Ainda assim, o coordenador da 'task-force' para a Prevenção e Mitigação da covid-19 do Centro Integrado de Gestão de Crise (CIGC), Rui Araújo, considerou que começa a haver sinais de alguma mudança na perceção sobre a vacina, com mais pessoas a procurarem a inoculação.

"Tem havido campanhas de desinformação sobre a presença da doença, do surto e da vacina. E concordo plenamente que a questão das vacinas não tem sido objeto de uma campanha de informação mais intensiva", disse Araújo, questionado pela Lusa sobre algumas dúvidas sobre a covid-19 em Timor-Leste durante um encontro 'online' com jornalistas.

"Há uma deficiência na questão da comunicação estratégica para todo o país. E os últimos meses têm sido muito tensos e conspurcados por aproveitamentos políticos e isso tudo reduz um pouco a eficácia das comunicações técnicas que normalmente se fazem", considerou.

Apesar disso, Araújo reconheceu existirem alguns sinais de mudança, especialmente no que toca à vacinação.

"Já nestes últimos dias, parece que há muita abertura para aceitação da vacina. Dos relatos que temos, as pessoas estão constantemente a ir aos centros de saúde perguntar quando podem ser vacinadas", explicou.

Nesse sentido, e quando se espera a chegada nas próximas semanas de mais doses da AstraZeneca, para já a única vacina a ser usada em Timor-Leste, Araújo considerou que se devem intensificar as campanhas e garantir que as vacinas não se desperdiçam.

"Não se podem desperdiçar coisas preciosas", afirmou, referindo que caso haja rejeição de pessoas visadas no atual calendário de vacinas, estas devem ser disponibilizadas a quem queira.

Rui Araújo falava aos jornalistas para dar conta dos últimos desenvolvimentos da pandemia da covid-19 em Timor-Leste, atualmente com taxas elevadas de incidência e de prevalência que sugerem a possibilidade de existirem mais de 25 mil pessoas infetadas em Díli.

Ao notar o grande aumento de casos desde o início de março e o crescente aumento de hospitalizações -- mais de 40 casos e quatro mortes devido à covid-19 --, Araújo disse que a capital é hoje "um viveiro da infeção".

"Ainda temos uma proteção reduzida e uma cobertura da vacina de apenas 2% e por isso é necessário manter os esforços para cumprir as medidas preventivas, enquanto procuramos reduzir a taxa de infetividade e aumentar a taxa de cobertura da vacina", alertou.

"O facto da maioria dos casos não se conseguirem detetar representa um grande risco para a saúde da nação. Por isso é importante controlar os positivos", salientou.

No atual momento, uma das questões que tem causado debate em Timor-Leste tem a ver com a classificação dos óbitos devido à covid-19.

Questionado sobre o critério aplicado, Rui Araújo disse que a determinação da causa da morte carece de uma autópsia, mas que do ponto de vista epidemiológico, a presença do vírus serve para adotar critérios, por exemplo, em termos de funerais.

"Há muito debate sobre se depois da morte o vírus se continua a replicar e as provas científicas dizem que sim. Por isso é sempre melhor jogar pelo seguro e processar o funeral tendo em conta a presença do vírus no corpo do falecido", sublinhou.

"Assim, do ponto de vista epidemiológico, são pessoas que morreram associadas a um surto, independente da causa orgânica da morte", já que "neste momento, não é possível saber quantos morreram por causa do covid-19", notou.

Por outro lado, o responsável do CIGC acrescentou ser positivo para a imunidade de grupo a juventude da maioria da população timorense e taxas de prevalência a indicar que a maior parte dos casos de covid-19 são assintomáticos.

Em contrapartida, Rui Araújo indicou que as autoridades de saúde estão a trabalhar em medidas de contingência para lidar com a questão do fornecimento de oxigénio.

"Há alguma lacuna nesta área, mas as equipas do Ministério da Saúde e do CIGC ligadas às questões da logística estão a trabalhar para ver outras alternativas de fornecimento, incluindo com o apoio de parceiros de desenvolvimento", disse.

"Por enquanto e se esta taxa de hospitalização se mantiver sem mais sobressaltos, vamos conseguir responder aos desafios existentes em termos de oxigénio", sublinhou.

Timor-Leste está a viver o pior momento da pandemia da covid-19, com máximos no número de casos ativos (1.255), mais de 40 hospitalizações e quatro óbitos.

Desde o início da pandemia, o país registou 2.524 casos.

Na última semana, a taxa de incidência foi de 5,9 casos por 100 mil habitantes em Timor-Leste e de 19,7 casos por 100 mil em Díli, ligeiramente abaixo da taxa de 20,7 casos por 100 mil habitantes registada na semana anterior.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.203.937 mortos no mundo, resultantes de mais de 152,7 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 16.977 pessoas dos 837.457 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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