2,28 mil milhões de euros) - valor apontado pela procuradoria e superior aos 2,2 milhões de dólares até agora conhecidos no caso - angariados junto de bancos internacionais através de garantias prestadas pelo Governo.

As 'dívidas ocultas' foram contraídas entre 2013 e 2014 junto das filiais britânicas dos bancos de investimentos Credit Suisse e VTB pelas empresas estatais moçambicanas Proindicus, Ematum e MAM.

Os empréstimos foram secretamente avalizados pelo Governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), liderado pelo Presidente da República à época, Armando Guebuza, sem o conhecimento do parlamento e do Tribunal Administrativo.

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