Michelle Bachelet, de 70 anos, manteve hoje, por videoconferência, uma reunião com os chefes de delegações de cerca de 70 embaixadas estrangeiras na China, segundo adiantaram à agência France-Presse (AFP) fontes diplomáticas.

As mesmas fontes acrescentaram que Bachelet garantiu aos diplomatas que tinha negociado o acesso a centros de detenção e que poderá falar com ativistas locais de direitos humanos.

Desde 2018 que as Nações Unidas têm promovido duras negociações com as autoridades chinesas para obter um "acesso livre e significativo" a Xinjiang (noroeste da China).

Esta região foi atingida nos últimos anos por ataques, atribuídos a separatistas e islâmicos uigures pelas as autoridades chinesas, que em resposta desencadearam uma política de vigilância drástica, justificada como uma ação de antiterrorismo.

De acordo com organizações de defesa dos Direitos Humanos, pelo menos um milhão de uigures e membros de outras minorias de origem muçulmana estão ou foram enviados para campos de detenção em Xinjiang, e colocados sob vigilância apertada das autoridades.

Pequim contesta, dizendo que são centros de "formação e treino vocacional", destinados a afastá-los de movimentos terroristas e separatistas.

A visita de Bachelet, que tem a duração de seis dias, até sábado, é a primeira de um alto comissário da ONU para os Direitos Humanos desde 2005.

Uma das questões-chave é perceber se Bachelet poderá visitar os centros de detenção, mas também se poderá reunir-se com pessoas presas por reivindicações de maiores liberdades religiosas, políticas e culturais.

Segundo a agenda oficial, a diplomata deverá deslocar-se em particular a Urumqi, capital de Xinjiang, bem como a Kashgar, uma cidade no sul da região onde a população uigur é particularmente grande.

Bachelet vai reunir-se com "uma série de altos funcionários a nível nacional e local", "organizações da sociedade civil, representantes do mundo empresarial, bem como académicos", divulgou o seu gabinete.

No entanto, devido à pandemia de covid-19, a visita decorrerá em "circuito fechado", numa bolha sanitária, explicou aos 'media' Wang Wenbin, porta-voz da diplomacia chinesa.

Por esta razão, quer o Alto Comissariado, quer Pequim, decidiram em conjunto não incluir jornalistas na delegação, adiantou a mesma fonte.

Mas a visita da antiga presidente chilena está a ser acompanhada por perto, devido ao receio de que a China aproveite a ocasião para sacudir as acusações de que é alvo.

A organização de direitos humanos Chinese Human Rights Defenders (CHRD), com sede em Washington, alertou hoje que a visita de alto nível será "cuidadosamente gerida e coreografada" por Pequim.

"Tememos (...) que não tenha acesso livre às vítimas, testemunhas, membros independentes da sociedade civil" e que "os seus pontos de vista sejam distorcidos pelo governo chinês", sublinhou esta Organização Não Governamental (ONG).

A Amnistia Internacional salientou também hoje que durante a sua viagem Bachelet deve "lidar com crimes contra a humanidade e graves violações dos direitos humanos".

"A visita há muito adiada de Michelle Bachelet a Xinjiang é uma oportunidade crítica para abordar as violações de direitos humanos na região, mas também será uma batalha contínua contra os esforços do governo chinês para encobrir a verdade", realçou a secretária-geral da Amnistia Internacional, Agnes Callamard, em comunicado.

Os Estados Unidos, que acusam a China de "genocídio", já criticaram Bachelet pelo seu "silêncio persistente" diante as "atrocidades" e manifestaram "preocupação" com esta visita.

"Não esperamos que a República Popular da China garanta o acesso necessário para realizar uma avaliação completa e franca da situação dos direitos humanos em Xinjiang", sustentou Washington na semana passada.

A viagem de Bachelet ocorre antes da esperada divulgação de um relatório sobre a situação dos direitos humanos em Xinjiang, sendo que quase duas centenas de grupos de direitos humanos pediram à alta-comissária que divulgasse o trabalho há meses.

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