Usman Ashga fez 9.445 quilómetros para chegar a Portugal. Podia ter demorado apenas algumas horas, mas demorou quase um ano a chegar ao destino. Mas Usman não tinha um visto, nem forma de o conseguir. Veio por desertos e montanhas, lagos e rios fundos, pagou a contrabandistas que não fizeram nada do que tinham prometido
Quando saiu de Sialkot, no extremo nordeste do Paquistão, tinha 16 anos. Não disse aos pais que ia tentar chegar à Europa, porque já lhes tinha falado desta intenção e eles tinham-lhe pedido sempre que não tentasse essa travessia perigosa. Vários rapazes da zona tinham morrido a tentar passar da Turquia para a Grécia de barco, a última parte da viagem para a maioria das pessoas.
Chegou a Portugal em 2019. Agora tem 22 anos e trabalha na construção civil. Não quis ser entrevistado mas encorajou-nos a sua história em português para que também nesta língua que agora tenta que seja a sua, as pessoas entendam as dificuldades de quem é obrigado a imigrar através de canais ilegais, porque as leis europeias não permitem outra.
Este testemunho, tal como os que vamos contar nos próximos episódios deste podcast, foi recolhido pelo projeto Diários de Migrantes, da Arquivo dos Diários, uma associação sem fins lucrativos que visa preservar memórias autobiográficas de todos os que desejem escrevê-las. A iniciativa foi financiada pelo Fundo Social Europeu e pelo Portugal2020. Quem estiver interessado pode saber mais na página do projeto, que continua a aceitar biografias e diários em texto, mas também em vídeo ou desenho.
Kiran, Usman, Salima, Willy e Filomena: cinco diários contam as vidas em trânsito de cinco pessoas que o destino trouxe até Portugal. Aqui ouvimos uma adaptação das páginas que elas escreveram, sobre o seu passado e a experiência migratória, e que a associação 'Arquivo dos Diários' partilhou com o Expresso. Ouça e subscreva em qualquer plataforma de podcasts: